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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Ele tentou provar que o gênero é uma construção social. E fracassou

Dale O’Leary
03 Jun 2013

Em 21 de dezembro de 2013, o Papa Bento XVI falou sobre os perigos de novas teorias de gênero. Enquanto a mídia focava em sua condenação da redefinição do casamento, a crítica de Bento XVI era mais abrangente, com foco na teoria de gênero em geral. Contrastando abordagens filosóficas cristãs com a teoria de gênero, ele assinalou:

"De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente."

Além disso, afirmou que quem promove teorias de gênero "nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um fato pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria". Em uma época que se orgulha da preocupação com a natureza, a natureza humana está sob ataque.
             
A redefinição de gênero começou na década de 50. No passado, a palavra "sexo", em inglês, se referia à totalidade do que significa ser um homem ou uma mulher, enquanto "gênero" era um termo gramatical. Algumas palavras têm gênero – masculino, feminino ou neutro. O inglês é uma língua extremamente "sem-gênero". Apenas os pronomes da terceira pessoa do singular e alguns substantivos têm gênero específico. Comparando isso com o italiano ou o hebraico, vemos que todos os substantivos, adjetivos, artigos e verbos na segunda e terceira pessoa do singular e plural são masculinos ou femininos.

Hoje, nos Estados Unidos, o governo e as formas comerciais, que costumavam perguntar o nosso sexo, agora perguntam qual é o nosso gênero. Ao ver isso, muitas pessoas assumiram que "gênero" é apenas um sinônimo de "sexo", e que "gênero" era uma maneira mais educada de dizer, já que "sexo" tem um significado secundário, ou seja, é uma forma abreviada de se referir à relação sexual. As pessoas não viram um problema nisso.

Mas aqueles que defendem o uso da palavra "gênero" não o fazem devido a um senso escrupuloso de decoro; para eles, "gênero" e "sexo" não são sinônimos. "Sexo" refere-se apenas à biologia, e "gênero" é o sexo com o qual uma pessoa se identifica, que pode ser o mesmo, ou diferente do seu sexo biológico.

A redefinição do "gênero" foi concebida por John Money, que estava na equipe da prestigiada Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, Maryland. Money não era um cientista objetivo, mas um "agente provocador da revolução sexual" que sentia prazer em chocar as pessoas pelo uso da vulgaridade e de fotografias obscenas. Ofereceu apoio ao movimento para normalizar as relações sexuais entre homens adultos e meninos. Ele desprezava a religião. E promoveu a ideia de que a identidade sexual pode ser dividida em suas partes constituintes – DNA, hormônios, órgãos sexuais internos e externos, características sexuais secundárias e identidade de gênero – o sexo com o qual a pessoa se identifica.

Não há nada de errado com perceber as partes que compõem o todo da nossa identidade sexual, mas Money estava interessado nas pessoas para as quais as partes pareciam estar em conflito: os que eram biologicamente de um sexo, mas se identificavam com o outro. Embora seja verdade que algumas pessoas queiram ser de outro sexo, e possam até acreditar que deveriam ter nascido com outro sexo, essas crenças não podem ser concebidas como sendo iguais à realidade de seu sexo biológico, mas reconhecidas como sintomas de um subjacente distúrbio psicológico.

Money centrou sua atenção em bebês nascidos com distúrbios do desenvolvimento sexual, por vezes referido como hermafroditas ou intersexuais. Em casos raros, o bebê nasce com uma condição congênita ou hereditária que faz com que seja difícil identificar seu verdadeiro sexo, ou com órgãos sexuais deformados. Os interessados em uma discussão sobre este problema podem ler um documento do Comitê Nacional de Bioética italiano, intitulado "Minor’s Sexual Differentation Disorders: Bioethical Aspects", que descreve os diversos distúrbios e opções de tratamento.

Money afirma que a identidade de gênero de uma criança foi formada não pela biologia, mas pela socialização, e que os geneticamente meninos com pênis deformados poderiam ser alterados cirurgicamente para se parecer com meninas e ser educados como meninas. Ele insistiu em que um menino aceitaria que ele era uma menina e, como adulto, seria capaz de se envolver em relações sexuais como uma mulher (uma grande prioridade para Money). Este protocolo foi amplamente aceito.

