terça-feira, 6 de novembro de 2012

Perdi a confiança, diz Beth

Jairo Menezes
28.09.2012

Psicóloga, presidenta do Fórum de Transexuais de Goiás e primeira diretora do Conselho Estadual da Mulher (Conem) a ter sido transexual, Roberta Fernandes de Souza, ou Beth Fernandes, como é conhecida, hoje tem 45 anos. Ela revela ter feito resignação sexual no Hospital das Clínicas de Goiânia. A paciente teria feito oito cirurgias, segundo relatou em entrevista ao DM, mas depois de não terem sido feitas correções necessárias para que o órgão sexual tivesse um aspecto normal, desistiu do tratamento oferecido pelo Serviço Único de Saúde (SUS).

Conforme Beth, a primeira cirurgia que ela fez foi um “desastre da medicina”. Segundo a psicóloga, uma falha básica aconteceu no procedimento a que ela foi submetida. “Toda pessoa no primário sabe que uma das diferenças do esqueleto masculino e do esqueleto feminino é a pélvis – o osso da bacia. Na minha cirurgia, a vagina ficou colada na pélvis, e isso me causou um transtorno que não existe como mensurar”, relata.

“Eu fiz oito cirurgias para tentar corrigir a mudança de sexo feita de forma errada. Após muito tempo de tentativas e dando fé de que a equipe conseguiria um bom resultado, desisti e resolvi pagar o tratamento particular. Hoje, os meus médicos não são de Goiânia. Não que aqui não tenham bons profissionais, e os médicos do hospital em que eu fui tratada são ótimos, a questão é que a técnica usada não está dando certo, e eu perdi a confiança”, aponta a psicóloga Beth Fernandes, que diz ter sido “enxotada do hospital”.

Beth conta que essa é a luta de uma vida inteira dela e que precisa de mais cuidados. “Eu não poderia fazer cirurgias à revelia assim, tendo meu corpo usado por cientistas, como se eu fosse uma cobaia. Hoje, eu posso bancar um tratamento particular, mas existem muitas pessoas que não podem e estão lá, sujeitas a até 12 cirurgias, como eu conheço pessoas. Conheço pelo menos 20 mulheres que padecem com esses problemas”, constata.

“Acredito que no momento em que a equipe médica de Goiânia constatasse que existe algo errado na técnica realizada, deveria pelo menos tentar mudar onde existe a falha e transferir para onde tem dado certo com pessoas que foram operadas. Assim, todos estariam tranquilos e hoje não haveria esta desconfiança sobre o trabalho realizado na unidade”, aponta Beth Fernandes.

Disponível em <http://www.dm.com.br/#!/texto?id=68663>. Acesso em 04 nov 2012.

OBS: A reportagem está dividida em três partes. A primeira foi postada ontem e a terceira será postada amanhã.

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