Mostrando postagens com marcador trabalho. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador trabalho. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Primeira travesti a fazer doutorado no Brasil defende tese sobre discriminação

Daniel Aderaldo
24/03/2012 08:00

Antes de se tornar supervisora regional de 26 escolas públicas e ingressar no doutorado em Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luma Andrade assinou o nome João por 30 anos, foi rejeitada pelos pais na infância, discriminada na escola e, mais tarde, no trabalho.

Na tese de quase 400 páginas que irá defender em três meses, a primeira travesti a cursar um doutorado no Brasil relata a discriminação sofrida por pessoas como ela na rede pública de ensino. Ela também aponta lacunas na formação dos professores.

Criança nos anos de 1970, no município de Morada Nova, a 170 quilômetros de Fortaleza, o único filho homem de um casal de agricultores, era João, mas já se sentia Luma. Em casa, escondia-se para evitar ser confrontada. Na escola, apanhava dos meninos por querer parecer uma menina. Em uma das vezes que foi espancada, aos nove anos, queixou-se com a professora e, ao invés de apoio, ouviu que tinha culpa por ser daquele jeito.

Mais tarde, já com cabelos longos e roupa feminina, sofria de segunda a sexta-feira na chamada dos alunos, ao ser tratada pelo nome de batismo. Não se reconhecia no uniforme masculino que era obrigada a usar. Evitava ao máximo usar o banheiro. Aturava em silêncio as piadas que os colegas insistiam em fazer. “Se a travesti não se sujeitar e resistir, acaba sucumbindo”, lamenta.

Luma se concentrou nos estudos e evitou os confrontos. "Tem momento que a gente quer desistir. Eu não ia ao banheiro urinar, porque eu queria usar o feminino, mas não podia. Então eu me continha e, às vezes, era insuportável”, relembra. Mas ela concluiu o ensino médio e, aos 18 anos, entrou na universidade. Quando se formou aos 22, já dava aulas e resolveu assumir a homossexualidade. Quando contou que tinha um namorado, foi expulsa de casa. 

Em 2003, já com o título de mestre, prestou concurso para lecionar biologia. Eram quatro vagas para uma escola estadual do município de Aracati, a 153 quilômetros de Fortaleza. Apenas ela passou. Contudo, o diretor da escola não a aceitou. Luma pediu a intervenção da Secretaria de Educação do Estado e conseguiu assumir o posto.

“Eu não era tida como um bom exemplo”. Durante o período de estágio probatório, tentaram sabotar sua permanência na escola. “Uma coordenadora denunciou que eu estava mostrando os seios para os alunos na aula”. Luma havia acabado de fazer o implante de proteses de silicone. “Eu já previa isso e passei a usar bata para me proteger, esconder. Eu tinha certeza que isso ia acontecer”.

Anos depois, Luma assumiu um cargo na Coordenadoria Regional de Desenvolvimento de Educação de Russas, justamente a região onde nasceu. Como supervisora das escolas estaduais de diversos municípios, passou a interceder em casos de agressões semelhantes ao que ela viveu quando era estudante.

“Uma diretora de escola fez uma lista de alunos que, para ela, eram homossexuais. E aí mandou chamar os pais, pedindo para que eles tomassem providências”. A providência, segundo ela, foi “muito surra”. “O primeiro que foi espancado me procurou”, lembra. Luma procurou a escola. Todos os gestores e professores passaram por uma capacitação para aprender como lidar com a sexualidade dos estudantes.

Um ano depois, em 2008, Luma se tornou a primeira travesti a ingressar em um doutorado no Brasil. Ela começou a pesquisar a situação de travestis que estudam na rede pública de ensino e constatou que o caso da diretora que levou um aluno a ser espancado pelos pais e todas as outras agressões sofridas por homossexuais tinham mesma a origem.

“Comecei o levantamento das travestis nas escolas públicas. Eu pedia para que os gestores informassem. Quando ia averiguar a existência real do travesti, os diretores diziam: ‘tem aquele ali, mas não é assumido’. Percebi que estavam falando de gays”, relata.

A partir desse contato, Luma trata em sua tese de que as travestis não podem esboçar reações a ataques homofóbicos para concluir os estudos.

Mas também sugere que os cursos de graduação em licenciatura formem profissionais mais preparados não apenas para tratar da homossexualidade no currículo escolar, mas também como lidar com as especificidades de cada pessoa e fazer da escola um lugar sem preconceitos.

“Cada pessoa tem uma forma de viver. Conforme ela se apresenta, vai se comunicar e interagir. O gay tem uma forma de interagir diferente de uma travesti ou de uma transexual. O não reconhecimento dessas singularidades provoca uma padronização. A ideia de que todo mundo é ‘veado’”.

A tese de Luma já passou por duas qualificações. Ela está em fase final, corrigindo alguns detalhes e vai defendê-la em julho, na UFC, em Fortaleza. 

