Mostrando postagens com marcador pesquisa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador pesquisa. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 30 de julho de 2013

Estudo descobre vantagem reprodutiva em homens com voz grave

Nicholas Bakalar
03/12/07

Homens com voz grave podem ter vantagem de sobrevivência, com chances melhores de perpetuar genes. Pesquisadores descobriram que os homens com voz mais grossa têm mais filhos, pelo menos entre os hadza, tribo de caçadores da Tanzânia.

De acordo com informações anteriores de um artigo publicado online para a edição de 22 de dezembro da revista científica "Biology Letters", a maioria das mulheres das sociedades ocidentais se sente mais atraída a homens que têm voz mais grave, associando essa característica a indivíduos mais saudáveis e viris. Os homens, por sua vez, acham que as vozes mais agudas são mais atraentes.

É difícil descobrir quais são os motivos evolucionários que explicam o êxito reprodutivo em uma sociedade que usa métodos modernos de controle de natalidade. Os hadza não fazem controle de natalidade e escolhem seus próprios parceiros. Isso faz com que se constituam no que os pesquisadores chamam de "população de fertilidade natural" em que é possível testar hipóteses sobre êxito reprodutivo humano.

Os pesquisadores coletaram gravações de voz (os hadza falam o idioma swahili) e o histórico reprodutivo de 49 homens e 52 mulheres, a fim de identificar se o tom de voz teria alguma influência na quantidade de filhos.

Depois de idade, detectou-se que tom de voz é um indicador extremamente preciso da quantidade de filhos gerados pelo homem. Além disso, homens com vozes mais graves têm um número significativamente maior de filhos. Os pesquisadores estimaram que a qualidade de voz, isoladamente, representaria 42% da diferença no êxito reprodutivo masculino. A qualidade da voz feminina não possui relação com o número de filhos que as mulheres têm.

As explicações para o fato de homens com voz mais grossa terem maiores chances de gerar mais filhos não são claras, mas os pesquisadores destacam algumas possibilidades. Os homens de voz grave talvez tenham mais parceiras, parceiras mais saudáveis ou façam intervalos mais curtos entre o nascimento de um filho e outro, ou talvez comecem a reproduzir mais precocemente.

Este estudo, como apontam seus autores, é o primeiro a analisar o efeito do tom de voz na aptidão darwiniana em seres humanos. As descobertas vão ao encontro das constatações de diversos estudos que mostram que os sinais acústicos exercem um papel na influência da escolha feminina de parceiros em animais.

Coren Apicella, principal autora do estudo e doutoranda em antropologia biológica em Harvard, disse que as descobertas "podem, na verdade, não ter um reflexo em nossa sociedade quanto à vantagem reprodutiva." Observamos muitas características na hora de escolhermos parceiros, observou ela.

Além disso, como a paternidade foi identificada por relatos pessoais, não por DNA, pode ser que homens de voz mais grossa apenas sejam mais confiantes em relação à paternidade.


Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL199910-5603,00-ESTUDO+DESCOBRE+VANTAGEM+REPRODUTIVA+EM+HOMENS+COM+VOZ+GRAVE.html. Acesso em 25 jul 2013.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Atenção à saúde de pacientes com ambiguidade genital

Susane Vasconcelos Zanotti
Hélida Vieira da Silva Xavier
Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Arquivos Brasileiros de Psicologia; Rio de Janeiro, 63 (2): 1-121, 2011

Resumo: A presente pesquisa buscou conhecer e compreender as ações envolvidas na atenção à saúde de pacientes com ambiguidade genital em um Hospital Geral do Nordeste. A metodologia consistiu em levantamento de dados nos prontuários para identificar os casos de ambiguidade genital atendidos no período de 2003 a 2007 e entrevistas com profissionais da área de saúde. A chegada ao hospital de um sujeito com genitália ambígua fomenta questões delicadas pertinentes ao diagnóstico e tratamento à problemática. Este último esbarra em limitações relacionadas à infraestrutura do hospital. Somado a isso, as dificuldades geradas pela dinâmica hospitalar restringe a conduta dos profissionais de saúde envolvidos na atenção à saúde de pacientes com ambiguidade genital.


sábado, 13 de julho de 2013

Módulos de amor especializados

Mente Cérebro

Os neurocientistas Andreas Bartels e Semir Zeki, da University College de Londres, pediram a milhares de estudantes ingleses que se manifestassem caso se sentissem “verdadeira, enlouquecida e profundamente” apaixonados. Resultado: receberam cerca de 70 respostas, sendo três quartos delas de mulheres. Pediram então aos colaboradores que apresentassem uma breve descrição do relacionamento que viviam, fizeram em seguida entrevistas e, finalmente, selecionaram 11 voluntárias e 6 voluntários de várias culturas e etnias, de 11 nacionalidades diferentes.

Surpreendentemente, nenhum dos participantes acabara de se apaixonar, todos estavam em uma relação mais longa, de dois anos em média – e extremamente satisfatória. Mas a seleção tinha funcionado: ao responderem a um questionário psicológico do amor já aplicado a centenas de apaixonados, os voluntários atingiram “valores de amor” bastante altos. Para maior garantia, foi aplicado um teste psicológico suplementar que, à semelhança de um detector de mentiras, se fundamentava na medição da resistência da pele. Quase todos os voluntários suaram diante da foto do parceiro.

Os apaixonados foram submetidos à tomografia de ressonância magnética funcional, procedimento que torna visível a atividade de várias áreas cerebrais em determinado momento, com alta resolução espacial. “É verdade que o desconfortável tubo do escâner não é exatamente propício à produção de sentimentos amorosos; ainda assim, mostramos ao voluntário uma foto da pessoa amada, pedindo que relaxasse pensando nela e todos relataram, apesar das condições desfavoráveis, sentir claramente o próprio afeto”, diz Andreas Bartels.

