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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Homossexuais podem ser melhores empreendedores?

Rafael Farias Teixeira
21.08.2012 

Já escrevi aqui no blog sobre empreendedores e homossexualidade, levantando como o caso de Tim Cook, novo CEO da Apple, estava inspirando gays de todo mundo a empreender. Deparei-me com um artigo muito interessante da revista Inc. sobre o tema, intitulado “Are gay people better entrepreneurs?” (Os homossexuais são melhores empreendedores?).

Nele, a repórter Issie Lapowsky levanta alguns dados interessantes sobre ser homossexual e empreender. O Wall Street Journal, por exemplo, divulgou que não há um único CEO assumido dentro da lista da Fortune 1000 – lembrando que, apesar de muitas fontes afirmarem que Cook é gay, ele nunca falou abertamente sobre o tema.

No artigo, Issie afirma que muitos executivos enrustidos preferem buscar carreiras como empreendedores a temer que sua orientação sexual possa afetar seu crescimento dentro da empresa – em 29 estados americanos, ainda é legal demitir um funcionário por ser gay. Mas será que homossexuais dão melhores empreendedores?

Issie menciona uma pesquisa realizada pela University of Southern California, intitulada “The G Quotient: Why Gay Executives are Excelling as Leaders” (O coeficiente G: por que executivos gays estão se superando como líderes). O estudo durou cinco anos e foi publicado em 2006. Foi produzido por meio de entrevistas com gerentes e funcionários de 2.000 empresas. A conclusão? Funcionários que trabalhavam sob a tutela de chefes homossexuais reportaram 25% a mais em engajamento no trabalho. “O que eu descobri é que líderes gays valorizam seus funcionários como um todo, porque eles mesmos já experimentaram a situação de ser julgado apenas por um aspecto de suas vidas”, afirmou o professor Kirk Snyder, coordenador da pesquisa. “Todos que saíram do armário já passaram pelo processo de navegar por um território inexplorado e tentando evitar problemas. É uma habilidade desenvolvida que com certeza é um incremento a inteligência empreendedora.”

Ainda no tema empreendedorismo e homossexualidade, o artigo cita uma importante ferramenta para esse público. Para quem é assumido, mas ainda precisa de algum tipo de orientação, existe o site StartOut.org, uma rede de networking que apoia empreendedores homossexuais. Fundado em 2008, atualmente essa rede possui mais de 3.000 membros em São Francisco e Nova York. Seu fundador, Darren Spedale, acredita que, quando empreendedores compartilham mais de uma característica em comum, seja gênero, raça ou orientação sexual, eles fazem conexões mais profundas e estão mais inclinados a se ajudarem.

E vocês o que acham? Ser homossexual pode ajudar na hora de empreender? Há habilidades que adquirimos por pertencer a um determinado grupo?

Disponível em <http://www.papodeempreendedor.com.br/empreendedorismo/homossexuais-podem-ser-melhores-empreendedores/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+PapoDeEmpreendedor+%28Papo+de+Empreendedor%29>. Acesso em 27 ago 2012.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

União estável entre homossexuais

Roberto Dias
29 de maio de 2012

Há um ano, o STF reconhecia, por unanimidade, a união estável homoafetiva como entidade familiar. Foi uma decisão histórica que rejeitou a discriminação de pessoas em razão da orientação sexual.

Um ponto polêmico dizia respeito à previsão constitucional que reconhece, para efeito da proteção do Estado, “a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar” (artigo 226, parágrafo 3.º). Essa norma impediria a proteção da união de pessoas do mesmo sexo? Como superar a previsão literal? Este era um dos principais desafios do STF.

E a superação se deu com a interpretação sistemática da Constituição, com o entendimento de que ali há um conjunto harmônico de normas, como lembrado pelos ministros Ricardo Lewandowski e Carmen Lúcia. Esse conjunto instituiu um Estado que, fundado na dignidade da pessoa, tem como objetivo constituir uma sociedade livre, com a promoção do bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

A união homoafetiva, portanto, tem sua base nos direitos fundamentais. Afinal, nas palavras do ministro Ayres Britto, não existe “subfamília, família de segunda classe ou família mais ou menos”. A heteroafetividade em si não torna os heterossexuais superiores, tampouco os “beneficia com a titularidade exclusiva do direito de constituir uma família”.

O STF concluiu que a Constituição, ao contemplar expressamente a existência da família formada pelo casamento, aquela decorrente da união estável entre homem e mulher e, também, aquela formada por qualquer dos pais e seus descendentes – família monoparental – não excluiu o reconhecimento da entidade familiar estabelecida pela união estável homoafetiva. Pelo fato de existir – nas palavras do ministro Marco Aurélio Mello – uma obrigação constitucional de não discriminação e de respeito à dignidade humana, às diferenças e à orientação sexual, não se pode interpretar literalmente as normas jurídicas que não reconhecem os direitos de grupos minoritários.

Podemos dizer que três importantes argumentos fundamentaram a decisão. Primeiro, o princípio da igualdade impede que as pessoas sejam discriminadas em razão da orientação sexual. A Constituição aceita a diversidade e reconhece o direito do indivíduo de construir, livremente, sua identidade.

Segundo: a Constituição garante o direito à intimidade, ou seja, relacionamentos afetivos mantidos por qualquer pessoa não dizem respeito a mais ninguém. Há direitos e obrigações que decorrem da união estável. Mas não importa se ela é formada pela afetividade heterossexual ou homossexual.

Em terceiro lugar, a Constituição deve ser interpretada como conjunto harmônico de normas: ela não é a somatória daquilo que está literalmente previsto em cada uma das partes isoladas. Assim, o fato de a Constituição não prever, explicitamente, a entidade familiar homoafetiva não significa que ela proibiu a união entre pessoas do mesmo sexo e sua proteção pelo Estado. Ao contrário, os direitos fundamentais previstos na Constituição – como a igualdade e a intimidade – impõem o reconhecimento da união homoafetiva, mesmo sem previsão constitucional explícita.


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Disponível em <http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,uniao-estavel-entre-homossexuais,879206,0.htm>. Acesso em 09 jul 2012.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Sexualidade sob a ótica dos subalternizados

Karina Toledo
28/06/2012

Discutir questões de gênero, sexualidade, raça, nacionalidade e outros marcadores sociais das diferenças tendo como base as experiências e as demandas de pessoas que foram historicamente subalternizadas. Esse é o objetivo da coletânea Discursos fora da ordem: sexualidades, saberes e direitos, recém-lançada pela Annablume Editora.

A obra, que contou com apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações, foi organizada por Richard Miskolci, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e por Larissa Pelúcio, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Ambos são responsáveis pelo grupo de pesquisa Corpo, Identidades e Subjetivações.

Os 12 artigos que compõem a coletânea surgiram após os debates realizados no seminário Sexualidades, Saberes e Direitos, promovido na UFSCar em 2010 também com apoio da FAPESP.

“O grande diferencial do livro, assim como do seminário, é o fato de não ter como base o pensamento disciplinar e sim os saberes de sujeitos como mulheres, travestis, transexuais”, disse Miskolci. Os movimentos sociais que emergiram nos anos 1960, afirmou o organizador, desafiaram o pensamento científico autorizado, trazendo novos temas e sujeitos de pesquisa.