Disponível em <http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/primeira-travesti-a-fazer-doutorado-no-brasil-defende-tese-sobre/n1597707581246.html>. Acesso em 25 mar 2012.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Capitão de corveta da Marinha largou tudo para ser mulher

Antero Gomes
17/03/12 16:00 Atualizado em22/03/12 11:53 

O desejo que se expandia no coração do oficial da Marinha não tinha uma forma definida. Apesar disso, quando criança, ele se olhava no espelho e via, no rosto masculinizado, um conjunto de ângulos retos como os cantos da moldura. Entrou para as Forças Armadas, fez polo aquático, casou, teve um filho, mas, no meio do caminho, já adulto, a vontade de ser mulher foi preenchendo-o lentamente, como num exercício de caligrafia. Dos hormônios e das operações (inclusive a de mudança de sexo em 2010), surgiu Bianca, de curvas acentuadas pelo corpo.

Faz três semanas, Bianca aguardava a chegada de seus ex-comandantes da Marinha, para uma audiência no corredor do 8andar de um prédio da Justiça Federal. Era um dia de calor intenso, e ela estava com óculos escuros, uma saia preta e uma blusa aberta nas costas e nos ombros.

No lugar de medalhas, ostentava “heroicamente” 300 mililitros de silicone em cada peito; tinha próteses nas panturrilhas; o nariz estava menos abatatado; o lábio superior fora levemente repuxado; e os cabelos lisos, caprichosamente esculpidos numa longa sessão de cabeleireiro no dia anterior. O aroma adocicado do seu Florata in Gold em nada lembrava o cheiro do marinheiro desbravando os mares.

Quando saiu do elevador devidamente fardado e avistou o ex-subordinado, o diretor de Saúde na Marinha, o vice-almirante Edson Baltar, não conseguiu disfarçar a surpresa, como se dissesse: “É você?”

A audiência foi a primeira do processo que a capitão, de 40 anos, move contra a Força à qual serviu desde os 15 anos. Em 2008, ao procurar seus comandantes e avisar que estava tomando hormônios femininos havia um ano, Bianca foi pivô de um escândalo de deixar o Almirante Tamandaré remexendo-se no túmulo. Em dois meses, foi reformada com vencimentos reduzidos. Às pressas. A Marinha a considerou capaz para trabalhar, mas incapaz para continuar em suas funções na Escola Naval. Nos tribunais, Bianca busca indenização e soldos integrais.

— A incapacidade de voltar à carreira militar é da Marinha em me receber e não minha de retornar — diz ela.

Olhares desconfiados

Na véspera da audiência, a ex-oficial entra num bar da Praia de São Francisco, em Niterói, senta-se numa das mesas em que o repórter a aguardava e pede um refrigerante light. O sol de fim de tarde ainda é forte e, ao rebater nas folhas das palmeiras, projeta no rosto de Bianca diferentes formas geométricas. Embora disfarcem, os garçons a observam desconfiados, a ponto de ela se incomodar. Quase vai tirar satisfações. Em vez disso, diz, num tom profético, como se desvendasse a mandala de luz em sua face:
—Tenho uma previsão: ainda vou ser muito feliz.

Até 2006, o conceito de felicidade era ser um bom marido, um pai atencioso e um comandante responsável pela formação de 500 aspirantes na Escola Naval. Mas, naquele ano, Bianca decidiu tornar público para os familiares uma situação que vinha se arrastando na clandestinidade. Algumas vezes acompanhada pela ex-mulher, o oficial já participava de concursos num badalado clube GLS. Foi Miss Gay 2006. A família ficou horrorizada. A mãe passou a tratá-la como uma “aberração”. Pressionada pelos parentes, a companheira — ciente há anos da situação — pediu a separação. Os militares só saberiam dois anos depois.

A ex-mulher de Bianca tentou, então, impedir que ela visse o filho, de 7 anos. Alegou que o garoto poderia virar homossexual. Mas Bianca procurou a Justiça, e o juiz garantiu-lhe todos os diretos de “pai”. Em público, o menino a chama de mãe. Parece não jugá-la. E isso dá a certeza a Bianca de que, seja qual for a forma que ela tiver, o coração ainda continuará sendo o vértice de tudo.

Disponível em <http://extra.globo.com/noticias/rio/capitao-de-corveta-da-marinha-largou-tudo-para-ser-mulher-4336124.html>. Acesso em 23 mar 2012.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Trabalhadoras transexuais em destaque

Jaqueline Gomes de Jesus
13/03/2012 

Entre discussões infantis sobre o que é ser mulher e depoimentos naturalizantes, que defendem a formatação dos corpos, disfarçados de elogio, grande parte da mídia aproveitou o Dia Internacional da(s) Mulher(es) para tratar dos desafios das mulheres que vivenciam a transexualidade, mesmo que de forma limitada.

Ao longo dos últimos anos, o tema tem sido mais abordado, mesmo que com base em muita desinformação e com enfoque em aspectos “curiosos”, voltados apenas a procedimentos cirúrgicos ou dificuldades relativas ao registro civil, como se fossem o único elemento importante na vida de pessoas transexuais de ambos os gêneros, desconsiderando a sua diversidade de vivências como seres humanos – em casa, na rua, no trabalho.