Em 1967, surgiu o caso perfeito para provar a teoria de Money de que a identidade de gênero é uma criação social. O pênis de um menino foi acidentalmente destruído durante uma circuncisão mal feita. Seus pais viram Money ser entrevistado na televisão, falando sobre crianças com distúrbios do desenvolvimento sexual, e pediram sua ajuda. Ele propôs que o menino fosse castrado e educado como uma menina. Money garantiu aos pais que o menino aceitaria plenamente esta transição, se os pais fossem consistentes em sua educação como menina. Como o menino tinha um irmão gêmeo idêntico, que serviria como um controle, o caso seria uma prova conclusiva da teoria de Money de que a identidade de gênero é construída socialmente. Money falou sobre isso e publicou relatórios do caso, garantindo a todos que o experimento foi um sucesso total.

Conforme os anos foram passando, aqueles que estavam interessados no caso se perguntaram como as coisas tinham evoluído. Será que este menino criado como menina amadureceu normalmente? Money foi evasivo e disse que, embora a criança tinha sido totalmente ajustada para ser uma menina, ele tinha perdido o contato com a família. O Dr. Milton Diamond, que estudou o efeito dos hormônios pré-natais sobre o cérebro em animais, não estava satisfeito. Depois de alguns anos, ele rastreou a família e descobriu que Money tinha distorcido totalmente os resultados de seu experimento.

O menino nunca aceitou que era uma menina. Ele só não sabia o que estava errado com ele. Ele e seu irmão foram forçados a fazer visitas anuais ao Dr. Money, durante as quais eram submetidos ao que seria considerado como abuso psicológico. Money insistiu em que o menino se submetesse a uma cirurgia para criar uma vagina, mas o menino se recusou e ameaçou suicídio se fosse levado de volta para ver Money. Finalmente, um terapeuta local, trabalhando com o garoto que hoje tem 14 anos de idade, incentivou a família para que contasse a verdade ao rapaz. No minuto em que soube que nasceu menino, ele quis viver de acordo com sua identidade real. Money não tinha perdido o contato com a família: ele sabia que sua experiência tinha falhado, mas não quis reconhecer isso.

Em 2006, um livro escrito por John Colapinto ("As Nature Made Him") expôs Money como uma fraude. Além disso, muitas das crianças que nasceram com distúrbios do desenvolvimento sexual e que foram cirurgicamente alteradas de acordo com protocolos de Money agora são adultos e protestam contra o que foi feito com elas. Muitos fizeram uma cirurgia de reversão para o seu sexo de nascimento. E exigiram que essa cirurgia seja proibida, para que as crianças com esses problemas possam descobrir sua própria identidade sexual.

Money também incentivou Johns Hopkins a oferecer cirurgias chamadas de "mudança de sexo", nas quais os homens que acreditavam que tinham o cérebro de uma mulher poderiam ser alterados cirurgicamente para se parecer com as mulheres. Quando o Dr. Paul McHugh assumiu o departamento de psiquiatria na Universidade Johns Hopkins, encomendou um estudo sobre o resultado destas supostas "mudança de sexo". Constatando que este tratamento radical não abordou a psicopatologia subjacente dos clientes, ele interrompeu a prática. E a classificou como "colaborar com a loucura". Infelizmente, outros hospitais continuaram realizando esta cirurgia mutiladora.


Disponível em http://www.aleteia.org/pt/saude/q&a/ele-tentou-provar-que-o-genero-e-uma-construcao-social-e-fracassou-1776002. Acesso em 10 jun 2013.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Transgenitalização: descubra como funciona o processo biológico e judicial da mudança de sexo

HAGAH
21/09/2012

A cirurgia para mudar fisicamente aqueles que já se consideram do sexo oposto é uma realidade cada vez mais presente na sociedade brasileira. Especialistas trabalham para que o processo, tanto no âmbito da medicina quanto no campo jurídico, torne-se rápido e eficaz. Porém, muitos ainda não sabem a quem recorrer para realizar o desejo de ter um corpo que corresponda à mente.

A Presidente da Comissão Especial de Diversidade Sexual da OAB/RS, Marta Cauduro Oppermann, afirma que, no âmbito judicial, o primeiro passo para se conseguir mudar de gênero judicialmente é entrar, com o auxílio de um advogado, com uma ação de alteração de registro civil, através da Vara de Registro Civil.