“As feministas, os homossexuais e os negros passaram a exigir que suas demandas políticas fossem reconhecidas como relevantes. Aos poucos, isso mudou a dinâmica de produção de conhecimento, caracterizando o acontecimento histórico que Michel Foucault descreveu como a insurgência dos saberes assujeitados”, disse.

Segundo Miskolci, os textos da coletânea valorizam as demandas contemporâneas herdeiras desse momento histórico. Há artigos inéditos de expoentes da corrente teórica queer – vertente do feminismo que explora questões de sexualidade –, como as norte-americanas Judith Jack Halberstam e Marcia Ochoa.

O livro traz ainda o último texto escrito pela psicanalista Márcia Arán, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) falecida em 2011, no qual ela discute como as experiências transexuais mostram os limites da psicanálise tradicional.

“Partimos do empírico, da experiência de pessoas que muitas vezes não têm nem sequer sua humanidade reconhecida, para repensar os modelos de teoria social hegemônica”, disse Miskolci.

Entre os temas abordados está a criação do primeiro ambulatório para travestis do Brasil, que funciona na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia.

Também é narrada a experiência de pessoas intersexuais, antigamente chamadas hermafroditas, e seu confronto com o aparato médico que deseja operá-las ainda bebês. Além da vivência de brasileiras e brasileiros que migram para Portugal e Espanha em busca de realização pessoal e renegociam suas identidades e desejos lidando com o imaginário que lá vigora sobre o Brasil e seus habitantes.

Os quatro últimos artigos são dedicados a discutir a demanda desses grupos por cidadania, que evidenciam os limites do sistema jurídico existente moldado por concepções hegemônicas sobre aqueles que podem reinvindicar o estatuto de sujeitos de direitos.

O livro foi lançado em maio nos Estados Unidos, durante o Congresso da Latin American Studies Association. No início de julho ocorre o lançamento oficial no Brasil, durante a Reunião Brasileira de Antropologia, na PUC-São Paulo.


Disponível em <http://agencia.fapesp.br/15802>. Acesso em 09 jul 2012.

sábado, 30 de junho de 2012

Saindo do armário

Moacyr Scliar
edição 185 - Junho 2008

To get out of the closet, sair do armário, é uma expressão muito usada para designar a atitude de homossexuais que assumem sua orientação. Esse processo, porém, nunca foi fácil. A homossexualidade é reconhecida há milênios, mencionada na Bíblia e em textos da Antigüidade clássica; mas, apesar da tolerância grega em relação a ela, de maneira geral tratava-se de transgressão e dificilmente poderia ser abordada em texto, a não ser de forma críptica, camuflada, como acontece em sonetos de Shakespeare. A literatura explicitamente gay é, portanto, relativamente recente. A rigor, só há cerca de três décadas o gênero se impôs dentro do quadro de liberação sexual que permitiu a muitas pessoas abordar o tema na ficção, na poesia, no ensaio. Os autores atuais dão prosseguimento à obra daqueles que, homossexuais ou não, falaram corajosamente do “amor que não ousa dizer seu nome”. 

A editora americana Triangle, especializada em literatura gay, pediu a um grupo de intelectuais e autores uma lista das 100 melhores obras no gênero. Mesmo com absoluta e previsível preponderância de americanos, obteve uma lista notável: começando com Morte em Veneza, de Thomas Mann, passando por Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, e chegando a O beijo da mulher-aranha, do argentino (que viveu no Brasil) Manuel Puig, autores importantíssimos são citados: James Baldwin, Jean Genet, André Gide, Virginia Woolf, E. M. Forster, Gore Vidal, Marguerite Yourcenar, Evelyn Waugh, Gertrude Stein, Truman Capote, Christopher Isherwood, Colette, Henry James, Lezama Lima. A essa relação poderíamos acrescentar os nomes de Lord Byron, Walt Whitman, Allen Ginsberg, García Lorca, Oscar Wilde, Arthur Rimbaud e Tennessee Williams.

No Brasil são listados, entre os escritores homossexuais, João do Rio (cuja sexualidade foi objeto de muitas disputas), Pedro Nava, Caio Fernando Abreu, Walmyr Ayala. Há pelo menos um clássico de nossa literatura que aborda o tema da homossexualidade: é O bom crioulo(1895), de Adolfo Caminha, escritor que faleceu muito jovem, e autor de uma sombria obra, na qual o romance mencionado não constitui exceção. Dentro do espírito da época, é um texto naturalista que narra a ligação entre o negro Amaro, escravo fugido que se torna marinheiro, e o grumete Aleixo, que trabalha na mesma embarcação. O livro é, portanto, duplamente “transgressor”: amor entre homens, amor entre um negro e um branco. Amaro, que tem 30 anos, domina Aleixo, que, com seus 15, ainda é quase um menino. Caminha introduz ainda uma prostituta, Carolina, que, seduzindo Aleixo, cria um inusitado triângulo amoroso, que termina em tragédia quando Amaro mata Aleixo e é preso. Publicado no Reino Unido, na Alemanha, na França, no México, em Portugal, o livro teve grande repercussão. 

Mesmo obtendo êxito, contudo, os autores homossexuais passaram por situações difíceis. Na Cuba de Fidel Castro eram mal-vistos e isso originou um incidente lendário com o poeta Virgilio Piñera que, em certa ocasião, teria se embrenhado com um rapazinho num milharal. Avisada, a polícia cercou o local e surpreendeu os dois em flagrante. O policial que comandava a operação perguntou a Piñera o que ele estava fazendo. “É uma espécie de reforma agrária”, respondeu o trêmulo poeta. Dentro da abertura cubana, isso possivelmente não acontecerá mais. E como Fidel nos garantiu que os milharais cubanos não serão transformados em biocombustível, podemos esperar progressos reais.


Disponível em <http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/saindo_do_armario.html>. Acesso em 22 jun 2012.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Cresce número de brasileiros gays no exterior que pedem asilo alegando homofobia

Janaina Garcia
04/04/2012

Os pedidos de asilo político feitos por brasileiros gays que vivem no exterior passaram de três, em todo o ano de 2011, para 25 apenas nos três primeiros meses deste ano. A informação é da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transexuais), que afirma ter remetido os casos à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

De acordo com o presidente da entidade, Toni Reis, os pedidos se referem a tentativas de asilo principalmente em países como Estados Unidos e Canadá, e ganharam força após notícias de violência contra homossexuais  em cidades brasileiras como São Paulo –onde diversos casos foram notícia, ano passado, sobretudo com a avenida Paulista de palco das agressões.

Segundo Reis, apesar de remeter à SDH os casos que chegam, a própria associação ainda não assumiu um posicionamento formal sobre esses pedidos. O motivo, diz ele, é a possibilidade de que parte dos autores desses pedidos se valham de casos recentes de violências contra homossexuais no Brasil como escudo a tentativas de asilo político tentados, mas não obtidos.

“Temos cartas de pessoas dizendo que não dá pra viver no Brasil, e sempre com a alegação de homofobia no nosso país. Antigamente endossávamos esses pedidos com um relatório de assassinatos de homossexuais --foram 3.500 ao longo de 20 anos--, além do fundamentalismo religioso de um Bolsonaro da vida”, disse Reis, referindo-se ao deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que provocou a ira dos defensores dos direitos LGBT, ano passado, com declarações polêmicas e consideradas ofensivas.