As mulheres sempre participaram do mundo do trabalho: subalternizadas, mas estavam lá. A partir das novas ideias e comportamentos trazidos com o movimento feminista e a liberação sexual, a percepção sobre quem são as mulheres se ampliou, deixou de apenas se remeter à mulher branca, abastada, casada, com filhos, e passou a acatar a humanidade e a feminilidade de mulheres outrora invisíveis: negras, indígenas, pobres, com necessidades especiais, idosas, lésbicas, bissexuais, solteiras etc. e, recentemente, transexuais.

Revolução silenciosa

Entretanto, ainda hoje, no século 21, as mulheres transexuais sofrem para terem garantido o direito à identidade, a serem reconhecidas social e legalmente pelo gênero com que se identificam e querem ser identificadas. Jovens desistem de estudar em escolas onde são agredidas diariamente, quando não são expulsas. Desprezadas por suas famílias, são novamente violentadas e igualmente expulsas. Apesar de tanta dor e exclusão, elas perseveram por causa da felicidade íntima que sentem por serem quem são, amam e são amadas por alguns, formam famílias.

A vida corporativa reflete a discriminação a que são submetidas na sociedade. Mesmo que se tornem adultas qualificadas, veem restringidas suas oportunidades de trabalho: permitem-lhes ser cabeleireiras, costureiras, artistas ou prostitutas. Nada mais. A sociedade que despreza essas mulheres é a mesma que as explora, de maneira hipócrita, financiando um mercado movimentado de pornografia e desumanização.

A empregabilidade das pessoas transexuais é um aspecto crucial para sua cidadania, porém esquecido pelo poder público. Entretanto, algumas dessas mulheres, em função de lutas individuais e reivindicações dos movimentos sociais, conseguem se destacar, ocupam outros espaços, sobrevivem para se tornarem símbolos, nesta e naquela organização, de uma mudança profunda neste país: o entendimento de que a identidade de gênero não é determinada por cromossomos, órgãos genitais, documentação ou cirurgias, ela é determinada pela forma como as pessoas se identificam, como se sentem e como preferem ser tratadas neste mundo. É uma revolução silenciosa.

A mídia tem muito a contribuir

Apesar de haver pessoas transexuais nos diferentes espaços sociais, políticos, técnicos ou acadêmicos, a visibilidade dessas pessoas nos meios de comunicação, é concentrada no aspecto marginal ou criminal vivido por uma parcela dessas, em função da discriminação que vivenciam, e pouco no seu cotidiano, como se não interessasse conhecer as demandas profundas de tais homens e mulheres.

Há muito por se fazer. A maioria dos ambientes de trabalho continua a obrigar mulheres transexuais a se vestirem, a se identificarem publicamente e a utilizarem banheiros que não correspondem a quem elas são. Desrespeito que se tenta justificar com normas e costumes autoritários. Felizmente, aumenta o número de locais de trabalho que entendem os direitos das pessoas e se tornam espaços de libertação para as pessoas transexuais.

Não é difícil e não envolve muitos custos porque no fim das contas as mulheres transexuais só pedem para serem vistas como seres humanos e tratadas como elas são: mulheres. E a mídia tem muito a contribuir nesse sentido: basta apresentá-las com respeito, como qualquer pessoa merece.

Disponível em <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed685_trabalhadoras_transexuais_em_destaque>. Acesso em 13 mar 2012.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Excluídas do mercado de trabalho, travestis encontram sustento e aceitação na prostituição

Vladimir Maluf
01/12/2011


Estariam as travestis condenadas à prostituição? Pode ser exagero dizer que sim. Mas pode não ser. Antes de qualquer julgamento, reflita: quantas travestis você tem como colegas de trabalho? Seja chefe ou funcionária. E fazendo faxina na sua casa? Na loja onde você compra roupas, talvez? Abastecendo o seu carro ou te atendendo no “por quilo” onde você almoça diariamente? A verdade é que o mercado de trabalho é duro com esse grupo de pessoas que, muito frequentemente, encontra na prostituição o sustento e, principalmente, acolhimento. E se você ainda duvida que elas tenham poucas opções, responda para si mesmo, honestamente, se você contrataria uma.

O psicólogo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar-Sorocaba) Marcos Garcia realizou uma pesquisa sobre a prostituição das travestis. Segundo ele, a maioria delas tem origem humilde e procura fazer programas como meio de vida. “Um jovem gay, efeminado, sem apoio financeiro e familiar, vindo de camadas populares e sem possibilidade de estudos vê no comércio sexual uma das poucas saídas.“

Além do problema da documentação -pois as travestis assumem uma personalidade feminina, mas dependem de sua identidade oficial- o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., do Instituto Paulista de Sexualidade, diz que as travestis são associadas à prostituição, violência e ilegalidade. “São encaradas de modo negativo, o que as impede de serem contratadas. A percepção é sempre preconcebida. O mecanismo cognitivo exige utilizar vivências passadas para compreender o presente e decidir o futuro. Assim, tudo o que foi ouvido desde criança a respeito de travestis influenciará na tomada de decisões agora.”