Como medida de controle, os voluntários observaram fotos de três colegas do mesmo sexo e idade de seus parceiros, e os neurocientistas compararam a atividade cerebral nas duas situações distintas. Quatro áreas diferentes, bem pequenas, se iluminavam apenas quando os participantes pensavam carinhosamente nos parceiros. Todas elas se localizavam espelhadas nas duas metades do cérebro no sistema límbico, que controla as emoções. Não foram encontradas diferenças significativas de atividade no córtex óptico entre a reação às fotos do parceiro e às de colegas. Ao que parece, o “cérebro visual” apenas transmite a informação objetiva ao “cérebro emotivo”.

A imagem da atividade no sistema límbico, porém, diferenciava-se claramente de modelos antes encontrados em estudos de emoções positivas. No caso das quatro áreas ativadas, trata-se, então, efetivamente de algo como “módulos de amor especializados”. Provavelmente, cada um deles tem uma função específica. Assim, drogas estimulantes como a cocaína, por exemplo, ativam áreas bem mais extensas do cérebro, incluindo os quatro módulos do amor. É possível pensar que o amor seja compreendido não apenas do ponto de vista psicológico, mas também pelo enfoque neurológico.

Além disso, essas zonas neuronais distinguem o amor da pura excitação sexual. O desejo estimula regiões do hipotálamo que em outras experiências ficam inativas. Por outro lado, o amor sensual parece ativar o núcleo caudado e o putâmen, áreas onde estão dois dos módulos do amor. É possível considerar que eles tragam o elemento erótico para o amor romântico.

O terceiro módulo do amor está localizado no córtex cingular anterior, estrutura que nos ajuda a reconhecer os próprios sentimentos e os do parceiro – capacidade certamente essencial para manter um relacionamento amoroso. O quarto módulo, por fim, é uma parte da ínsula situada no interior do diencéfalo que tem diversas funções. Talvez a principal seja identificar “pessoas interessantes”, já que sua atividade aumenta quanto mais atraentes forem os rostos apresentados. Aparentemente, essa estrutura integra a percepção visual ao mundo emocional. Além disso, parece receber informações da região estomacal: talvez o “frio” na barriga faça uma “parada” na ínsula antes de encontrar o caminho até a consciência.


Disponível em http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/modulos_de_amor_especializados.html. Acesso em 09 jul 2013.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Percepções sobre a assexualidade por pessoas não assexuais

Elisabete Regina Baptista de Oliveira
7 de junho de 2012

O artigo sobre o qual falaremos hoje é um dos poucos artigos acadêmicos sobre assexualidade escritos em espanhol. De autoria do Professor Luis Álvarez Munárriz, catedrático de Antropologia Social da Universidade de Murcia, na Espanha, o trabalho apresenta reflexões sobre assexualidade, bem como alguns resultados de entrevistas feitas por ele com o objetivo de conhecer um pouco mais sobre o que as pessoas pensam sobre esse tema.

Fiz um recorte dos temas do artigo para focar somente na pesquisa empírica feita pelo professor, bem como seus resultados e conclusões. Nesta pesquisa empírica, Munárriz conversou com diversos entrevistados, na universidade na qual leciona, para conhecer a percepção que estes tinham sobre a assexualidade, ou seja, como veem falta de desejo sexual na perspectiva da orientação sexual. No restante do artigo - que não será abordado nesta postagem - o antropólogo analisa algumas falas de assexuais em postagens na internet, analisado-as a partir de alguns referenciais teóricos da antropologia.

Primeiramente, Munárriz entrevistou, na própria universidade, 12 pessoas que não se consideram assexuais, com o objetivo de saber sua opinião sobre o conceito de assexualidade. Nesses contatos, o pesquisador deparou-se com diferentes visões, entre elas, pessoas incrédulas, que não acreditam que uma pessoa normal não sinta desejo sexual ou que não tenha fantasias sexuais. Uma informante declarou: “Não consigo imaginar uma jovem de 18 anos que seja assexual.”

Outro entrevistado disse: “Isso é contraditório porque todas as pessoas têm desejo sexual, isso é impossível!” Outro declarou: “Se a pessoa não faz sexo, fica ruim da cabeça!” Outro perguntou ao entrevistador, em tom irônico: “E você, é assexual? Tudo bem, ser assexual.” Uma entrevistada mostrou-se indiferente à pergunta e respondeu: “OK, e daí?”, afirmando, em seguida, que ignorava que existisse esse tipo de pessoa, mas que não era surpresa e que não tinha nenhum interesse ou preocupação com esse assunto. Um entrevistado homossexual respondeu: “Todas as condutas deveriam ser consideradas normais, eu acho que é positivo que os assexuais se sintam atraídos por outras pessoas, mas não tenham a necessidade de ter relação sexual.”

Nesta primeira aproximação, Munárriz constatou o enorme desconhecimento e estranhamento sobre a assexualidade que predomina sobre a população entrevistada, mas também uma tentativa de compreensão da assexualidade feita por um entrevistado pertencente a uma minoria sexual. Esse desconhecimento também foi constatado nos três grupos de discussão que ele realizou com estudantes universitários, com o mesmo objetivo, ou seja, saber o que pensam sobre o conceito de assexualidade. Um deles declarou:

A assexualidade é algo absurdo, impossível, já que a sexualidade está no ser humano. Só se a pessoa nasceu com um defeito genético, ou houve algum problema que inibiu seu desejo sexual, caso contrário é totalmente impossível a existência dessa orientação sexual. Eu acho que assexuais não existem.

Essas primeiras entrevistas serviram de base para que o antropólogo elaborasse um questionário simples, que tinha três objetivos: 1) calcular o percentual aproximado de assexuais entre os entrevistados; 2) saber o grau de conhecimento dessas pessoas sobre a assexualidade; e 3) obter uma definição aproximada de pessoa assexual.