Para o militante, no entanto, o aumento de pedidos de asilo omite a adoção de políticas públicas específicas ao público LGBT, por exemplo, e a conquista de direitos civis, por meio do poder Judiciário, como a união estável garantida ano passado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

“Sabemos que algumas pessoas usam a questão da homofobia para tentar mesmo o asilo político. E não somos um Irã. Mas também é fato que os homofóbicos estão ‘saindo do armário’, o que torna um absurdo a homofobia ainda não ter sido criminalizada”, defende Reis. “Acho que ainda dá para viver aqui; se piorar, aí a gente vai mesmo ter que sair do país”, completou.

Não criminalização da homofobia

Para a presidente da Comissão Especial da Diversidade Sexual do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Maria Berenice Dias, os pedidos de asilo não são uma novidade -- mas o aumento deles, sim.

A advogada -- uma das pioneiras, no Brasil, em direito homoafetivo -- considera, a exemplo do presidente da ABGLT, que a não criminalização da homofobia é a raiz de iniciativas como essa por parte de brasileiros residentes fora. “A homofobia pais é uma realidade social, e a ausência de uma legislação que a criminalize, por si só, já justifica esses pedidos de asilo”, definiu.

Na opinião da especialista, o avanço das tentativas de asilo não se revela medida extrema, mas, sim, “necessária”. “É medida necessária à medida em que se tem um número muito significativo de violência sem qualquer tipo de repressão. E acho até bom que esses asilos sejam concedidos, pois acabam até expondo o Brasil a um constrangimento --porque o Judiciário avança em termos de reconhecimento de direitos civis, mas na criminalização está difícil de avançar”, constatou a presidente da comissão.

Direitos Humanos

Procurada, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República informou, por meio de nota, que “tem trabalhado para enfrentar a violência homofóbica no Brasil de forma preventiva e repressiva”, seja por meio de campanhas institucionais ou em parcerias com veículos de comunicação, ou por meio de termos de cooperação com as secretarias estaduais de Segurança Pública.

A nota diz ainda que o governo brasileiro “cumpre com as recomendações das Nações Unidas e está realizando o levantamento dos dados de homofobia no Brasil” e ressalta que o cidadão pode denunciar casos pelo telefone 100, 24 horas por dia, anonimamente. Esses dados, continua a SDH, “demonstram que o Brasil desenvolve políticas públicas para que a população LGBT não seja obrigada a sair do país devido a sua orientação sexual”.

Não foram informados, contudo, quais encaminhamentos foram dados a pedidos de asilo que a ONG ABGLT afirma ter repassado à SDH.

Disponível em <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/04/04/cresce-numero-de-brasileiros-gays-no-exterior-que-pedem-asilo-alegando-homofobia.htm>. Acesso em 16 jun 2012.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Psicólogo não muda orientação sexual, rebate presidente de Conselho Federal

Ana Cláudia Barros 
29 de fevereiro de 2012

O presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Humberto Verona, considerou "muito preocupante" a movimentação da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) para tornar sem efeito a resolução da categoria que "estabelece normas de atuação dos psicólogos em relação à questão da orientação sexual". Um Projeto de Decreto Legislativo com esta finalidade foi apresentado pelo deputado federal João Campos (PSDB-GO), que preside, no Congresso, a FPE, atualmente composta por 76 parlamentares, três deles, senadores.

A Resolução 001/99 do CFP determina que os profissionais da área não podem exercer "qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas", nem adotar "ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados". Veta ainda qualquer manifestação pública de psicólogos no sentido de "reforçar preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica".

- Nossa resolução é muito cara aos psicólogos, não só brasileiros, mas os de todo o mundo. Somos chamados em vários países para falar dessa experiência que temos no Brasil. Ela tem sido um exemplo. Vamos fazer todo esclarecimento público possível. A intenção dos deputados que estão cuidando disso é outra. Ela tem uma origem moral, nos seus conceitos religiosos. Não há uma preocupação real com a sociedade. Se houvesse, esses deputados estariam defendendo a resolução, o direito de as pessoas terem sua orientação sexual exercida com liberdade e respeito. Vamos tentar sensibilizar a opinião pública para que isso não avance - afirma Verona.

Na avaliação do presidente do CFP, a bancada evangélica além de interferir diretamente no exercício da profissão, pode abrir precedentes, ferindo à laicidade do Estado.

- Achamos que uma lei que possibilite, por concepções religiosas, que profissionais tratem de orientação considerada "inadequada" é um problema grave para a sociedade brasileira. Não podemos deixar isso passar. O projeto é um retrocesso e é uma interferência na própria legislação do País, que organizou o exercício das profissões. No Brasil, temos leis que criam conselhos e que delegam aos próprios profissionais fazer a regulação da sua profissão de acordo com as necessidades e demandas da sociedade. Queremos continuar a ter garantias do nosso direito de fazer isso.

Verona lembra que a concepção de naturalidade da orientação heteroafetiva é contestada pela psicologia.

- Toda essa pressão está muito dirigida à orientação homoafetiva, porque há aqueles que acreditam na naturalidade da orietação heteroafetiva, como sendo a orientação natural da espécie humana. A psicologia e outras ciências já compreenderam que não é assim. A heterossexualidade não tem nenhuma natureza especial, diferente da orientação homoafetiva. Ambas as orientações fazem parte da dimensão subjetiva, da experiência da sexualidade humana. Então, para nós, não existe uma orientação que é a natural e a normal e uma desviante, que precisa ser tratada. Há um equívoco de base na compreensão da própria questão da sexualidade. Sabemos que o equívoco não é por ignorância, mas acontece por uma questão de filiação a fundamentos religiosos, que pregam isso.

O presidente do CFP explica como deve ser a abordagem do profissional quando procurado por um paciente em conflito devido à orientação sexual:

- Por termos outra concepção, nosso código de ética nos impede de oferecer cura. Nem o heterossexual que quer virar homossexual nem o homossexual que quer virar hétero. Temos que investigar qual sofrimento está sendo produzido naquele sujeito a partir da sua orientação sexual. Nosso papel é cuidar do sofrimento. Temos que acolher o sujeito e ajudá-lo a entender porque sofre. O sofrimento não é pela prática de uma orientação sexual, mas pelo conflito que isso gera em função da expectativa que a pessoa tem em relação ao grupo social no qual convive. É nosso papel ter essa compreensão.

Humberto Verona esclarece que a prática do psicólogo não pode sofrer interferência de crenças religiosas.

- A fé de cada um não pode ser exercida numa prática comum no conjunto de uma categoria profissional. Todos têm o direito de ter sua fé individualmente, mas no momento do exercício profissional, dispomos de métodos, técnicas, teorias que são validadas socialmente, por órgãos de regulação, por instâncias de pesquisas. Não dá para misturar o exercício da profissão com a profissão de fé de cada um.

Disponível em <http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5637349-EI6594,00.html>. Acesso em 17 mar 2012.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Homossexualidade na rede

Richard Miskolci
20 de abril de 2012

Historicamente, em geral, homens e mulheres mantiveram seus anseios homoeróticos em segredo, o que lhes dava a sensação de serem únicos e viverem o fardo de um desejo secreto sem ter com quem compartilhar temores e sofrimentos. Alijadas do espaço público, sexualidades marginalizadas foram se restringindo a locais de encontros e espaços reduzidos das grandes cidades, restando pouca ou nenhuma opção para a maioria dos homo-orientados que viviam – e ainda vivem – em cidades médias, pequenas, na zona rural ou mesmo na periferia das metrópoles. A despeito das polêmicas e imprecisões, esses territórios foram chamados, inicialmente, de guetos.