Tão importante quanto a renda, o mercado sexual traz o bem-estar que travestis não encontram em outros grupos, normalmente. “É onde elas são valorizadas, principalmente, por clientes. Elas se sentem desejadas por seu corpo feminino. A demonstração do desejo é um fator importante. Se a pessoa está em um processo de buscar se sentir mais feminina, o interesse do cliente, que mostra que ela é feminina, é acalentador”, afirma Marcos Garcia.

Para Giovanna Di Pietro, 28, travesti brasileira que faz programas na Europa, não há muita escolha a não ser a prostituição. “É a saída que uma travesti encontra para se transformar. Quando eu comecei a mudar meu corpo, os trabalhos convencionais ficaram praticamente impossíveis”, conta ela, que era assistente de produção de figurino em uma agência de publicidade. “Nessa fase, você passa a ser menos aceita socialmente. Consequentemente, a possibilidade de ingressar no mercado de trabalho é quase nula.” 

Em sua pesquisa, o psicólogo Marco apurou que o mercado sexual também tem como principal atrativo a alta remuneração. “Na prostituição, a exemplo de outras profissões como modelo e jogador de futebol, há um período que traz muito dinheiro. Mas isso muda com o avanço da idade. Os clientes vão rareando. Com isso, a travesti tem uma perda financeira e passa a ser menos desejada, o que é muito sofrido.”

Jovem e bonita, Giovanna concorda que os ganhos são um grande convite para entrar na prostituição. “Quando você está se prostituindo, começa a ganhar dinheiro como nunca ganhou. E esse dinheiro lhe permite investir em você, mudar o corpo, comprar bens materiais etc.”

OPINIÕES DIFERENTES
O psicólogo Rafael Kalaf Cossi diz que toda manifestação de sexualidade que foge do esperado sofre discriminação, inclusive no mercado de trabalho. Mas ele acredita que o grupo das travestis transforma o corpo para a prostituição –opinião avessa a dos demais especialistas procurados para esta reportagem.

“A transexual, quando incorpora o gênero, costuma ser mais discreta. A travesti usa roupas mais escandalosas. Elas se montam para a cena erótica. É para o mercado do sexo. A transexual, quando se prostitui, não teve alternativa.”

Greta Silveira, travesti que é maquiadora e diretora da Associação da Parada LGBT de São Paulo, diferentemente de Rafael, não acha que esse ou aquele grupo é empurrado para a prostituição.

"Dentro da nossa minoria, a maioria cai na prostituição. Quando são indagadas sobre o que as levou ao mercado sexual, elas dizem que foram expurgadas da sociedade. Mas eu acho que há um pouco de receio de assumir que são prostitutas porque gostam", diz. Para ela, a prostituição é como qualquer profissão e deve ser encarada como tal. "Não acho que ninguém seja empurrado."

Ainda assim, Greta afirma que há preconceito. E disputar um espaço no mercado de trabalho formal exige persistência. "É um caminho mais difícil. Eu tive problemas quando me tornei uma boa maquiadora e comecei a ser chamada para trabalhos maiores. Quando me deparava com gays, sofria preconceito. Coisas que não acontecia ao trabalhar com heterossexuais."

Dificuldade de compreensão e desrespeito

Marco afirma que nenhum grupo social no Brasil sofre mais discriminação do que as travestis. “Esse preconceito é tão intenso que há quem use o termo ‘transfobia’. Os assassinatos de travestis costumam ser muito cruéis. É um nível de violência altíssimo. Há o preconceito pela orientação sexual, mas, principalmente, pela identidade de gênero.“

Para o psicólogo Rafael Kalaf Cossi, autor de “Corpo em Obra” (Ed. nVersos), sobre transexuais, o preconceito contra homossexuais, em especial as travestis e transexuais, tem uma explicação. “Nós não temos a certeza absoluta da nossa identidade sexual. Isso é uma ilusão. O terreno é muito embaralhado. Quando vemos uma travesti, isso traz à tona algo que a gente não quer saber.“

Excluindo a existência de homossexuais ou qualquer variação pelos pais, as crianças  aprendem que só há homens e mulheres, que devem desejar, respectivamente, mulheres e homens. “Passamos de 15 a 20 anos reforçando essas ideias para confirmar o que somos. Mas há variações inúmeras que não são socialmente compreendidas ou assumidas como reais. Desta maneira, não podemos admitir que exista uma pessoa que destoe do que aprendemos”, explica Oswaldo.

Na opinião do especialista, para compreender as pessoas que são diferentes necessitaria de um grande esforço emocional e comportamental, mas a maior parte das pessoas prefere usar essa energia para investir em outros assuntos, principalmente os de maior retorno financeiro.

“Mesmo as famílias que vivem com uma pessoa transexual, e precisariam adaptar-se, mostrarão grande dificuldade em compreender, elaborar e mudar suas perspectivas cotidianas e adaptar-se a esta identidade não prevista pela família", diz o psicólogo. Outras pessoas têm menos necessidades de se adaptar, "pois há um afastamento afetivo que permita gastar menos energia para modificar suas formas de compreender a realidade.”