Com esses objetivos, o estudioso aplicou o questionário a alunos de diferentes faculdades e campus da Universidade de Murcia. Recebeu 145 questionários respondidos, sendo 79 de mulheres e 66 de homens.

Uma das perguntas feitas pelo pesquisador era sobre a orientação sexual dos respondentes, incluindo as alternativas heterossexual, homossexual, bissexual e assexual. O objetivo dessa pergunta era saber se havia pessoas que se identificavam como assexuais entre os entrevistados. O resultado é que nenhum dos 145 respondentes se identificou como assexual em sentido estrito. Somente um respondente selecionou duas alternativas ao mesmo tempo: heterossexual e assexual. Todos os outros respondentes escolheram uma das outras três alternativas: heterossexual, ou homossexual ou bissexual. Esse resultado pode indicar o total desconhecimento da assexualidade como orientação sexual, ao menos como possibilidade de identificação.

Outra pergunta do questionário dizia respeito ao grau de conhecimento dos respondentes sobre a assexualidade. O resultado comprovou que existe um enorme desconhecimento sobre as pessoas assexuais, podendo isso ter reflexo nos resultados da primeira pergunta. A questão seguinte indagava sobre o grau de interesse dos respondentes pela atividade sexual. Como esperado, considerando que os respondentes eram todos jovens, a maioria revela ter muito interesse pela atividade sexual.

Em uma questão, Munárriz abordou a definição de assexualidade, a partir de duas perspectivas diferentes: a do desejo sexual e da resposta sexual, entendendo o desejo sexual como uma experiência subjetiva dos indivíduos e a resposta sexual como uma resposta biológica do corpo a um estímulo, também conhecida como libido. A esta pergunta, todos os entrevistados afirmaram possuir os dois, desejo e resposta. É altamente significativa a coerência que aparece nas respostas: todos os que têm desejo sexual também afirmam experimentar resposta do corpo a estímulos interpretados como sexuais. O pesquisador não fez nenhuma pergunta em relação à existência ou inexistência de atração sexual – que seria o direcionamento do desejo para outra pessoa - normalmente definida por muitos assexuais como característica de sua orientação sexual. Não está claro se ele compreende desejo e atração como sinônimos. Também não faz indagações sobre existência ou não de orientação afetiva, que também constitui uma parte importante da identidade assexual.

A última pergunta era aberta e indagava a opinião dos respondentes sobre a assexualidade. Um dos entrevistados respondeu da seguinte forma:

Acho que a sexualidade é parte fundamental do ser humano, é algo natural e permite a perpetuação da espécie. A assexualidade pode ter a ver com o medo, talvez o medo do desconhecido, medo dos riscos do sexo.

Em sua pesquisa nas comunidades assexuais na internet, Munárriz revela que não captou esse medo descrito por este respondente nos discursos dos assexuais, muito pelo contrário, os assexuais lhe pareceram bastante confiantes com a identificação como assexual. De qualquer modo, o resultado de sua pesquisa empírica mostra o quanto a assexualidade é desconhecida até mesmo por estudantes universitários, que têm acesso a tecnologias de informação e comunicação, que dirá da população geral que pode não ter esse acesso? E que implicações pode ter esse desconhecimento nas vidas daqueles e daquelas que se identificam como assexuais?

O pesquisador não fornece respostas claras aos objetivos formulados por ele na realização das entrevistas. Munárriz reconhece, no final do texto, as dificuldades em se reconhecer a assexualidade como uma orientação sexual, pois este reconhecimento significaria um grande abalo em tudo o que a ciência e a cultura construíram historicamente sobre sexualidade. Mas seu texto revela uma resistência muito grande por parte do pesquisador em perceber a assexualidade na perspectiva da orientação sexual. Para ele, não existe base suficiente para se aceitar a existência de uma nova identidade sexual e muito menos base para que a assexualidade possa se constituir no motor de uma verdadeira revolução sexual.

Texto comentado
Munárriz, L. A. La identidad “asexual”. Gazeta de Antropologia, no. 26/2, 2010, Articulo 40

Matéria intitulada Trajetória de jovens assexuais é tema de doutorado na USP, que noticia pesquisa, feita pela Agência Universitária de Notícias, da USP:http://www.usp.br/aun/antigo/www/_reeng/materia.php?cod_materia=1205211


Disponível em http://assexualidades.blogspot.com.br/2012/06/percepcoes-sobre-assexualidade-por.html. Acesso em 09 jul 2013.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Silicone aumenta chance de morte por câncer de mama, diz estudo

BBC BRASIL
1 de maio, 2013

Mulheres com implantes de silicone nos seios e que desenvolvem câncer de mama têm mais chances de morrer da doença, sugere uma pesquisa canadense.

Segundo o estudo, divulgado na publicação britânica British Medical Journal, as próteses não são as causadoras dos tumores, mas dificultam o diagnóstico do câncer em seus estágios iniciais.

Os autores da pesquisa, o epidemiologista Eric Lavigne e o professor Jacques Brisson, ambos da Universidade de Quebec, analisaram os resultados de 12 estudos publicados desde 1993 nos Estados Unidos, Canadá e no Norte da Europa.

Eles concluíram que mulheres com silicone tem 26% mais chances de serem diagnosticadas com câncer nos estágios avançados da doença - justamente porque a prótese impediu o diagnóstico no estágio inicial. Uma análise de cinco estudos mostrou que a chance de morte entre pacientes com prótese aumenta 38%.

Cautela

O estudo afirma que a presença do silicone dificulta a identificação do câncer por exames de raio-X e mamografias. Em contrapartida, o implante pode facilitar a detecção manual dos tumores porque fornece uma superfície contra a qual o nódulo se apoia.