Segundo os antropólogos Júlio Assis Simões e Isadora Lins França, nos anos 90, no Brasil, o gueto – ou “meio” – começou a dar lugar a um circuito comercial complexo e geograficamente amplo. A partir de 1997, a internet comercial iniciou o processo de expansão no Brasil, transferindo, ampliando e até mesmo recriando o espaço para a socialização de sexualidades dissidentes. A rede ampliou códigos do universo lésbico e gay metropolitano (sobretudo de São Paulo e do Rio de Janeiro) para o resto do país e o inseriu no circuito internacional.

Hoje, a internet parece ter tomado o lugar dos antigos guetos urbanos e se tornado passagem quase obrigatória para homossexuais no processo de autodescoberta, em seus contatos sexuais ou amorosos e na criação de redes de apoio. Afirmações como “sou fora do meio” ou “procuro alguém fora do meio (como eu)” são recorrentes nos anúncios sexuais, na apresentação em bate-papos on-line ou mesmo nos perfis de redes de relacionamento e reafirmam a perspectiva de que os pontos de encontro de culturas sexuais não hegemônicas seriam marginais, perigosos e, sobretudo, denunciariam uma identidade “socialmente perseguida”. Um olhar mais atento sobre essas autoapresentações revela também que a rede é tida como forma de socialização “limpa”, capaz de manter a crença de que a vida social é (ou deveria permanecer) heterossexual.

A necessidade de encontrar alguém para falar de seu desejo – seja para criar uma relação amorosa ou fazer amigos, seja simplesmente para compartilhar dores – converte a internet no mais novo meio de controle da sexualidade.  Ao colocar o sexo em palavras, a rede se distancia das “regras” que marcavam o antigo “meio”, ou seja, o silêncio sobre o que se fazia. Mas que não se imagine tratarse de um avanço, pois a web, ao trazer o sexo ao discurso, faz também com que os internautas ampliem o papel da sexualidade em sua vida e na própria forma como se compreendem.

No primeiro volume de sua História da sexualidade, o filósofo e historiador francês Michel Foucault (1926-1984) explorou em detalhes o fenômeno histórico que trouxe a sexualidade para o discurso desde a técnica cristã da confissão até a psicanálise. Segundo ele, o dispositivo histórico da sexualidade se caracteriza pela inserção do sexo em formas de regulação baseadas em uma rede de discursos. No presente, não seria exagero afirmar que a internet é um dos meios sociais de controle sexual.

Entrar na web para falar do próprio desejo constitui um exercício subjetivo que pode reforçar a impressão de que tudo não passa de “sexualidade”, pensamento reconfortante para homens que são incentivados desde a infância a separar amor de sexo. O reconforto dessa divisão estaria na aceitação de sua vida amorosa se fosse construída como heterossexual (e quiçá reprodutiva) no espaço público da vida familiar e do trabalho e como homo-orientada apenas em segredo, desvinculada da afetividade ou do compromisso duradouro.


Disponível em <http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/homossexualidade_na_rede.html>. Acesso em 20 mai 2012.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Quatro homens iranianos são condenados à forca por homossexualismo

R7 
14/05/2012 às 18h05:

Quatro homens, identificados pela Agência de Notícias dos Direitos Humanos como Saadat Arefi, Vahid Akbari, Javid Akbari e Houshmand Akbari, serão enforcados após serem sentenciados como culpados pelas leis de Shari'a, o código religioso e moral que é seguido pelo Islamismo. Os homens eram acusados de homossexualismo, que é proibido no Irã.

Mehri Jafari, advogado dos direitos humanos iraniano, disse estar horrorizado e chateado com a notícia.

— Não estou chocado apenas com a execução em si, mas também com o fato, que vai além do nosso controle.

A sentença foi dada a dois dias da divulgação de um novo relatório sobre homossexualismo e transexuais no Irã. De acordo com o Gay Star News, jornal iraniano voltado para o público gay, o relatório irá esclarecer os problemas que o país encontra em relação aos homossexuais e àqueles que fogem do país para poderem fazer cirurgias de mudança de sexo.

Segundo um dos jornalistas do da publicação, muitos homossexuais não se sentem parte da sociedade.

— Se eu dissesse que me sinto parte dessa sociedade, seria a maior mentira da minha vida. Isso por causa da minha homossexualidade e do pensamento iraniano em relação aos gays. Normalmente, eu me refiro ao Irã como "o seu país", ao invés de "o nosso país".

De acordo com o jornalista, que mora em Bandar Anzali, a internet tem um papel importante em seu trabalho.

— Não consigo explicar o que a internet representa. Moro em uma cidade pequena, onde a comunidade homossexual é muito discreta. O único meio para mim é a internet.

Em abril, o jornal inglês The Guardian publicou que o líder iraniano, Ayatollah Abdollah Javadi-Amoli, discursou e disse que os homossexuais são inferiores à cachorros e porcos.

— Se a sociedade comete um novo pecado, irá enfrentar um novo castigo. Problemas como a AIDS não existiam antigamente.


Disponível em <http://noticias.r7.com/internacional/noticias/quatro-homens-iranianos-sao-condenados-a-forca-por-homossexualismo-20120514.html>. Acesso em 20 mai 2012.

sábado, 19 de maio de 2012

Desafiando preconceito, cresce número de igrejas inclusivas no Brasil

Luís Guilherme Barrucho
Atualizado em  27 de abril, 2012

Estimativas feitas por especialistas a pedido da BBC Brasil indicam que já existem pelo menos dez diferentes congregações de igrejas "gay-friendly" no Brasil, com mais de 40 missões e delegações espalhadas pelo país.

Concentradas, principalmente, no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, elas somam em torno de 10 mil fiéis, ou 0,005% da população brasileira. A maioria dos membros (70%) é composta por homens, incluindo solteiros e casais, de diferentes níveis sociais.

O número ainda é baixo se comparado à quantidade de católicos e evangélicos, as duas principais religiões do país, que, em 2009, respondiam por 68,43% e 20,23% da população brasileira, respectivamente, segundo um estudo publicado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.

O crescimento das igrejas inclusivas ganhou força com o surgimento de políticas de combate à homofobia, ao passo que o preconceito também diminuiu, alegam especialistas.

Hoje, segundo o IBGE, há 60 mil casais homossexuais no Brasil. Para grupos militantes, o número de gays é estimado entre 6 a 10 milhões de pessoas.

Segundo a pesquisadora Fátima Weiss, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que mapeia o setor desde 2008, havia apenas uma única igreja inclusiva com sede fixa no Brasil dez anos atrás.

"Com um discurso que prega a tolerância, essas igrejas permitem a manifestação da fé na tradição cristã independente da orientação sexual", disse Weiss à BBC Brasil.

O número de frequentadores dessas igrejas - que são abertas a fiéis de qualquer orientação sexual - acompanhou também a emancipação das congregações. Se, há dez anos, os fiéis totalizavam menos de 500 pessoas; hoje, já são quase 10 mil - número que, segundo os fundadores dessas igrejas, deve dobrar nos próximos cinco anos.

Resistência

As igrejas inclusivas ainda enfrentam forte resistência das comunidades católicas e evangélicas. Embora a maior parte delas siga a tradição cristã - pregando, inclusive, o celibato antes do casamento e a monogamia após o matrimônio - ainda não são reconhecidas oficialmente por nenhum desses dois grupos.