Quando a cirurgia de redesignação sexual já foi realizada, a alteração de nome e gênero em documentos oficiais é feita de forma simples. Basta apresentar laudos médicos que comprovem a mudança física. No entanto, Marta lembra que os problemas acontecem quando a pessoa não se submete à chamada cirurgia de transgenitalização. Apesar de já se ter conhecimento de alguns casos de sucesso em nível nacional, o processo é bem mais complicado. "O nome continua a ser alterado facilmente, contudo, o gênero não", relata.

Para o Desembargador Luiz Felipe Brasil Santos, a principal alegação, neste caso, é o fato de que a identificação documental do indivíduo não corresponderia às características morfológicas do mesmo. Esta situação é entendida como uma afronta à segurança jurídica da pessoa em questão.

De acordo com Marta, quem sofre mais com o processo são os transexuais masculinos, ou seja, mulheres que desejam parecer-se fisicamente com homens. Como a cirurgia de transgenitalização de feminino para masculino ainda é considerada de caráter experimental, as chances de êxito são reduzidas. "A pessoa tem que se submeter a uma cirurgia que está fadada ao fracasso para conseguir a alteração do sexo em registro", protesta.

E com a possibilidade de alteração de nome, mas não de gênero, ações simples, como abrir uma conta em um banco, tornam-se um empecilho. Este tipo de transtorno faz com que muitos transexuais escondam-se, busquem o anonimato e o isolamento social.

No campo da medicina, o processo é mais longo e doloroso. O médico coordenador do Programa de Transtorno de Identidade de Gênero (PROTIG) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Walter Koff, explica que uma resolução do Conselho Federal de Medicina obriga que o paciente passe por uma equipe multiciplinar e que seja acompanhado por especialistas pelo tempo mínimo de dois anos, antes de se submeter à cirurgia. Entre os profissionais, estão psiquiatras, psicólogos, urologistas, ginecologistas, endocrinologistas, cirurgiões plásticos, mastologistas, fonoaudiologistas, otorrinolaringologistas, uma equipe de enfermagem, assistentes sociais e uma equipe ética e jurídica.

No caso de homens que querem transformar-se em mulheres, apenas uma cirurgia de retirada do pênis e construção de um canal vaginal basta. Já no caso de mulheres que desejam virar homens, a situação é mais complicada. São necessárias cerca de cinco cirurgias para que o procedimento esteja completo.

A primeira intervenção é a de retirada das mamas. Depois, em uma segunda cirurgia, são retirados o útero, as trompas, os ovários e toda a estrutura do canal vaginal. Na terceira operação, é confeccionado o pênis no antebraço, do qual é aproveitada a pele. Depois de alguns meses, é realizada a quarta cirurgia, quando se transporta o pênis construído para o local devido. Por fim, a quinta e última cirurgia é a de colocação de próteses penianas e escrotais.

A cabeleireira Cristyane Oliveira foi uma das pioneiras a buscar pelo procedimento em Porto Alegre. Apesar de o procedimento ser permitido no país desde 1997, ela realizou a cirurgia somente em 2002, depois de dois anos e meio de espera. E os últimos seis meses foram gastos na tentativa de negociação para poder fazer a operação pelo SUS. Mas ela não conseguiu. "Como o procedimento era considerado de caráter experimental e, até hoje, só pode ser realizado em hospitais universitários, a minha cirurgia foi custeada pelo fundo de pesquisas do Estado", lembra.

Cristyane chegou a fazer duas cirurgias, sendo a última apenas um procedimento estético para retoques. Quanto à dor e a sensibilidade, a cabeleireira comenta que isto varia de pessoa para pessoa e que só perdeu o tato em um dos mamilos, depois da colocação da prótese de silicone.


Disponível em http://www.hagah.com.br/especial/rs/qualidade-de-vida-rs/19,0,3893046,Transgenitalizacao-descubra-como-funciona-o-processo-biologico-e-judicial-da-mudanca-de-sexo.html. Acesso em 10 jun 2013.

sábado, 8 de junho de 2013

'Transexualidade deve ser vista como característica', diz psicólogo

G1
15/10/2011

“A transexualidade não pode ter existido antes do século 19”. A afirmação é do psicólogo Rafael Cossi, autor do livro Corpo em Obra. Transexual é a pessoa que biologicamente pertence a um sexo, mas se identifica com o gênero que não corresponde a ele.