"A pesquisa sugere que a cirurgia cosmética para aumento dos seios pode prejudicar o índice de sobrevivência entre mulheres que posteriormente são diagnosticadas com câncer de mama", afirmaram os pesquisadores.

No entanto, eles ponderam que os resultados devem ser interpretados com cautela, porque os dados de alguns estudos não se encaixam nos critérios da meta-análise, um método de pesquisa que tenta combinar resultados de estudos independentes sobre um único tema.

Os canadenses defendem a necessidade de mais estudos para investigar os efeitos a longo prazo dos implantes cosméticos de mama na identificação e prognóstico de câncer.

Segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, em 2011 foram realizadas quase 149 mil cirurgias de aumento dos seios no Brasil, colocando o país atrás somente dos Estados Unidos no ranking do número de mulheres que realizam a cirurgia. Em todo o mundo, foram 1,2 milhão de cirurgias.


Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/05/130501_silicone_cancer_fl.shtml. Acesso em 09 jul 2013.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Brasil é um dos piores países para mulheres empreendedoras

Olhar Digital
28 de Junho de 2013

O Brasil está entre os piores países para mulheres empreendedoras. Um ranking da Dell, baseado em estudo da Global Entrepreneurship and Development Index (GEDI), mostra que, entre os 17 países analisados, o Brasil fica apenas em 14º.

O ranking dá uma pontuação de 0 a 100 para cada um dos países, levando em conta 30 indicadores. Segundo a Exame, os dados foram extraídos de diversas fontes, de modo a analisar quantidade de empreendedoras e programas de incentivo.

À frente do Brasil estão surpresas como Malásia, que tem uma economia minúscula em relação ao Brasil, e China, onde há um grande histórico de misoginia.

Os Estados Unidos lideram o ranking, com 76 pontos, seguido por Austrália, com 70, e Alemanha, com 63. Os piores países da lista para uma mulher empreendedora seriam Uganda e Índia, cada uma com 32 pontos.

Confira a lista:

1- Estados Unidos: 76
2- Austrália: 70
3- Alemanha: 63
4- França: 56
5- México: 55
6- Reino Unido: 51
7- África do Sul: 43
8- China: 41
9- Malásia: 40
10- Rússia: 40
11- Turquia: 40
12- Japão: 39
13- Marrocos: 38
14- Brasil: 36
15- Egito: 34
16- Índia: 32
17- Uganda: 32


Disponível em http://olhardigital.uol.com.br/produtos/digital_news/noticias/brasil-e-um-dos-piores-paises-para-mulheres-empreendedoras. Acesso em 29 jun 2013.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Adolescentes em situação de prostituição: uma análise sobre a exploração sexual comercial na sociedade contemporânea

Renata Maria  Coimbra Libório
Psicologia: Reflexão e Crítica, 2005, 18 (3), pp. 413-420


Resumo: A presente pesquisa teve como objetivo principal compreender os processos que conduzem à produção da exploração sexual comercial de adolescentes na sociedade contemporânea. Realizamos uma análise da literatura da área e um estudo de campo, que contou com a participação de 14 adolescentes do sexo feminino, que se encontravam em situação de prostituição.  Foram utilizados como procedimentos  metodológicos:  aplicação de questionários- entrevista, realização de entrevistas abertas, observações e informações de educadoras sociais. Elaboramos o perfil sócio-demográfico das adolescentes e suas famílias e criamos categorias temáticas expressivas dos conteúdos identificados.  Constatamos que na produção do fenômeno encontram-se presentes múltiplos fatores que se entrecruzam de forma  sinérgica nas trajetórias de vida das adolescentes. Ações de enfrentamento ao fenômeno requerem  ações macro-estruturais e focais, nos mostrando a necessidade de repensarmos  as concepções sobre os direitos  das crianças e adolescentes, vivência de sexualidade, valores culturais e sociais, que acabam por permitir a emergência e perpetuação da exploração  sexual comercial de crianças e adolescentes.



quarta-feira, 26 de junho de 2013

Um em cada cinco brasileiros sofreu punição física regular na infância

Karina Toledo
29/06/2012

Uma pesquisa realizada em 11 capitais brasileiras revelou que mais de 70% dos 4.025 entrevistados apanharam quando crianças. Para 20% deles, a punição física ocorreu de forma regular – uma vez por semana ou mais.

Castigos com vara, cinto, pedaço de pau e outros objetos capazes de provocar danos graves foram mais frequentes do que a palmada, principalmente entre aqueles que disseram apanhar quase todos os dias.

O levantamento foi feito em 2010 e divulgado este mês pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP.

O objetivo da pesquisa, segundo Nancy Cardia, vice-coordenadora do NEV, foi examinar como a exposição à violência afeta as atitudes, normas e valores dos cidadãos em relação à violência, aos direitos humanos e às instituições encarregadas de garantir a segurança.

“A pergunta sobre a punição corporal na infância se mostrou absolutamente vital para a pesquisa. Ao cruzar esses resultados com diversas outras questões, podemos notar que as vítimas de violência grave na infância estão mais sujeitas a serem vítimas de violência ao longo de toda a vida”, disse Cardia.

A explicação mais provável para o fenômeno é que as vítimas de punição corporal abusiva na infância têm maior probabilidade de adotar a violência como linguagem ao lidar com situações do cotidiano.

“A criança entende que a violência é uma opção legítima e vai usá-la quando tiver um conflito com colegas da escola, por exemplo. Mas, ao agredir, ele também pode sofrer agressão e se tornar vítima. E isso cresce de forma exponencial ao longo da vida”, disse Cardia.