Para Oswaldo, que concorda que a sociedade em geral não recebe bem as travestis, as coisas seriam diferentes se não houvesse tamanha discriminação. "A prostituição será abandonada se elas forem reconhecidas pela identidade que compreendem pertencer, mesmo que isso traga dificuldades sociais financeiras."

Disponível em <http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2011/12/01/excluidas-do-mercado-de-trabalho-travestis-encontram-sustento-e-aceitacao-na-prostituicao.htm>. Acesso em 13 mar 2012.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Modelo Felipa Tavares diz que moda com transexuais é apenas uma fase

Neto Lucon 
16/02/2012 15h00 

A modelo mineira Felipa Tavares, de 25 anos, é um mulherão. Daquelas que fazem você olhar para cima e ficar na ponta do pé para dar um abraço. Porém, não é apenas o 1,81m de altura que faz dela um destaque da agência 40 Graus. Felipa, assim como a top Lea T, é uma mulher transexual.

É a única do casting da agência, escolhida a dedo pelo empresário carioca Sérgio Mattos – o mesmo responsável por revelar modelos como Isabeli Fontana, Raica Oliveira, Danyella Sarahyba e Fernanda Tavares - durante um workshop no Rio de Janeiro.

Logo que começou a modelar no finzinho de 2011, virou “Personagem da Semana” da revistaÉpoca, e até recebeu uma dica de sua maior inspiração, Lea T: “Felipa terá de ser forte, corajosa e não achar que essa vida é glamour. Tem de se dedicar e estudar, preparar seu futuro, porque nossa vida é difícil”.

Com personalidade forte, Felipa não concorda quando Lea diz que a inclusão de transexuais nas passarelas não é modismo. Para ela, logo logo modelos transexuais deixarão de causar tanto impacto. “É apenas uma fase”, frisa.

Você foi descoberta no workshop de Sérgio Mattos, mas ninguém sabia que era transexual. Acha que, se soubessem da sua história, poderia ser rejeitada?
Acho que não, pois o mercado no mundo da moda abriu para as trans. Se fosse antes da Lea T, com certeza, mas agora não. Antes dela, quem estava? Apenas a Isis King (modelo transexual que participou do ‘America’s Next Top Model), mas ninguém abria espaço. O Serginho viu que a Lea deu certo, essa repercussão toda, então quis dar oportunidade para outras também. Acho que só contribuiu o fato de eu ser trans.

Como é ser a única modelo transexual da agência 40º?
É bem interessante, pois quando querem um trabalho diferente, me chamam. Quando entrei na agência, ninguém sabia da minha história. Assim que souberam, pela mídia, me olhavam de rabo de olho, cochichavam (risos), nada muito anormal. Me receberam e me tratam superbem, tanto as meninas quanto os meninos. 

A moda está mais aberta à diversidade de gênero e sexualidade. Isso pode ser uma fase? O que pretende fazer para prolongar a carreira?
Acredito que seja uma fase, sim, pois a moda vai inevitavelmente mudando. Com o tempo, além de não ser mais uma grande novidade, mais meninas estarão no mercado, o que aumenta a concorrência. Pretendo começar faculdade de moda e também investir em um curso de teatro. Não ficarei só na carreira de modelo, não. Vou abrir um leque de possibilidades para depois que tudo passar.  

Na matéria da revista “Época”, você declarou que se inspira em Lea T. Não tem receio de ficar na sombra dela?
Ela é uma inspiração para mim, adoraria fazer um ensaio ao lado dela, mas não tenho receio de ficar ligada à Lea. Sou bem diferente dela. O estilo de beleza, os nossos traços, são totalmente diferentes. Não acho que existam outras comparações além do fato de sermos trans.

Como está sendo sua trajetória pelo mundo da moda?
Estou fazendo mais fotos neste ano e adorando os ensaios. Aliás, sempre gostei muito do mundo da moda, sessões de fotos e dos temas. Me entrego de corpo e alma. Lembro que, quando era pequena, via os desfiles da Victoria’s Secret e ficava sonhando acordada. Mas não pude dar continuidade porque as mudanças do meu corpo não foram rápidas. Fui mudando com o tempo, demorou um pouco para chegar onde estou, apesar de ainda querer modificar alguma coisa.

O que você pretende mudar mais? 
A primeira mudança é operar... Fazer a redesignação sexual (popularmente conhecida como mudança de sexo). Se eu pudesse escolher, não colocaria silicone, nem mudaria o rosto - já que nem isso eu tenho, é só hormônio - faria a cirurgia de transgenitalização. Não me sinto bem quando me olho no espelho. Quando me arrumo para uma festa, não ligo porque estou de roupa. Mas quando estou saindo do banho... Não me sinto bem, vejo que tem algo errado.