“Foi só no Século 19 que surgiu a ideia de que masculino e feminino são radicalmente opostos e tem que haver uma correspondência entre corpo e gênero”, aponta Cossi. Segundo o pesquisador, não havia essa relação antes, e a identidade de gênero não precisaria acompanhar o sexo da pessoa. “Isso [a identificação por gênero] é totalmente uma construção social”, acredita.

Cossi conta que, desde então, a psicanálise tenta definir o que leva uma pessoa a se identificar com um gênero que seria oposto. Ele diz que uma das linhas de pensamento vê a transexualidade como uma forma de psicose, quadro que inclui alucinações e delírios.
“Isso não é necessariamente um delírio”, diz o psicólogo. “Não dá para reduzir a transexualidade à psicose”. Para ele, a transexualidade tem que ser vista simplesmente como uma característica.

“Eu acredito que, assim, essas pessoas vão ter mais liberdade, com menos preconceito, viver melhor”, diz o pesquisador.

O livro Corpo em Obra foi baseado na dissertação de mestrado de Cossi no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP). No trabalho, o autor analisou seis biografias de transexuais.


Disponível em http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/10/transexualidade-deve-ser-vista-como-caracteristica-diz-psicologo.html. Acesso em 04 jun 2013.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O clitóris interno

Lasciva 
02 de maio de 2012

Reflita: Em mais de cinco milhões de anos de evolução humana, apenas um órgão passou a existir com o único propósito de proporcionar prazer – o clitóris. Não é necessário para reprodução. Nem é como o pênis, através do qual passa a uretra, usado também para urinar. Sua única função – a sua finalidade singular – é fazer a mulher se sentir bem!

Infelizmente, é justamente porque o clitóris não tem nenhuma função além do prazer feminino que a ciência tem negligenciado estudá-lo tão detalhadamente quanto o órgão masculino. Demorou séculos até que a ciência alcançasse uma descoberta pertinente: o verdadeiro tamanho e anatomia do clitóris.

Pergunte à próxima pessoa que encontrar onde está localizado o clitóris. Provavelmente, a maioria das respostas vai ser algo como: “É aquele pequeno bulbo na ponta dos pequenos lábios”, ou “É o botão sob o capô”. Embora essas respostas não estejam exatamente erradas, a verdade é que a maior parte do clitóris está, de fato, no interior da pelve – ou seja, é muito mais interna do que externa. Mesmo mulheres bem informadas sobre seus próprios corpos, reagem com uma mistura de fascinação e confusão quando descobrem que seu clitóris se estende profundamente por dentro delas.

O nome científico para o “pequeno botão” externo ou “bulbo” é glande. Não deve ser confundido com glândula. Glande simplesmente se refere a uma pequena massa circular. Essa estrutura reduzida contém cerca de 8.000 fibras nervosas sensoriais – mais do que em qualquer outra parte do corpo humano e quase o dobro da quantidade encontrada na cabeça de um pênis! Equivocadamente, estudiosos pensavam que o clitóris era completamente composto da glande; e porque ele é super sensível e tudo que qualquer um pode ver do órgão, sua confusão é traduzida pela maioria das mulheres hoje em dia. O fato é que, no entanto, a maior parte do clitóris é subterrâneo. Consiste em dois corpos cavernosos (corpus cavernosum, quando se refere à estrutura como um todo), duas cruras (crus, quando se refere à estrutura como um todo), e os portais clitorianos ou bulbos.

A glande está ligada ao corpo ou eixo do clitóris interno, o qual é constituído por dois corpos cavernosos. Quando eretos, os corpos cavernosos envolvem a vagina de lado a lado, ao redor dela, como se dessem um grande abraço!

O corpo cavernoso também se estende além, bifurcando-se novamente para formar as duas cruras. Essas duas pernas estendem-se em até 9 centímetros; apontando para as coxas, quando em repouso, e voltando-se em direção à coluna quando clitóris fica ereto. Para visualizá-los em repouso, imagine a crura como o osso externo da galinha (conhecido popularmente como wishbone), juntando-se ao corpo do clitóris onde se fixam à cartilagem do púbis.