Os entrevistados que relataram ter apanhado muito quando criança foram os que mais escolheram a opção “bater muito” em seus filhos caso esses apresentassem mau comportamento. Também foram os que mais esperariam que os filhos respondessem com violência caso fossem vítimas de agressão física na escola. Segundo os pesquisadores, os dados sugerem um ciclo perverso de uso de força física que precisa ser combatido.

Os resultados foram comparados com levantamento semelhante de 1999, realizado pelo NEV nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife, Belém, Manaus, Porto Velho e Goiânia. No levantamento de 2010, a capital Fortaleza também foi incluída.

Embora o percentual dos que afirmam ter sofrido punição física regular tenha diminuído na última década – passando de um em cada quatro entrevistados para um em cada cinco –, ainda é considerado alto.

A pesquisa mostrou também que a percepção da população sobre crescimento da violência diminuiu, passando de 93,4% em 1999 para 72,8% em 2010. No último levantamento, porém, foi maior a quantidade de entrevistados que disse ter presenciado em seus bairros uso de drogas, prisão, assalto e agressão.

De modo geral, houve uma melhora na avaliação das instituições de segurança. O Exército apresentou um aumento expressivo de 55,2% em 1999 para 66,6% em 2010. A aprovação da Polícia Federal saltou de 42% para 60%. O índice de aceitação da Polícia Militar, a mais mal avaliada, passou de 21,2% para 38%.

Penas e prisões

Um achado considerado preocupante pelos pesquisadores foi o crescimento da tolerância ao uso de violência policial contra suspeitos em determinados casos. O número de pessoas que discorda claramente da tortura para obtenção de provas caiu de 71,2% para 52,5%, o que significa que quase a metade dos entrevistados (47%) toleraria a violência nessa situação.

Também caiu o percentual dos que discordam totalmente que a polícia possa “invadir uma casa” (de 78,4% para 63,8%), “atirar em um suspeito” (de 87,9% para 68,6%), “agredir um suspeito” (de 88,7%, para 67,9%) e “atirar em suspeito armado” (de 45,4% para 38%).

Quando questionados sobre qual seria a punição mais adequada para delitos considerados graves – entre eles sequestro, estupro, homicídio praticado por jovem, terrorismo, tráfico de drogas, marido que mata mulher e corrupção por político –, muitos entrevistados defenderam penas que não fazem parte do Código Penal brasileiro, como prisão perpétua, pena de morte e prisão com trabalhos forçados.

A pena de morte foi mais aceita em casos de estupro (39,5%) e a prisão com trabalhos forçados foi mais defendida para políticos corruptos (28,3%).

“Já esperávamos que a população apoiasse penas mais duras por causa da frustração que existe em relação à impunidade. O conjunto das respostas indica que as pessoas consideram as prisões como um depósito”, avaliou Cardia.

Para a maioria dos entrevistados, a prisão é percebida como pouco ou nada eficiente tanto para punir (60,7%) e reabilitar (65,7%) criminosos como para dissuadir (60,9%) e controlar (63%) possíveis infratores. Essa questão foi avaliada apenas na pesquisa de 2010.

Outro aspecto da pesquisa considerado negativo por Cardia foi a baixa valorização de direitos democráticos como liberdade de expressão e de oposição política.

Mais de 42% dos entrevistados concordam totalmente ou em parte que é justificável que o governo censure a imprensa e 40% aceitam que pessoas sejam presas por posições políticas, com a finalidade de manter a ordem social. Para 40,4%, o país tem o direito de retirar a nacionalidade de alguém por questões de segurança nacional.

“Esperávamos que, 30 anos após o fim da ditadura, os valores da democracia tivessem 70% ou 80% de aprovação, mas isso não ocorreu. Além disso há focos muito pouco democráticos que sobrevivem, como o apoio à tortura. Há resquícios do pensamento de que degredo é legítimo e pode ser aplicado no século 21. É chocante”, disse Cardia.


Disponível em http://agencia.fapesp.br/15812. Acesso em 22 jun 2013.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Travestis e educação formal: diferença insuportável para o currículo

Aline Ferraz da Silva
Universidade Federal de Pelotas–RS
Instituto Federal do Rio Grande do Sul
III Seminário Nacional Gênero e Práticas Culturais

Qual a primeira imagem, cena, conceito que nos remete a palavra “travesti”? Homem vestido de mulher? O contrário talvez? Prostituição? Criminalidade? Sexo? Transgressão? Imoralidade? (in)Diferença? Talvez, todas as alternativas ou nenhuma? Durante pesquisa realizada em nível de mestrado (Silva, 2009) abordei as relações que três estudantes gays mantinham com sua comunidade escolar e os efeitos que suas presenças geravam no currículo, surgiram nas entrevistas diversos temas e questões que em razão do foco do estudo acabaram sendo secundarizadas no trabalho final. Uma dessas questões diz respeito ao travestimento, já que eventualmente as três estudantes frenquentavam a escola montadas. Em suas falas, as travestis apareciam como um gay que realiza transformações corporais para se parecer com uma mulher, e com uma conexão muito forte com prostituição e marginalidade. Figuras que sofrem preconceito tanto no meio hetero quanto no homossexual.

texto completo

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Pesquisa revela que mercado ainda percebe discriminação sexual na contratação

Amanda Moura
3/08/12

Pesquisa realizada pela Trabalhando.com Brasil indica que ainda existe preconceito na hora de contratar um homossexual. Dos 400 entrevistados — homossexuais ou não —, 54% acreditam que o preconceito existe, apesar de não ser assumido; 22% dizem que a discriminação depende do tipo de área e vaga desejada e apenas 3% pensam que esse problema não existe mais. Participaram, anonimamente, representantes de 30 empresas, de médio e grande portes.