A Lea posou nua com o órgão sexual masculino à mostra na “Vogue”. Teria coragem? 
Apesar de ser uma “Vogue”, não, não teria. Eu tenho algumas fotos em que estou pelada, de lado, mas não de frente. O peito eu já mostro com tranquilidade, porque em todos os ensaios os fotógrafos pedem para eu mostrar. Mas de frente, não. Me olhando já não me sinto bem,  imagina o mundo inteiro olhando inteiro? (risos). Acho que a Lea é muito corajosa.

Sei que o mundo trans é repleto de rusgas. Tem contato com outras modelos transexuais, como Carol Marra, Lea T?
É meio distante mesmo. Com a Lea, depois do conselho que ela me deu na revista “Época”, nunca mais tive contato. Entrei no Facebook da Carol, mas ela ainda não me adicionou. Tenho algumas amigas transexuais que me incentivam, mas já vi muita gente criticando. É muito difícil ter mídia voltada para travestis e transexuais, então quando isso acontece, elas têm que ficar felizes, não apedrejar ainda mais.

Disponível em <http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/lifestyle/2012/02/16/294467-modelo-felipa-tavares-diz-que-moda-com-transexuais-e-apenas-uma-fase>. Acesso em 16 fev 2012.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Murilo Armacollo: "Tomei um susto quando me vi caracterizado de mulher"

Gustavo Mause
27/01/2012 13:01

A estreia de Murilo Armacollo na TV não poderia ser mais difícil - e também polêmica. O ator paranaense, de 24 anos, que participou de “Hairspray”, de Miguel Falabella, e de outros musicais como “Aladdin”, “Cabaret” e “New York, New York”, interpreta Julie, o filho transexual do presidente Paulo Ventura (Domingos Montagner) na minissérie “O Brado Retumbante”, da Globo, que termina nesta sexta-feira (27).

A produção da minissérie tratou a personagem de Murilo como um trunfo. O ator não participou da coletiva de imprensa para divulgar o trabalho, e o elenco evitou dar muitos detalhes sobre Julie. A espera valeu a pena: Murilo surpreendeu e apareceu irreconhecível na pele do transexual. O próprio ator ficou surpreso quando se viu caracterizado. “Tomei um susto. Fiquei a cara da minha irmã. Só que moreno, porque ela é loira”, contou Murilo em entrevista ao iG.

Murilo também contou como está sendo a reação das pessoas nas ruas, o que ouviu dos transexuais sobre sua interpretação e como se preparou para viver a personagem: ele abandonou a academia, fez uma dieta rigorosa e conseguiu perder 15kg em 15 dias, além do laboratório com uma transexual, que o ajudou a entender a cabeça dessas pessoas e os problemas pelos quais elas passam.

iG: Como você conseguiu o papel de Julie na minissérie?
Murilo Armacollo: Fiz um teste na Globo há muito tempo. Fiquei esperando, e de repente, me chamaram. Alguém viu o meu cadastro, gostou, e uma semana depois eu já estava fazendo a caracterização para a personagem.

iG: Era um desejo seu trabalhar em televisão?
Murilo Armacollo: Assim como fazer cinema, trabalhar na TV sempre foi um grande objetivo. Faz parte do nosso mundo, dos atores. Fazer algo grande, para a massa, é uma grande realização.

iG: Como você se preparou para o papel? Fez algo para ficar com o corpo menos masculino? 
Murilo Armacollo: Quando começamos a fazer os testes de figurino, me olhei no espelho e me achei grotesco. Então resolvi fazer uma dieta de proteínas rigorosa durante 15 dias. Deixei a musculação de lado e comecei a correr 20km todos os dias. Acabei conseguindo perder 15kg em 15 dias. Logo em seguida, comecei a fazer laboratório. Estudei bastante e pesquisei como era o psicológico dessas pessoas. Também assisti a vários filmes com o tema. Como queria fazer uma personagem bem feminina, sem cair no caricato, vi filmes da Marilyn Monroe, que foi um grande símbolo sexual, que inspirou muitas mulheres. 

iG: Você conversou com algum transexual durante essa preparação? 
Murilo Armacollo: Fiz laboratório com uma transexual que me ajudou muito. Ela me explicou como era viver assim, desde a infância, passando pelo entendimento com a família, até a preparação para a cirurgia de mudança de sexo.

iG: Ouviu alguma história chocante, que tenha te marcado? 
Murilo Armacollo: Todas as têm histórias de preconceito muito fortes. São agredidas verbalmente - e fisicamente também - diariamente, na rua, e às vezes dentro da própria casa. O que mais me chocou foi descobrir que elas não conseguem arranjar emprego. Às vezes até conseguem oportunidades de estágio, mas quando vão ser contratadas, o empregador vê que elas não fizeram ainda a cirurgia, olham os documentos, e não contratam. Dão desculpas para não contratar. Meu objetivo na série, além de fazer um bom trabalho, próximo da realidade, era que as pessoas entendessem que essas meninas precisam de uma vida social, precisam ser compreendidas pela sociedade, como eu, você, como todo mundo. Elas têm esse direito. Queria ter a sensibilidade de passar isso para o público de uma forma legal.