Não raro, em igrejas tradicionais, os homossexuais são obrigados a esconder sua opção sexual. Descobertos, acabam sendo expulsos - ou, eventualmente, submetidos a tratamentos de "conversão" para se tornarem heterossexuais.

"Segundo a Bíblia, homossexualidade é pecado. Na igreja evangélica, gay só entra caso queira se converter e, para isso, tem de se tornar heterossexual. É uma regra de Deus", disse à BBC Brasil Silas Malafaia, fundador de uma das principais igrejas evangélicas do Brasil, a Assembleia de Deus - Vitória em Cristo.

"Tenho vários casos de ex-gays na minha igreja. Trata-se de um desvio de comportamento; afinal, gays têm a mesma ordem cromossômica que nós, heterossexuais. Depende deles, portanto, mudar sua opção sexual para serem aceitos na nossa comunidade", acrescenta.

A pernambucana Lanna Holder, de 37 anos, acreditava poder "curar" a atração que sentia por mulheres que, segundo ela, vinha "desde a infância". Usuária de drogas e alcoólatra, Lanna converteu-se a uma igreja evangélica aos 21 anos, passando a fazer pregações no interior do Brasil.

"Enquanto todas as meninas brincavam de boneca, eu soltava pipa e jogava futebol", lembra ela à BBC Brasil.

Lanna tornou-se uma das principais pregadoras da igreja Assembleia de Deus, a mais importante do ramo pentecostal no Brasil. Casou-se aos 24 anos e, dois anos depois, teve um filho.

Mas durante uma viagem aos Estados Unidos em 2002, conheceu outra pregadora, Rosania Rocha, brasileira que cantava no coral de uma filial da igreja em Boston. Um ano depois, elas tiveram um caso amoroso às escondidas e acabaram expulsas da comunidade.

De volta ao Brasil em 2007, Lanna teve a ideia de criar uma igreja voltada predominantemente para homossexuais que, como ela, não ganharam acolhida em outra vertente religiosa. Ela montou a "Comunidade Cidade Refúgio", no centro de São Paulo.

De reuniões pequenas, com apenas 15 pessoas, a igreja possui hoje 300 fiéis e planeja abrir uma filial em Londrina, no Paraná, até o fim deste ano.

Origem

O embrião das igrejas inclusivas começou a surgir no Brasil na década de 90, em pequenas reuniões feitas normalmente sob sigilo.

Nos Estados Unidos, entretanto, elas já existem há pelo menos quatro décadas, praticando o que chamam de "teologia inclusiva", com um discurso aberto à diversidade.

Um das pioneiras foi a Igreja da Comunidade Metropolitana (ou Metropolitan Church), a primeira a ter sede própria no Brasil, em 2002.

Disponível em <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/04/120329_igrejas_tolerancia_gays_lgb.shtml>. Acesso em 12 mai 2012.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Pessoas homofóbicas podem ser homossexuais disfarçados

Alagoas24horas
16 abril, as 13:30

Um novo estudo sugere um pouco de autorreflexão entre aqueles que são hostis com os gays: talvez os agressores também sejam homossexuais.

“Esse estudo mostra que, se você está sentindo o tipo de reação visceral contra outro grupo, você deveria se perguntar ‘porque?’”, afirma um dos autores, Richard Ryan. “Algumas vezes, as pessoas são hostis com os gays e lésbicas porque têm medo dos próprios impulsos e podem não aceitar os outros porque não conseguem aceitar a si mesmos”.

Entretanto, Ryan deixa claro que essa ligação não é a única fonte de sentimentos anti-gays. Não é porque alguém os odeia, que definitivamente também é gay.

Homossexualidade escondida

Em quatro estudos, os pesquisadores analisaram as diferenças entre o que as pessoas dizem sobre sua orientação sexual e sua orientação verdadeira, baseado no tempo das reações.

Os participantes tiveram que categorizar palavras e imagens como sendo “gays” ou “heteras”. Entre as palavras, estavam “gay”, “hétero”, “homossexual” e “heterossexual”; as imagens mostravam casais gays e heterossexuais. A primeira palavra a aparecer era “eu” e “outros”. De acordo com os pesquisadores, reações rápidas para “eu” com “gay”, e devagar para “eu” e “heterossexual”, indicavam uma orientação homossexual implícita.

Em outro experimento, a orientação verdadeira foi analisada com os participantes escolhendo entre ver fotos do mesmo sexo ou do sexo oposto. 

Questionários também foram feitos para analisar o tipo de pais que os participantes possuíam.

Pais controladores

Em todos os estudos, participantes com pais mais abertos e compreensivos estavam mais em contato com sua orientação sexual verdadeira. Aqueles que apontaram os pais como autoritários tiveram a maior discrepância entre a orientação sexual apontada e a “calculada”.

“Em uma sociedade predominantemente heterossexual, conhecer a si mesmo pode ser um desafio para muitas pessoas homossexuais. Em casas controladoras e homofóbicas, abraçar uma orientação sexual minoritária pode ser terrível”, afirma a líder do estudo, Netta Weinstein.

Os participantes que afirmaram ser heterossexuais, mas que possuíam desejos escondidos pelo mesmo sexo, também foram os que demonstraram mais hostilidade contra os gays, inclusive apoiando punições contra eles.

“Nós achamos engraçado essa hipocrisia gritante, mas na vida real, essas pessoas [que negam a própria sexualidade] podem frequentemente se sentir vítimas de repressão ou experimentar sensações de ameaça”, comenta Ryan. “A homofobia pode gerar consequencias trágicas”.


Disponível em <http://www.boainformacao.com.br/2012/04/pessoas-homofobicas-podem-ser-homossexuais-disfarcados/>. Acesso em 30 abr 2012.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Primeira travesti a fazer doutorado no Brasil defende tese sobre discriminação

Daniel Aderaldo
24/03/2012 08:00

Antes de se tornar supervisora regional de 26 escolas públicas e ingressar no doutorado em Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luma Andrade assinou o nome João por 30 anos, foi rejeitada pelos pais na infância, discriminada na escola e, mais tarde, no trabalho.

Na tese de quase 400 páginas que irá defender em três meses, a primeira travesti a cursar um doutorado no Brasil relata a discriminação sofrida por pessoas como ela na rede pública de ensino. Ela também aponta lacunas na formação dos professores.

Criança nos anos de 1970, no município de Morada Nova, a 170 quilômetros de Fortaleza, o único filho homem de um casal de agricultores, era João, mas já se sentia Luma. Em casa, escondia-se para evitar ser confrontada. Na escola, apanhava dos meninos por querer parecer uma menina. Em uma das vezes que foi espancada, aos nove anos, queixou-se com a professora e, ao invés de apoio, ouviu que tinha culpa por ser daquele jeito.

Mais tarde, já com cabelos longos e roupa feminina, sofria de segunda a sexta-feira na chamada dos alunos, ao ser tratada pelo nome de batismo. Não se reconhecia no uniforme masculino que era obrigada a usar. Evitava ao máximo usar o banheiro. Aturava em silêncio as piadas que os colegas insistiam em fazer. “Se a travesti não se sujeitar e resistir, acaba sucumbindo”, lamenta.

Luma se concentrou nos estudos e evitou os confrontos. "Tem momento que a gente quer desistir. Eu não ia ao banheiro urinar, porque eu queria usar o feminino, mas não podia. Então eu me continha e, às vezes, era insuportável”, relembra. Mas ela concluiu o ensino médio e, aos 18 anos, entrou na universidade. Quando se formou aos 22, já dava aulas e resolveu assumir a homossexualidade. Quando contou que tinha um namorado, foi expulsa de casa. 

