Thais Sabino
20 de Setembro de 2013
Se um homem casado com uma mulher sentir, em algum momento
da vida, atração por um colega de trabalho, significa que ele é homossexual? E
se um homossexual assumido se ver de repente interessado no sexo oposto, ele
deixou de ser homossexual? Seriam, então, bissexuais? Estereotipar desta forma
é “complicado” e as respostas a todas as perguntas, segundo a psiquiatra e
coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da USP, Carmita Abdo, são
negativas. “Há quase um século, o pesquisador Alfred Kinsey descobriu que
heterossexuais e homossexuais exclusivamente ‘héteros’ ou ‘homos’ é um mito”,
justificou.
Kinsey criou uma escala com orientações intermediárias entre
os absolutamente heterossexuais e homossexuais com, por exemplo, os
interessados no sexo oposto, mas que esporadicamente sentem atração por pessoas
do mesmo sexo. A classificação soma sete diferentes condições, tendo como
centro a bissexualidade. Cada categoria varia de acordo com a frequência das
situações vividas pelos indivíduos. “Depende se foi um caso isolado, aconteceu
por curiosidade, se a pessoa estava alcoolizada, em um momento frágil, tudo é
relativo”, explicou a psiquiatra.
A novela Amor à Vida, exibida pela TV Globo, retrata dois
casos que podem servir como exemplos. O personagem Félix (Matheus Solano)
demorou a assumir a homossexualidade na trama, mas, mesmo depois de declarar o
gosto por homens, teve relações sexuais com a mulher de fachada Edith (Bárbara
Paz). O personagem Eron (Marcelo Antony), parceiro de Niko (Thiago Fragoso), já
caiu mais de uma vez nos braços da amiga do casal Amarilys (Danielle Winits).
“Não significa que por o homem estar atraído pela mulher mudou de homo para hétero”,
afirmou Carmita.
O homem homossexual pode sentir atração por uma mulher em
especial, pelas características de comportamento ou físicas dela, mesmo que o
sentimento não faça parte da orientação sexual dele, explicou a psiquiatra. Em
alguns casos, ela pode seduzi-lo e até conquistá-lo afetivamente, porém não
necessariamente ele se tornará heterossexual ou bi, acrescentou. É o que também
afirmou a estudante de fisioterapia Beatriz Barros, que mantém relacionamento
homoafetivo há quase dois anos: “se existisse um vínculo bem próximo, partindo
de uma amizade, por exemplo, uma pessoa homossexual se relacionaria com alguém
do sexo oposto”. Mas, não quer dizer que
a homossexualidade não está bem resolvida, reforçou Beatriz.
Tampouco dá para cravar que o indivíduo é bissexual por
causa disso. O que pode acontecer, segundo Carmita, é uma confusão durante a
formação da sexualidade. Psicóloga há 25 anos, Walnei Arenque, recebe casos em
seu consultório de “pacientes que tiveram a primeira relação com pessoas do
mesmo sexo e depois de terminarem se questionam se são héteros ou homos”. A
certeza, porém, só vem com o tempo e no período de descoberta podem ocorrer
equívocos. “No começo não tinha muita certeza do que eu queria, só depois que
fiquei com um menino percebi que era homo”, contou Beatriz.
Só é bissexual quando se tem frequentemente relações tanto
com homens como com mulheres em proporções semelhantes
Carmita Abdo psiquiatra e coordenadora do Programa de
Estudos em Sexualidade da USP
“Existem pessoas que vivem em momentos alternados. Ora estão
em relacionamento de longa data com alguém do outro sexo e, outra com um
indivíduo do mesmo sexo. Isso é mais frequente do que se imagina”, afirmou
Carmita. Apesar disso, socialmente a condição ainda não é aceita, afirmou
Walnei. Principalmente, quando se trata de um homem homossexual, que busca ter
também relacionamentos com mulheres, na opinião da psicóloga.
A bissexualidade, com registros de ocorrência desde a Grécia
Antiga, sofre preconceito tanto dos homossexuais como dos heterossexuais hoje
em dia, disse Walnei. Geralmente, a orientação sexual é vista como
"fase" ou "pretexto para sacanagens". “O bissexual ainda
não mostrou a sua cara e vai enfrentar uma batalha, assim como os homossexuais,
para serem aceitos na sociedade”, acrescentou a psicóloga. Segundo pesquisas da
psiquiatra Carmita, apenas 1% das mulheres e no máximo 2% dos homens assumem a
condição, contra cerca de 10% que se dizem homossexuais.
Disponível em
http://mulher.terra.com.br/comportamento/gay-pode-sentir-atracao-pelo-sexo-oposto-sem-ser-bissexual,994520e3a9d21410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html.
Acesso em 20 nov 2013.
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