— Noto que profissionais homossexuais são, sim, contratados. Porém, dificilmente alcançam cargos de diretoria. Em áreas e empresas onde há mais competição e, por consequência, maiores salários, essas pessoas sofrem ainda mais para alcançar um patamar elevado — afirma Eliana Dutra, coach e diretora da Pro-Fit, empresa de coaching e treinamento profissional.

Renato Grinberg, diretor geral da Trabalhando.com Brasil, defende veementemente que a orientação sexual do candidato não pode ser levada em conta no momento da entrevista, bem como outros aspectos de sua intimidade.

— Em países como os Estados Unidos, por exemplo, fazer qualquer tipo de pergunta que não seja de cunho profissional no momento da entrevista, como perguntar a idade, o estado civil e se a pessoa tem filhos, é proibido por lei. O que é de fato relevante na contratação são suas competências, não o que ele faz nas horas vagas ou com quem se relaciona — explica Grinberg. Julyana Felícia, gerente de RH da MegaMatte, ressalta que a lei federal brasileira também trata do assunto:

— A nossa legislação é clara quanto a proibição de diferença de salário, exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. Apesar disso, o assunto ainda é um tabu no mundo corporativo e a contratação do homossexual pode ser influenciada pelo perfil que a empresa busca. Em algumas corporações com foco em atendimento ao público, noto maior quantidade de colaboradores homossexuais, por serem geralmente vistos como muito simpáticos e atenciosos.

O levantamento mostra também que 21% dos consultados têm notado que, com o passar dos anos, o preconceito vem diminuindo. Ylana Miller, sócia-diretora da Yluminarh e professora do Ibmec, acredita que essa regressão vem acontecendo, sim, mas lentamente.

— Ainda há muitos sistemas organizacionais onde o preconceito é velado e o discurso é bem diferente da ação. Divulgam crenças e valores não preconceituosos, mas na prática não é o que vemos, tanto em relação a orientação sexual, como a religião e ao nível socioeconômico — diz Ylana.

Este ano, pela primeira vez, todas as corporações listadas no ranking das 100 melhores empresas da Fortune possuem políticas contra a discriminação, o que inclui a orientação sexual. “Não é surpreendente para mim que os lugares que são classificados como os melhores para trabalhar sejam também os que respeitam e valorizam os seus funcionários. A evolução é claramente no sentido da igualdade no local de trabalho", disse Michael Cole-Schwartz, gerente de comunicações da “Human Rights Campaign”, uma organização que defende lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros americanos, em entrevista para à CNN Money.

Disponível em http://oglobo.globo.com/emprego/pesquisa-revela-que-mercado-ainda-percebe-discriminacao-sexual-na-contratacao-5676727. Acesso em 08 dez 2012.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Brasileiros preferem casar com pessoas da mesma cor

Amanda Previdelli
17/10/2012 10:17

O Brasil não é tão miscigenado quanto se pensa. No país, pessoas brancas preferem casar com brancas, negras com negras, asiáticas com asiáticas, pardas com pardas e indígenas também preferem se unir com indígenas. Pelo menos é o que aponta pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Censo Demográfico de 2010 - "Nupcialidade, fecundidade e migração", divulgado hoje pelo IBGE, mostra que, entre os brancos, por exemplo, 73,7% dos homens em uma união estável se relacionam com mulheres brancas. 21,1% deles são casados com pardas, 4,6% com negras e apenas 0,5% com asiáticas (o percentual de brancos casados com indígenas é muito baixo: só 0,1%).

Não são só os brancos que preferem “casar entre si” – o fenômeno se repete em todas as outras raças. Entre pardos e indígenas, casamentos intrarraciais são bastante comuns. 68,1% das pessoas pardas são casadas com outra da mesma cor, 24,4% são casadas com brancas e apenas 6,8% com negras.

Entre os indígenas, 64,6% têm casamentos intrarraciais.

No caso de negros em relacionamentos estáveis, 50,3% têm como companhia uma pessoa negra, 25,5% se casaram com brancas e 22,9% com pardas. Os homens da “cor amarela”, segundo a pesquisa do IBGE são os que mais se unem com mulheres de outra cor ou raça: 38,8% são casados com mulheres asiáticas, mas 29,2% se casaram com pardas, 22% com brancas e 9,8% com mulheres negras (o percentual que se casou com indígenas é baixo, mas ainda o maior dentre não-indígenas: 0,3%).


branca
negra
amarela
parda
indígena
branco
75,3%
3,6%
0,6%
20,4%
0,1%
negro
26,4%
39,9%
1,4%
32,1%
0,2%
amarelo
24%
6,8%
44,2%
24,7%
0,3%
pardo
26,1%
3,9%
0,9%
69%
0,1%
indígena
16,6%
3,1%
1%
13,9%
65,4%
Disponível em <http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/brasileiros-preferem-casar-dentro-da-propria-etnia?utm_source=newsletter&utm_medium=e-mail&utm_campaign=news-diaria.html>. Acesso em 20 out 2012.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Brasil é o 11º em lista de melhores e piores países para ser mulher; veja ranking

Gladys Ferraz Magalhães 
13-06-2012

O Brasil ocupa a 11º colocação em ranking que lista os melhores e piores países, entre os membros do G20, para ser mulher, segundo revela levantamento divulgado nesta quarta-feira (13) pela Thomson Reuters Foundation.

O estudo, que ouviu 370 especialistas em gênero, levou em consideração, entre outros quesitos, as políticas dos governos voltadas às mulheres.

No que diz respeito ao Brasil, o documento aponta que as desigualdades sociais e econômicas têm um impacto desproporcional sobre as mulheres, sendo que as mais pobres, negras e indígenas são as mais afetadas.

Ranking

Por conta das fortes políticas contra a violência e a exploração combinadas com o bom acesso à educação e saúde fazem do Canadá o melhor país, entre as 20 maiores economias do mundo, para as mulheres.