Em 2003, já com o título de mestre, prestou concurso para lecionar biologia. Eram quatro vagas para uma escola estadual do município de Aracati, a 153 quilômetros de Fortaleza. Apenas ela passou. Contudo, o diretor da escola não a aceitou. Luma pediu a intervenção da Secretaria de Educação do Estado e conseguiu assumir o posto.

“Eu não era tida como um bom exemplo”. Durante o período de estágio probatório, tentaram sabotar sua permanência na escola. “Uma coordenadora denunciou que eu estava mostrando os seios para os alunos na aula”. Luma havia acabado de fazer o implante de proteses de silicone. “Eu já previa isso e passei a usar bata para me proteger, esconder. Eu tinha certeza que isso ia acontecer”.

Anos depois, Luma assumiu um cargo na Coordenadoria Regional de Desenvolvimento de Educação de Russas, justamente a região onde nasceu. Como supervisora das escolas estaduais de diversos municípios, passou a interceder em casos de agressões semelhantes ao que ela viveu quando era estudante.

“Uma diretora de escola fez uma lista de alunos que, para ela, eram homossexuais. E aí mandou chamar os pais, pedindo para que eles tomassem providências”. A providência, segundo ela, foi “muito surra”. “O primeiro que foi espancado me procurou”, lembra. Luma procurou a escola. Todos os gestores e professores passaram por uma capacitação para aprender como lidar com a sexualidade dos estudantes.

Um ano depois, em 2008, Luma se tornou a primeira travesti a ingressar em um doutorado no Brasil. Ela começou a pesquisar a situação de travestis que estudam na rede pública de ensino e constatou que o caso da diretora que levou um aluno a ser espancado pelos pais e todas as outras agressões sofridas por homossexuais tinham mesma a origem.

“Comecei o levantamento das travestis nas escolas públicas. Eu pedia para que os gestores informassem. Quando ia averiguar a existência real do travesti, os diretores diziam: ‘tem aquele ali, mas não é assumido’. Percebi que estavam falando de gays”, relata.

A partir desse contato, Luma trata em sua tese de que as travestis não podem esboçar reações a ataques homofóbicos para concluir os estudos.

Mas também sugere que os cursos de graduação em licenciatura formem profissionais mais preparados não apenas para tratar da homossexualidade no currículo escolar, mas também como lidar com as especificidades de cada pessoa e fazer da escola um lugar sem preconceitos.

“Cada pessoa tem uma forma de viver. Conforme ela se apresenta, vai se comunicar e interagir. O gay tem uma forma de interagir diferente de uma travesti ou de uma transexual. O não reconhecimento dessas singularidades provoca uma padronização. A ideia de que todo mundo é ‘veado’”.

A tese de Luma já passou por duas qualificações. Ela está em fase final, corrigindo alguns detalhes e vai defendê-la em julho, na UFC, em Fortaleza. 

Disponível em <http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/primeira-travesti-a-fazer-doutorado-no-brasil-defende-tese-sobre/n1597707581246.html>. Acesso em 25 mar 2012.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Execuções de homossexuais e 'emos' provocam medo no Iraque

Jack Healy
17/03/2012 07:02

Uma recente onda de assassinatos e intimidação que teve como alvo homossexuais e adolescentes que se vestem com roupas que seguem a moda ocidental está criando medo em meio aos círculos seculares do Iraque. Ao mesmo tempo, há dúvidas sobre a vontade do governo de proteger alguns de seus cidadãos mais vulneráveis.

Muitos dos detalhes do que os jornais iraquianos têm chamado de "assassinatos emo" ainda não foram esclarecisos, mas eles acontecem em um momento estranho para o Iraque. O país vem se preparando para apresentar-se ao mundo como anfitrião de uma cúpula de líderes árabes no final de março, o primeiro grande evento diplomático realizado no país desde a retirada das forças americanas, em dezembro de 2011.

Mas a notícia de que os jovens homens que usam camisetas coladas ao corpo e calça jeans apertadas estão sendo espancados até a morte com blocos de cimento e jogados nas ruas ameaçou ofuscar essa nova concepção do país. A violência oferece um lembrete de que o governo tem sido incapaz de impedir ameaças e agressões contra pequenas seitas religiosas, grupos étnicos e homossexuais.

Uma autoridade de segurança do Ministério do Interior disse que nas últimas duas semanas as autoridades encontraram os corpos de seis jovens cujos crânios haviam sido esmagados. Segundo a agência de notícias Reuters, uma contagem chega a 14 ou mais corpos. Grupos de direitos humanos dizem que mais de 40 jovens foram mortos, mas não forneceram nenhuma evidência para esta alegação.

Defensores dos direitos humanos dizem que as ameaças e violência são destinadas a homens homossexuais e adolescentes que se vestem diferente em uma mistura exclusivamente iraquiana das modas hipster, punk, emo e gótica. Vistos apenas como "emo", eles ganharam espaço nas ruas de Bagdá como um símbolo de uma maior liberdade social, de uma sociedade que começou a florescer depois de anos de guerras urbanas. Mas isso também tem atraído o desprezo e a indignação de alguns conservadores religiosos. A moda é muitas vezes confundida com o homossexualismo.

A veracidade dos relatos de assassinatos não pode ser verificada. Na maioria dos casos, as autoridades iraquianas negam que exista qualquer campanha contra homossexuais ou adolescentes emo. Eles dizem que as histórias são uma fabricação da mídia destinada a criar histeria e humilhação para o Iraque. Mas foi o governo iraquiano que primeiro rotulou os jovens emos como ameaça pública.

No dia 13 de fevereiro, o Ministério do Interior divulgou uma declaração condenando o "fenômeno dos emos" como parte de uma seita satânica. A moda entre os adolescente rebeldes de usar roupas escuras, camisetas com desenhos de crânios e brincos no nariz, segundo o comunicado, faz parte de emblemas do diabo.

O ministério disse que sua polícia social seria enviada para investigar o fenômeno "emo" e acrescentou que suas forças também haviam recebido a autoridade para entrar em todas as escolas de Bagdá e encontrá-los. "Eles têm aprovação oficial para eliminá-los o mais rápido possível, pois a dimensão da questão começou a tomar outro rumo dentro das comunidades", disse o comunicado.

Ibrahim al-Abadi, um porta-voz do Ministério do Interior, disse que a declaração havia sido mal interpretada. Ele disse que os adolescentes emos eram livres para vestir o que quisessem e disse que o governo iria protegê-los.

Mas no decorrer do mês passado, panfletos ameaçadores começaram a aparecer em bairros xiitas em Bagdá, disseram moradores. Um panfleto publicado na internet menciona dezenas de homens homossexuais por nome e apelido. Ele alerta pessoas identificadas como O Japonês Haider, Allawi o Bra, Mohammed Flor e outros a: "Mudem o seu comportamento, parem de ser gays ou encarem as consequências fatais". A autenticidade do panfleto não pôde ser verificada.

Por pelo menos seis anos, os homossexuais foram intimidados e assediados pelas forças de segurança e espancados e mortos por milícias islâmicas reacionárias em áreas extremamente xiitas de Bagdá.