iG: Qual foi a sua reação ao se ver caracterizado como mulher?
Murillo Armacollo: Na hora em que me vi caracterizado, tomei um grande susto. Pensei: "To a cara da minha irmã! Só que moreno, porque ela é loira". Foi uma grande alegria, porque a preparação foi muito difícil. Quis fazer o mais delicado e suave possível. Não queria fazer algo grotesco. À partir do momento que me vi como Julie, falei: "Meu Deus, conseguimos!". Foi um alívio e um orgulho. Consegui alcançar a meta que tínhamos traçado para a personagem. 

iG: Como você foi recebido pelos atores mais experientes? Como é contracenar com Domingos Montagner e Maria Fernanda Cândido? 
Murilo Armacollo: Tive grande sorte em entrar em um elenco como esse, com feras. É maravilhoso trabalhar com o Domingos, com a Maria Fernanda, com José Wilker. São grandes ídolos meus. Todos eles, elenco e direção, me receberam de uma maneira muito maternal, me deixaram bem tranquilo. A linguagem é muito diferente, não estava acostumado, falei “Gente, to nervoso. Qualquer coisa me ajudem”. Mas todos me trataram muito bem. O trabalho começou direto, de igual pra igual, sem desculpas porque eu era novato.

iG: Outros atores que interpretaram personagens transexuais, ou mesmo gays, já sofreram agressões nas ruas. Tem medo de que aconteça algo semelhante com você? Como é a reação das pessoas nas ruas? 
Murilo Armacollo: Eu não tenho medo porque o trabalho foi bem executado por mim e pela equipe toda. Procurei fazer algo com delicadeza, que obviamente iria chocar, mas de uma maneira delicada e positiva. A reação das pessoas nas ruas é muito boa. Todos elogiam, me param para dizer que meu trabalho está incrível, que estou realmente parecendo uma mulher. Pela delicadeza da personagem, não acredito que vá repelir ninguém, pelo contrário. Até agora recebi muitos e-mails e mensagens no twitter com elogios de transexuais. Nunca tinha tido contato com essas pessoas, não sabia nada sobre o transtorno de identidade de gênero. Tinha medo de representá-las mal, mas acho que consegui fazer um bom trabalho.

iG: Tem medo de ficar marcado com um papel tão forte?
Murilo Armacollo: As pessoas podem, sim, lembrar da Julie, mas não acho que vou ficar marcado. É uma temática com a qual as pessoas não estão acostumadas, mas não tenho medo.

iG: Você sabe como será o final da sua personagem? Pode adiantar algo? 
Murilo Armacollo: Eu não sei nada do que vai ao ar. Quando gravei minhas cenas, optei por não ver nada. Quero ter a mesma reação do público, me surpreender.

iG: Quais são os seus planos para a carreira?
Murilo Armacollo: O que eu quero é trabalhar. Vou continuar a fazer teatro, que é a minha raiz, mas gostei demais de TV. Espero que daqui para frente consiga outros ótimos papéis, tão difíceis quanto a Julie, pra que eu possa fazer esse trabalho de pesquisa de construção do personagem, que é muito prazeroso.

Disponível em <http://gente.ig.com.br/tvenovela/murilo-armacollo-tomei-um-susto-quando-me-vi-caracterizado-de-mu/n1597601456964.html>. Acesso em 06 fev 2012.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Transexual tcheca é presa após se fingir de ginecologista

Extra Online
20/01/2012 - 12h58

Martin Sloboda realizou, ainda que de maneira pouquíssimo ética, o sonho de muitos homens: ser ginecologista. O problema é que, no caso dele, isto não faz lá muito sentido. Afinal, após uma cirurgia de mudança de sexo realizada em 2011, seu nome mudou para Alexandra Svobodova, uma transexual que enganou mais de 20 mulheres na República Tcheca fingindo atuar na profissão. O golpe também atingiu seguradoras de saúde do país do leste europeu.

A falsa médica foi detida esta semana na cidadezinha de Bechyne, onde mantinha um falso consultório. Alexandra, de 30 anos, chegava até mesmo a prescrever remédios a suas pacientes. Ela enfrenta acusações de prática irregular de medicina, fraude e violações de outros direitos, com uma pena que pode chegar a cinco anos de prisão.

- Já é ruim o suficiente saber que a minha ginecologista era uma farsa e não qualificada, mas o fato de que ela além de tudo era um homem também é devastador. Espero que eles coloquem o tarado no xadrez e joguem a chave fora - desabafou Lucie Hrabalova, uma das enganadas, de acordo com o jornal britânico "Daily Mail".

E esta não é a primeira vez que a transexual finge ser o que não é. Há seis anos, sob o pseudônimo de Sandra Svobodova, ela montou o próprio tribunal e, mesmo sem nenhuma formação legal, atuava na área do direito arbitral. Seus clientes eram apenas pessoas importantes, incluindo as celebridades tchecas Helena Vondrackova e Monika Absolonova. O golpe movimentou o equivalente a quase R$ 14 milhões, e Alexandra foi presa e condenada a um ano de reclusão por fraude em 2009.