Próximo a cada uma das cruras, em ambos os lados da abertura vaginal, estão os portais do clitóris. Esses ficam localizados sob a grandes lábios, internamente. Quando se enchem de sangue, eles de fato ”algemam” a abertura vaginal, causando a expansão da vulva. Ao excitar esses pequeninos, você terá uma entrada vaginal sedenta, mais apertada e sensível para explorar!

O que significa tudo isso? Bem, para começar, podemos finalmente concluir o velho debate acerca de orgasmos vaginais vs. clitorianos.

Em 1953, Kinsey escreveu: “As paredes da vagina são muito insensíveis, na grande maioria das mulheres (…) Não há evidência de que a vagina é sempre a única fonte de excitação, ou mesmo a principal fonte de excitação erótica em qualquer mulher.”

Então, em 1970, Germaine Greer publicou O Eunuco Feminino, que zombou teoria de Kinsey. Ela escreveu: “É absurdo dizer que uma mulher não sente nada quando um homem está movendo seu pênis dentro da vagina. O orgasmo é qualitativamente diferente quando a vagina está preenchida por um pênis, em vez de vaga”.

Curiosamente, ambos estão certos. A vagina não é a única fonte de excitação, apesar de ser possível estimular o clitóris interno perfeitamente com a manipulação, deslocamento, e exploração da vagina com um pênis ou outro aparato.

Muitas mulheres podem chegar ao orgasmo sem nunca inserir nada dentro de si mesmas. Eles causam a ereção do clitóris interno estimulando a glande, bulbos e cruras, com o contato externo. O corpo cavernoso é o tecido erétil adicional que abrange a vagina, uma área altamente erógena quando estimulada internamente.

Vale lembrar que o orgasmo feminino não acontece apenas no clitóris e na vagina. É muito mais complexo e envolve também o funcionamento de múltiplos nervos, tecidos, músculos, reflexos e esforço mental. Algumas mulheres conseguem chegar ao orgasmo com o pensamento. Outras têm orgasmo simplesmente flexionando seus músculos pélvicos. Há muitas variáveis e componentes envolvidos, é extremamente importante lembrar que não existem duas pessoas iguais. O que funciona para uma mulher pode não funcionar para outra. Em outras palavras, tudo é personalizado sob o capô.

O que realmente assusta é a grande quantidade de desinformação que existe em livros didáticos, guias profissionais médicos, e na internet. O fato triste é que apenas a partir da década de 1990 os pesquisadores começaram a usar ressonância magnética para estudar a estrutura interna do clitóris. Até então, os detalhes intrínsecos do pênis já eram bem conhecidos.

A urologista Helen O’Connell, do Hospital Royal Melbourne, começou a entender melhor o constituição nervosa microscópica do clitóris usando ressonância magnética – algo que já havia sido feito em relação à função sexual dos homens nos anos 1970. Em 1998, ela publicou suas descobertas, informando ao mundo médico do verdadeiro alcance e tamanho do clitóris. No entanto, ironicamente, no mesmo ano, começavam a surgir na América o Viagra, para curar a disfunção eréctil masculina.

Em 2005, a Associação Americana de Urologia publicou um dos relatórios do Dr. O’Connell sobre a anatomia do clitóris. O próprio relatório ainda afirma: “A anatomia do clitóris não tem sido estável ao longo do tempo, como seria esperado. A maior extensão o seu estudo tem sido dominada por fatores sociais. (…) Alguns livros de anatomia recentes omitem a descrição do clitóris. Em comparação, há algumas páginas dedicadas à anatomia do pênis”. O relatório também explica como é aparentemente impossível entender a estrutura interna do clitóris com apenas um diagrama. Vários desenhos são necessários para realmente obter uma compreensão abrangente do mesmo.

Infelizmente, apenas recentemente em 2009, os pesquisadores franceses Dra. Odile Buisson e Dr. Pierre Foldes deram ao mundo da medicina a primeira e completa ultra-sonografia 3D do clitóris ereto. Eles fizeram esse trabalho durante três anos, sem financiamento adequado. Graças a eles, agora entendemos como o tecido eréctil do clitóris se enche, envolvendo a vagina – um avanço que explica como o que era considerado orgasmo vaginal é, na realidade, um orgasmo clitoriano interno.