Ali Hili, um ativista homossexuais iraquiano que vive em Londres, disse que 750 iraquianos gays foram mortos nos últimos seis anos, e milhares emigraram ou estão tendo que viver em constante negação.

"Está claro que há uma guerra sobre as minorias sexuais no Iraque", disse ele. "Eles se recusam a admitir. É simplesmente uma vergonha. Eles vão na televisão e dizem que são contra as execuções, mas não estão fazendo nada para impedir que isso continue."

Mustafa, 25, disse que foi demitido na semana passada de uma loja de roupas, porque seu chefe afirmou que suas roupas eram muito ultrajantes. Hussein, 26, disse que ele saiu de casa duas semanas atrás, depois que seus irmãos ameaçaram matá-lo. Hasan, 32, usa um gorro de esqui para esconder seu cabelo comprido.

"O que você vê em mim que é tão errado?", perguntou Mustafa, que disse estar com muito medo de permitir que seu nome completo fosse publicado. "Sou um cara normal. Prefiro morrer do que ter que viver dessa maneira. "

Disponível em <http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/nyt/execucoes-de-homossexuais-e-emos-provocam-medo-no-iraque/n1597695458245.html>. Acesso em 25 mar 2012.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Parentalidades 'impensáveis': pais/mães homossexuais, travestis e transexuais

Elizabeth Zambrano
Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 12, n. 26, p. 123-147, jul./dez. 2006


Resumo: O aumento do número de famílias formadas por pais/mães homossexuais, travestis e transexuais tem se tornado não apenas um fato social, como também um fato socioantropológico, requerendo uma revisão das nossas convicções tradicionais. O propósito deste artigo é demonstrar como o modelo tradicional da família – considerada uma família “normal” – tem influenciado a construção de parentalidades consideradas, até recentemente, impensáveis, seja socialmente ou perante a lei. O desafio deste momento é enfrentar as novas demandas e desconstruir antigas certezas da antropologia, da psicologia/psicanálise e do direito, favorecendo a legitimação dessas famílias dentro da sociedade.



quarta-feira, 14 de março de 2012

Corte europeia decide regras para adoção entre gays

Aline Pinheiro
11março2012

A Corte Europeia de Direitos Humanos vai anunciar nesta quinta-feira (15/3) se os países podem impedir, em uniões homossexuais, que um parceiro adote o filho biológico do outro. A corte discute se restringir a adoção para casais heterossexuais viola dispositivo da Convenção Europeia de Direitos Humanos, que proíbe a discriminação.

O caso foi levado ao tribunal europeu por duas mulheres francesas, Valérie Gas e Nathalie Dubois. As duas vivem juntas desde 1989. Quando resolveram ter um filho, foram até a Bélgica, onde Nathalie ficou grávida por meio de inseminação artificial com esperma de doador anônimo. Em 2000, Nathalie teve uma filha. Um tempo depois, as companheiras oficializaram a união estável e Valérie pediu à Justiça para adotar a criança.

Na França, o Código Civil permite o que é chamado de adoção simples, que é quando a criança é adotada por outra pessoa, mas sem perder os laços com os pais biológicos. Diferente da adoção comum, quando os pais adotivos substituem no registro os biológicos. Nas adoções simples, os pais biológicos mantêm os laços jurídicos com a criança, mas deixam de ter autoridade sobre ela, que passa a ser responsabilidade dos pais adotivos.

A lei francesa prevê uma exceção à regra da adoção simples: quando a criança adotada é filha de um dos cônjuges. Neste caso, não há substituição de responsabilidade, e sim compartilhamento. Quer dizer, os dois cônjuges passam a exercer os mesmos direitos legais sobre a criança. Essa exceção, no entanto, não se aplica para aqueles que vivem em união estável.

Por conta disso, Valérie foi impedida de adotar a filha biológica de Nathalie. A Justiça da França entendeu que, se houvesse a adoção, a transferência de responsabilidade seria inevitável e a mãe biológica deixaria de ter autoridade sobre aquela criança. Isso não seria no melhor interesse da menor, concluiu o Judiciário francês.

A Corte Europeia de Direitos Humanos ouviu as partes envolvidas numa audiência em abril do ano passado. Além da França e das duas mulheres, foram autorizadas a intervir no processo uma associação de defesa dos direitos humanos, grupos europeus de defesa dos direitos dos homossexuais e entidade britânica que incentiva a adoção. A decisão que será anunciada pela corte na quinta não é definitiva e poderá ser rediscutida pela câmara principal de julgamentos do tribunal.


Disponível em <http://www.conjur.com.br/2012-mar-11/corte-europeia-decide-gay-adotar-filho-biologico-parceiro>. Acesso em 13 mar 2012.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Polícia força casal de lésbicas a se separar na Indonésia

Alice Budisatrijo
Atualizado em  26 de agosto, 2011 - 09:11 (Brasília) 12:11 GMT

As mulheres estavam casadas legalmente havia vários meses, porque uma delas fingiu ser homem no dia do casamento, ludibriando o clérigo islâmico que celebrou a cerimônia.

O casal foi denunciado por vizinhos que questionaram a legitimidade da união e contataram a polícia.

Depois de ser forçadas a se divorciar, as mulheres voltaram para suas famílias e permanecem sob a vigilância das autoridades encarregadas de fazer valer a lei da sharia, ou lei islâmica, no país.

Punição

O chefe da polícia religiosa local defendeu que, como punição, as duas mulheres sejam decapitadas e tenham seus corpos queimados, de acordo – segundo ele – com os princípios do islamismo.

Entretanto, a província de Aceh, a única no país que acata os preceitos da lei da sharia, não tem legislação definindo como tratar o tema do homossexualismo.

Em 2009, o Legislativo provincial aprovou a aplicação de chibatadas para homossexuais e a pena de morte por apedrejamento para adúlteros, mas o Executivo se recusou a assinar a lei.
Embora não seja visto com bons olhos, o homossexualismo é legalmente permitido na Indonésia.

Ativistas de direitos humanos dizem que as leis de Aceh violam a Constituição indonésia e incentivam o patrulhamento social e a intolerância.

Disponível em <http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/08/110826_indonesia_gays_pu.shtml>. Acesso em 16 fev 2012.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Mais de 70% de alunos homossexuais vítimas de “bullying” nas escolas

Lusa
08.12.2011 - 21:14 

As Nações Unidas revelaram que mais de 70% dos alunos homossexuais dizem ser vítima de “bullying” nas escolas. A organização, que se mostra cada vez mais preocupada com o fenómeno, preparou um conjunto de recomendações aos governos.

À frente dos esforços da ONU está a Agência para a Educação e Cultura (UNESCO), cujo director em Nova Iorque, Philippe Kridelka, afirmou nesta quinta-feira que as vítimas de assédio homofóbico apresentam maiores taxas de abandono escolar e que este é “um dos maiores factores que levam ao suicídio entre os jovens”. 

“Por isso, a UNESCO acelerou recentemente os seus esforços para lidar com o assédio homofóbico nas escolas”, disse Kridelka, numa conferência nas Nações Unidas sobre o “bullying”, organizado por organizações de Direitos Humanos e alguns estados membros, como a Noruega. 

Por causa da orientação sexual ou identidade de género, jovens “são frequentemente sujeitos a violência dentro de escolas e universidades”, o que “viola o direito à Educação e a um ambiente de aprendizagem são”.