Já o infanticídio e o casamento infantil são fatores que levaram a Índia a pior colocação dentre os pesquisados, conforme é possível observar na tabela a seguir. Vale lembrar que o estudo não considerou a União Europeia, que também é membro do Grupo.

Melhores e piores países do G20 para as mulheres
Colocação/País

Canadá
Alemanha
Reino Unido
Austrália
França
Estados Unidos
Japão
Itália
Argentina
10º Coreia do Sul
11º Brasil
12º Turquia
13º Rússia
14º China
15º México
16º África do Sul
17º Indonésia
18º Arábia Saudita
19º Índia

Disponível em <http://www.infomoney.com.br/minhas-financas/noticia/2464376>. Acesso em 11 out 2012.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Por que os homens procuram travestis?

Ivan Martins
20/05/2008

Mendes tem 37 anos, cabeça raspada e brinco na orelha direita. Pelos modos e pela aparência, o rapaz branco de família evangélica não se distingue de outros milhões de jovens paulistanos, exceto por uma particularidade importante: ele namora um travesti, Flávia. Os dois se conheceram há cinco anos no centro de São Paulo e, de lá para cá, constituem um casal. Na semana passada, sentado ao lado de Flávia na sala de um apartamento na Rua General Osório, Mendes explicava, em voz pausada, as bases da relação. “Nosso relacionamento é hétero”, afirma. Isso quer dizer que, no sexo, ele é a parte viril do casal, enquanto Flávia cumpre o papel de mulher. “Mas entre nós não existe só sexo. A gente tem amor e cuida um do outro.” Com cabelos negros e corpo esguio, Flávia ganha a vida se prostituindo nas ruas. Ele trabalha nas ruas como vendedor.

As palavras de Mendes revelam, sem explicar, um dos grandes mistérios da sexualidade moderna: a sedução exercida pelos travestis. Desde meados dos anos 70, quando despontaram nas esquinas das metrópoles brasileiras com saias minúsculas e seios exuberantes, essas criaturas híbridas conquistaram um espaço enorme no imaginário sexual do país. Todos os dias, milhares de homens se esgueiram por avenidas sombrias para comprar o prazer oferecido por seus corpos alterados. O risco envolvido nesse tipo de operação ficou claro há duas semanas, quando Ronaldo Nazário, o jogador de futebol mais famoso do mundo, transformou-se no protagonista de um escândalo que tinha como coadjuvantes três travestis do Rio de Janeiro. Ele foi com o grupo ao hotel Papillon e, durante a madrugada, desentendeu-se com um deles, Andréia Albertini. Acabaram todos na delegacia, de onde a história ganhou o mundo. A avalanche moral que desabou sobre Ronaldo a partir daí foi incapaz de responder à questão mais simples colocada pelo episódio: por que homens adultos e mesmo famosos arriscam segurança e reputação e vão atrás de travestis?

O antropólogo americano Don Kulick passou um ano vivendo com travestis em Salvador, sabe muito de seu cotidiano e mesmo de suas preferências íntimas. Mas não se arrisca a explicar quem são seus clientes. “Essa é uma grande incógnita. Embora acompanhasse os travestis todas as noites, não consegui distinguir um cliente típico”, diz. O livro de Kulick, professor da Universidade Nova York, sairá em português no fim deste mês, pela editora Fiocruz, com o títuloTravestis: Prostituição, Sexo, Gênero e Cultura no Brasil. Kulick conseguiu uma descrição razoavelmente rigorosa do que os fregueses exigem dos travestis. Durante um mês, pediu a cinco deles que registrassem o tipo de serviço prestado nas ruas. O resultado de 138 programas: em 52% dos casos os clientes queriam sodomizar, em 19% exigiam sexo oral, 18% queriam fazer aquilo que se costuma chamar de “troca-troca”, 9% pagaram para ser sodomizados e 2% para ser masturbados. “Não é insignificante que 27% dos homens nessa amostragem quisessem ser penetrados por travestis”, escreve s Kulick. “Mas esses homens não são maioria, como os travestis geralmente afirmam.”

‘‘Não é irrelevante que 27% dos homens da amostragem quisessem ser penetrados pelos travestis’’ 
DON KULICK, antropólogo americano

A confiar apenas no que dizem os travestis, o porcentual de seus clientes que se portam como homossexual passivo é alto. “Nove em cada dez homens querem ser penetrados”, diz Flávia, a namorada de Mendes. “Se o travesti não for bem-dotado e ativo, não ganha a vida na rua.” Exagero? Talvez. Assim como as prostitutas, os travestis têm uma relação antagônica com aqueles que pagam para usar seu corpo. Muitos não suportam exercer o papel viril que se exige deles na prostituição e o fazem com grande sofrimento, porque não encontram outra forma de ganhar a vida. Vingam-se dessa situação degradante com a mesma arma que a sociedade usa para humilhá-los: questionam a hombridade do freguês e o ridicularizam.

O psiquiatra Sérgio Almeida trabalha com travestis em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, e sua experiência corrobora em alguma medida a versão de Flávia. Cabe a Almeida a tarefa difícil de distinguir entre os travestis – definidos como homens que gostam de agir e sentir como mulher – e os transexuais, que se sentem mulheres aprisionadas em corpo masculino. Para estes, recomenda-se a cirurgia de troca de sexo. Para os travestis, ela equivale a uma mutilação e pode levar ao suicídio. Almeida gasta dois anos com cada paciente até decidir em que categoria ele se encaixa. “Desde 1997, fizemos 95 cirurgias e não tivemos nenhum problema”, afirma. O pós-operatório mostrou ao psiquiatra que ex-travestis são freqüentemente abandonados por seus parceiros quando perdem a anatomia masculina. E que os operados que insistem em continuar na prostituição perdem também a carteira de clientes. Algo de crucial desapareceu na cirurgia. “Não é verdade que os homens procuram travestis porque estes se parecem mulheres”, diz ele. “Eles querem o algo mais que as mulheres não têm.”