Dr. Foldes realizou cirurgias em mulheres que sofreram mutilação clitoriana, restaurando o prazer de mais de 3.000 pacientes circuncidadas. Ele também fica assombrado com a falta de estudo em relação ao clitóris:

“Quando voltei para a França para tratar a mutilação genital, fiquei espantado que ninguém nunca havia sequer tentado. A literatura médica nos diz a verdade sobre o nosso desprezo pelas mulheres. Durante três séculos, há milhares de referências a cirurgia peniana, nada sobre o clitóris, exceto para alguns tipos de câncer ou dermatologia e nada para restaurar a sua sensibilidade. A própria existência de um órgão de prazer é negado, medicamente. Hoje, se você olhar para os livros de anatomia que todos os cirurgiões possuem, você vai encontrar duas páginas acima. Existe uma excisão intelectual real”.

Então, agora você sabe. Como se toda a repressão, as influências culturais, a culpa, as impressões da infância e os medos impostos pela sociedade não bastassem, temos também as políticas medicinais que nos mantêm no escuro. A grande notícia é que pesquisadores como o Dr. Buisson, Foldes Dr. e Dr. O’Connell estão pavimentando o caminho para um maior conhecimento … e maior prazer!

Disponível em <http://sweetlicious.net/gerais/o-clitoris-interno-21383>. Acesso em 07 set 2012.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Dualismos em duelo

Anne Fausto-Sterling
Cadernos Pagu (17/18) 2001/02: pp.9-79.

Resumo: Os modos europeus e norte-americanos de entender como funciona o mundo dependem em grande parte do uso de dualismos – pares de conceitos, objetos ou sistemas de crenças opostos. Este ensaio enquadra especialmente três deles: sexo/gênero, natureza/criação e real/construído. Embora este texto verse sobre gênero, discuto regularmente o modo como as idéias de raça e gênero surgem a partir de supostos subjacentes sobre a natureza física do corpo. Entender como operam raça e gênero – em conjunto e independentemente – nos ajuda a compreender melhor como o social se torna corporificado.



quinta-feira, 10 de maio de 2012

A cirurgia de mudança de sexo muda o sexo?

O Povo Online
05/04/2012 - 01h30

SIM - Desde os relatos míticos até as teorias da pós-modernidade, há tentativas de responder a dúvida que reside no cerne da natureza humana: por que existe a divisão entre homem e mulher? As mais diferenciadas culturas de maneira direta ou indireta apresentam regras de conduta com vistas a “construir” homens e mulheres exemplares, uma espécie de parceria entre a natureza e a cultura. Assim tanto o masculino quanto o feminino não nascem de uma suposta “realidade natural”, mas são construções culturais. Dito em outras palavras, o sexo e o gênero configuram um universo de temas relativos à problemática da diferença sexual seja como um dado físico/biológico ou social/cultural.

O sexo tem sido relegado ao campo da biologia, ou supostamente como assunto próprio da natureza intrínseca da imutabilidade humana, enquanto que o gênero é o termo utilizado para “desnaturalizar” o sexo e colocá-lo no campo da construção cultural, indicando o caráter social das diferenças entre os sexos.

Tratar do problema sexo/gênero traz possibilidades reflexivas, em especial para indicar normas que se impõem para machos e fêmeas para torná-los homens e mulheres e, ao mesmo tempo, fazê-los desempenhar seus papéis sexuais sem transgressões. O que temos de positivo é a possibilidade de demonstrar o entrelaçamento entre as formas da diferenciação social construídas historicamente, assim como as definições de feminino e masculino.