Em muitos países da OCDE, a percentagem de alunos gay que dizem ser vítimas de assédio homofóbico supera os 70%, “nalguns 90%”, disse Kridelka. “As consequências podem ser desastrosas para os indivíduos e para a sociedade”, afirmou. 

O evento contou com a participação de vários activistas dos direitos de jovens LGBT, como o jovem nigeriano Ife Orazulike, que tem vindo a receber ameaças de morte, e Judy Shepard, cujo filho foi espancado até à morte em 1998 num dos maiores crimes homofóbicos recentes nos Estados Unidos. 

Tomando a liderança entre as agências da ONU, a UNESCO lançou há poucos meses uma pesquisa global sobre o assédio homofóbico nas escolas. Na base está o trabalho que tem sido desenvolvido no Brasil e Ásia para criar materiais escolares que ajudam professores e alunos a discutir a diversidade sexual, entre outras iniciativas recentes. 

Depois de um estudo de políticas existentes em escolas e universidades em todo mundo sobre o assédio homofóbico, “medidas que funcionam, o que falta e quais as acções prioritárias que precisam de apoio”, os resultados da pesquisa estão a ser avaliados, esta semana no Rio de Janeiro, por peritos e atores políticos de todo o mundo, disse Kridelka. 

“O plano é identificar as melhores condutas e recomendações práticas que podem ser partilhadas com Ministérios de Educação em todo o mundo para guiar o desenvolvimento e implementação de políticas apropriadas à idade e contextos específicos”, adiantou. 

Em Junho, o Conselho de Direitos Humanos aprovou a primeira resolução da ONU específica sobre os direitos da comunidade LGBT, expressando “grave preocupação” com a violência baseada na identidade de género e pedindo ao Alto Comissariado para os Direitos Humanos para fazer um levantamento sobre o fenómeno em todas as regiões. 

Este estudo estará disponível nas próximas semanas e será discutido em Março no Conselho dos Direitos Humanos, em Genebra, segundo adiantou o secretário-geral adjunto da ONU para os Direitos Humanos, Ivan Simonovic. 

A violência e discriminação homofóbica contra jovens tem tido “atenção a menos” na ONU, referiu, mas a publicação deste documento é “um sinal de progresso nas Nações Unidas e um reflexo de maior consciencialização global sobre a seriedade e legitimidade da preocupação sobre o tratamento de indivíduos LGBT”.

Disponível em <http://www.publico.pt/Sociedade/mais-de-70-de-alunos-homossexuais-vitimas-de-bullying-nas-escolas-1524317>. Acesso em 09 dez 2011.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Pesquisa mostra que 99% dos brasileiros têm preconceito contra homossexuais

O Globo
Publicada em 07/02/2009 às 20h42m


Só 1% dos brasileiros maiores de 16 anos não têm preconceito contra homossexuais. Entre 26% e 29% - mais de um quarto da população- assumem não gostar de gays, lésbicas, travestis ou transexuais. Os demais até disfarçam, mas 99% caíram na malha fina de uma pesquisa nacional feita pelas fundações Perseu Abramo, ligada ao PT, e Rosa Luxemburgo.

O que mais chama a atenção na pesquisa é a quantidade de brasileiros que admitiu preconceito contra homossexuais

O governo federal usará o levantamento para planejar novas políticas, e alerta que já detectou um desdobramento sombrio de tanto preconceito: a intolerância. A cada três dias de 2008, foi pelo menos um crime de ódio por orientação sexual no país, segundo o programa federal Brasil Sem Homofobia. Dentro de instituições públicas, principalmente nas polícias, a intolerância tem sido detectada. Além da violência física, o preconceito tem criado barreiras na educação e na saúde públicas.

- O que mais chama a atenção na pesquisa é a quantidade de brasileiros que admitiu preconceito contra homossexuais. Em duas pesquisas anteriores, 4% admitiram ter preconceito contra negros (2003) e também 4% contra idosos (2006) - disse o professor de sociologia da USP Gustavo Venturi, coordenador das três pesquisas.

A pesquisa sobre homofobia, que ouviu 2.014 brasileiros em 150 cidades, fez um retrato do preconceito em três dimensões: o assumido, o disfarçado e o "dos outros". Entre os preconceituosos assumidos, 16% admitiram ter forte preconceito, ao ponto de considerarem os homossexuais como "doentes", "safados" ou "sem caráter".


Disponível em <http://oglobo.globo.com/pais/mat/2009/02/07/pesquisa-mostra-que-99-dos-brasileiros-tem-preconceito-contra-homossexuais-754312558.asp>. Acesso em 06 fev 2010.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Drag queens de 14 e 17 anos são agredidos e pedem paz

Top News
18/12/2011 - 15:46:21

Para quem ainda não acredita que a homossexualidade é de cada individuo basta conhecer a história de dois adolescentes, um de 17 e outro de 14, que atualmente já trabalham como drag queen em Cuiabá e fizeram questão de ir à Parada do Orgulho Gay para protestar contra a homofobia. Eles sentiram na pele o que o radicalismo pode provocar . Foram vítimas de agressão por homens que simplesmente acham divertido bater em homossexuais.

A agressão aconteceu quando os dois estavam apenas conversando no bairro onde moram. Nem sequer estavam transformados. Um carro chegou com três homens que desceram e mandaram que os adolescentes ajoelharem, iniciando, covardemente, a agressão. O medo tomou conta da vida dos dois adolescentes, que atualmente evitam sair vestidos para os shows e acabam usando táxis para garantir mais segurança nas noites. 

Eles se apresentam em festas e eventos, mas deixam para se transformar nos locais e após o show tiram a maquiagem e a roupa. Essa é uma das medidas de segurança que eles adotaram para evitar a violência dos grupos mais radicais. 

Os dois jovens não convivem apenas com a agressão física, mas também que a violência psicológica feita até mesmo por “colegas” de escola. “É difícil o relacionamento na escola. O bulling acontece o tempo todo porque o preconceito é muito grande”, conta Rainara Mantinelli (nome de guerra), 17 anos. 

Bianca Vougue, 14 anos, conta que assumiu a homossexualidade aos 11 anos para a família. Claro, que no início foi difícil para os pais aceitarem, mas atualmente, eles já “se acostumaram” e respeitam a orientação sexual escolhida pelo adolescente. A descoberta foi um tanto constrangedora, pois os familiares flagraram o jovem transformado.

Com Rainara não foi muito diferente, mas a revelação foi feita aos 13 anos. Ela sempre falava aos pais: “sou gay”, mas ainda assim eles demoraram para admitir que era verdade. “Com o tempo a família aceita, mas não é fácil”. 

Só que o preconceito também ocorre na hora de encontrar um namorado. Como drag queens enfrentam preconceito dos próprios gays. Rainara conta o homossexual prefere se relacionar com os mais “discretos” e o fato de serem transformistas acaba pesando na hora de encontrar o “homem ideal”. 

Mesmo assim, elas não desistem e preferem continuar lutando pelos seus direitos. A participação na Parada Gay não foi apenas com o intuito de diversão, mas sim de tentar alerta a sociedade para um fato que não há mais como ser ignorado: a homossexualidade existe e é preciso haver respeito. 

Com o tema “Amai-vos uns aos outros”, a manifestação tenta mostrar para a população que o preconceito não é coisa de Deus e é preciso saber conviver em harmonia com as diversidades, sejam elas sexuais, de credos, sejam de raça. 

Disponível em <http://www.topnews.com.br/noticias_ver.php?id=8505>. Acesso em 18 dez 2011.