Os próprios envolvidos têm opiniões diferentes. Um leitor anônimo de epoca.com.br enviou depoimento no qual afirma, basicamente, que os travestis são a melhor opção sexoeconômica. Diz ele: “Já saí com vários travestis. O que me atraiu foi justamente o desejo físico pelos bumbuns e seios avantajados. Ficar com uma travesti para mim é conseguir a baixo preço uma mulher de porte e formas que eu jamais conseguiria pagar ou namorar”. Márcia, travesti paulista cuja foto abre esta reportagem, repele qualquer tentativa de analisar os homens com quem sai voluntariamente. “Para mim, homens que saem com travestis são heterossexuais de cabeça aberta, que topam qualquer coisa”, afirma. Advogado, casado, pai de uma moça, diz que tem impulsos de vestir-se e agir como mulher desde criança, mas que isso nunca o impediu de ter relações normais com mulheres: “Quando saio com um homem, ele não importa. O que me interessa é reforçar minha identidade de mulher”.

O mistério em torno dos homens que procuram travestis é proporcional à ignorância que cerca os próprios travestis. Como grupo populacional, eles são escarçamente estudados: não se tem a menor idéia de quantos sejam, no mundo ou no Brasil. Os líderes das organizações de travestis estimam que haja 5 mil ou 6 mil deles no Rio de Janeiro e uma quantidade muito maior – fala-se em 30 mil – em São Paulo. Nenhuma ciência ampara essas estimativas. Sabe-se que há travestis de Porto Alegre a Manaus, inclusive em cidades pequenas. Tem-se a impressão, entre os que lidam com o assunto, que o Brasil é o líder mundial nessa categoria – e o principal exportador para os países europeus, sobretudo Itália e Espanha. “O Brasil tem a maior população mundial de travestis e o maior número de travestis per capita”, afirma Kulick. Trata-se de uma opinião bem informada, mas é apenas opinião. Líderes de organizações de travestis como Keila Simpson, presidente da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais, querem que o censo inclua perguntas que permitam quantificar os diferentes grupos sexuais do país. “Como se pode dirigir políticas públicas a uma população de tamanho ignorado?”, diz.

A palavra-chave quando se trata de explicar a atração exercida pelos travestis parece ser ambigüidade. Eles são percebidos simultaneamente como homem e mulher, uma incongruência que mexe com as profundezas da psique humana. “O travesti mobiliza o desejo como mobiliza a repulsa”, afirma a psicanalista carioca Regina Navarro Lins. Outra psicanalista, Maria Rita Kehl, vê duas razões no fascínio pelos travestis. A primeira é que, por ser uma mulher com pênis, ele captura os restos das fantasias sexuais infantis. A outra está no fato de os travestis encarnarem a feminilidade de uma forma absoluta, que nenhuma mulher contemporânea aceitaria. “Só um travesti saberia ser tão feminino quanto quer a fantasia de alguns homens”, diz Maria Rita. “Se alguém sabe o que é ‘ser mulher de verdade’ (uma ficção masculina), é justamente o travesti.” Os próprios travestis são taxativos ao afirmar que seus fregueses procuram neles a diferença: a mulher com falo, a fantasia, o risco. “Transgressão é essencial. O proibido atrai”, afirma Marjorie, travesti com 20 anos de experiência nas ruas, que hoje trabalha na Secretaria de Assistência Social da Prefeitura do Rio de Janeiro. “As coisas que se dizem sobre os homens que saem com travestis são lendas machistas.”

Paira sobre essa discussão uma palavra que os psicanalistas detestam: patologia. Sim, as pessoas têm o direito inalienável de manter relações sexuais com quem quiserem, desde que haja consentimento mútuo. Posto isso, cabe a pergunta: está bem de cabeça um homem casado (como parece ser a maior parte dos clientes dos travestis) que abre a porta de seu carro na porta do Jockey Club, em São Paulo, e paga R$ 40 por uma hora de sexo com um homem que parece ser mulher? Os especialistas não têm uma resposta unânime a isso.

“Só um travesti saberia ser tão feminino quanto quer a fantasia de alguns homens”, diz uma psicanalista

Liberais dizem que, bolas, desejo é desejo, e não se pode explicar ou reprimir. Há que aceitar. “Entendo que os homens que só se realizam sexualmente com travestis possam estar mal resolvidos em sua orientação sexual”, diz Maria Rita Kehl. “Mas considerar que todos os que gostam de travestis são homossexuais acovardados é uma redução preconceituosa.” Na outra ponta, fala-se em sofrimento e confusão por trás dessa forma específica de prazer. “Para alguns homens é patológico”, afirma o psicanalista Oswaldo Rodrigues, do Instituto Paulista de Sexualidade. “Muitos fazem isso num impulso de autodestruição.”

Há os incapazes de lidar com seu próprio desejo por outros homens. Há os que buscam cumprir seu “papel social” no corpo feminilizado dos travestis. Há de tudo, e nem tudo é a festa do desejo que a modernidade implicitamente recomenda. Onde está o limite? Na dor. De acordo com o psiquiatra Ronaldo Pamplona da Costa, com mais de 30 anos de experiência terapêutica, muitos homens que saem com travestis o procuram em estado de sofrimento. Eis o que diz a respeito a psiquiatra Carmita Helena Abdo, que coordena o Projeto de Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo: “Se as pessoas fazem sexo responsável, não estão sofrendo e não me procuram, não quero normatizar a vida de ninguém”.

Disponível em <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI4421-15228,00-POR+QUE+HOMENS+PROCURAM+TRAVESTIS.html>. Acesso em 23 set 2012.