Desde que S. de Beauvouir chamou a atenção para o fato de que não nascemos mulheres ou homens, mas nos tornamos, abriram-se possibilidades para o debate sobre a construção sociocultural da identidade sexual e suas representações simbólicas. Os sexos passam a ser percebidos e analisados em suas relações e interações evidenciando os sujeitos em sua influência recíproca em meio a modelos de feminilidade, masculinidade e virilidade, que não estejam ancorados na perspectiva da naturalidade do sexo biológico, porque também ele pode ser construído culturalmente.
"O sexo biológico também pode ser construído culturalmente"
Sílvia Siqueira
Doutora em História e professora do mestrado em História da Uece

NÃO - A cirurgia de transgenitalização adequa a genitália ao sexo (gênero) da pessoa. O desenvolvimento psicossexual pode ser dividido em identidade de gênero, papel de gênero e orientação sexual. Identidade de gênero é definida como a percepção e a autoconsciência de um indivíduo de ser homem ou mulher.

A identidade sexual (identidade de gênero) desenvolve-se nos primeiros anos de vida e, ao estabelecer-se em torno dos três anos de idade, é extremamente resistente a mudanças.

A Organização Mundial da Saúde define o transexualismo (transtorno de identidade de gênero) como: “um desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto, acompanhado em geral de um sentimento de mal-estar ou de inadaptação por referência a seu próprio sexo anatômico e do desejo de submeter-se a uma intervenção cirúrgica ou a tratamento hormonal para tornar seu corpo tão conforme quanto possível ao sexo desejado”.

Trata-se de doença, definida no CID 10 da OMS, geradora de sofrimento, com índice de suicídio alto, de tratamento multidisciplinar e complexo que se baseia no seguinte tripé: psicoterapia de no mínimo dois anos, tratamento hormonal e cirurgia de transgenitalização.

A cirurgia de transgenitalização comporta dois aspectos em relação às questões legais. O primeiro, a autorização para realização da cirurgia; o segundo, a compatibilização do prenome e outros aspectos cíveis ao novo gênero. A inexistência de via administrativa, judicial ou legislativa para mudança do prenome após a cirurgia leva a que estes procedimentos sejam retificados na vara dos Registros Públicos ou na Vara da Família.

Vem a Justiça decidindo favoravelmente, sendo a alteração do prenome como do “sexo” autorizados com o argumento de que “nada mais humano e justo do que se agrupar a pessoa no gênero sexual que melhor se identifique como vive e acredita”. Portanto a cirurgia adapta o sexo genital à identidade sexual e é parte de um longo e difícil tratamento.
   
"A cirurgia de mudança de sexo é parte de um longo e difícil tratamento"
Paulo Henrique de Moura Reis
Urologista do Hospital Universitário da Universidade Federal do Ceará

Disponível em <http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/confrontodasideias/2012/04/05/notconfrontoideias,2815065/a-cirurgia-de-mudanca-de-sexo-muda-o-sexo.shtml>. Acesso em 05 mai 2012.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Transexual e a biologia

Geovana Ivaniski 


Descobertas científicas e uma onda de lançamentos literários tratam essa desarmonia que se considera a transexualidade ou transexualismo, como um problema médico, que nada tem a ver com preferências sexuais (opção sexual). Para a ciência, a causa da patologia é uma divergência trágica entre a programação sexual do cérebro e o formato dos genitais, um problema que ocorre durante a gestação. Em meados de outubro, o cientista Eric Vilain, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, reafirmou a tese de que o sexo do embrião é determinado pelo cérebro - muito antes do desenvolvimento de testículos ou ovários. Num estudo com camundongos, verificou-se que alguns genes tramam a formação do cérebro feminino ou masculino antes que o corpo comece a ser banhado por hormônios de um sexo ou do outro. Um erro nessa troca de mensagens provoca o resultado perturbador: cabeça de mulher aprisionada em corpo de homem, ou vice-versa.

A descoberta vai ao encontro do estudo publicado pelo Instituto do Cérebro, na Holanda, em 1995. Depois de dissecar o encéfalo de seis transexuais nascidas com genitália masculina, os pesquisadores descobriram uma peculiaridade na região do cérebro que regula o comportamento de gênero. A área era menor que a dos homens e idêntica à das mulheres. Baseada nessas evidências, a medicina registrou o chamado transtorno de identidade sexual no Código Internacional de Doenças. Atinge uma em cada 10 mil pessoas identificadas ao nascer como meninos e uma em 30 mil registradas como meninas.


Disponível em http://geovanaivaniski.blogspot.com/2011/02/transexual-e-biologia.html?zx=133ce0e1d3c944ab. Acesso em 10 nov 2011.