- Ela é uma mulher empreendedora, com um longo passado criminal - resumiu Jiri Matzner, porta-voz da polícia da República Tcheca.



Disponível em <http://www.24horasnews.com.br/index.php?mat=400902>. Acesso em 21 jan 2012.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

'Sofro preconceito de stylists gays', diz modelo transexual Carol Marra

Neto Lucon
20/01/2012 14h00 

Nesta semana, a modelo Carol Marra ganhou várias páginas da revista Quem e Istoé Gente, da qual inclusive é capa, para falar sobre moda transgênero - a mesma que carrega nomes como o da brasileira Lea T e do sérvio Andrej Pejic.

Segundo Carol, apontada com a grande aposta de 2012, as passarelas abrem espaço para as transexuais, mas ainda não as livram totalmente do preconceito. Ela diz que a discriminação existe principalmente entre profissionais gays.

“Sabe o que acontece e eu não entendo? Tem muitos stylists que dizem não querer travesti no casting. Por quê? Acho lamentável, ainda mais vindo deles que são, em sua grande maioria, todos gays”, desabafou.

Em declaração exclusiva ao Virgula LifeStyle, Carol lamenta a rejeição. “A luta deles é a mesma que a minha. Eles passam por tudo o que eu passei também. É uma pena me virarem as costas ao invés de juntos lutarmos por um mundo sem preconceitos”. 

A top revelou que não incomoda de ser comparada com Lea T, mas faz questão de dizer que a pioneira foi Roberta Close, nos anos 80. “Adoro a Lea, ela é incrível, uma referência. Só que ela é mais andrógina, eu sou mais feminina. A pioneira, na verdade, foi a Roberta”, defendeu. “Mas cada um tem o seu caminho. E tem lugar para todo mundo trabalhar”, continuou.


Disponível em <http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/lifestyle/2012/01/20/292536-sofro-preconceito-de-stylists-gays-diz-modelo-transexual-carol-marra>. Acesso em 21 jan 2012.

domingo, 22 de janeiro de 2012

"Não posaria como homem", diz modelo transexual no FB

Ticiana Giehl
10 de janeiro de 2012 • 16h11 • atualizado às 17h28

A modelo transexual Camila Ribeiro, que participou do desfile da Sta. Ephigênia na tarde desta terça-feira (10), no Fashion Business, Rio de Janeiro, afirmou que, apesar do atual gosto do mundo da moda por modelos andrógino, não posaria como homem. "Não sou andrógina, sou feminina", define ela.

Aos 23 anos e com outros desfiles agendados na semana de moda carioca, Camila disse que o sucesso de Lea T. é uma oportunidade para que a moda ajude a debater o tema da transexualidade. "É um momento que precisa ser falado", afirmou ela.

Camila Ribeiro afirmou ainda que toma todos os cuidados de beleza que qualquer mulher, e recomenda o uso de água termal para a limpeza da pele.

Semana de moda carioca

O Fashion Rio, um dos maiores eventos de moda do País, está em sua 20ª edição e acontece entre 10 e 14 de janeiro, no Píer Mauá, no Rio de Janeiro. Já a 19ª edição da bolsa de negócios de moda Fashion Business, a maior da América Latina, vai até 13 de janeiro, no Jockey Club Brasileiro, também na capital carioca. No total, são 49 desfiles que tomam as passarelas do Rio de Janeiro em seis dias, incluindo as apresentações dos novos talentos, que acontecem no Rio Moda Hype, nos dias 10 e 11 de janeiro.

Disponível em <http://moda.terra.com.br/modacarioca/inverno/2012/noticias/0,,OI5551823-EI18967,00-Nao+posaria+como+homem+diz+modelo+transexual+no+FB.html>. Acesso em 11 jan 2012.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Não há empresa 100% tolerante à diversidade

Luciana Carvalho, de EXAME.com
13/10/2010 | 11:55

Cor, gênero, religião, orientação sexual, etnia e várias outras características pessoais (físicas ou não) são, muitas vezes, determinantes para a contratação ou eliminação de uma pessoa em uma empresa. De acordo com Paul Terry, vice-presidente da consultoria americana Global Novations, mesmo com os avanços de alguns grupos específicos, ainda há um longo caminho a ser seguido até que as chamadas minorias façam parte de forma mais maciça das empresas.

O especialista afirma que, por mais que algumas companhias tenham políticas internas para a promoção da diversidade, nenhuma conseguiu se livrar dos preconceitos ainda. Em entrevista ao site EXAME, Terry fala sobre como as organizações devem se comportar diante desta questão.

Site EXAME - Existe  algum exemplo de empresa que o senhor considera mais tolerante às diferenças?
Paul Terry - Algumas empresas e países são mais tolerantes em alguns aspectos e outras são tolerantes em outros aspectos. Por isso, eu não diria que há um país ou organização que seja 100% tolerante. Algumas das maiores empresas, como Google e Microsoft, têm feito um bom trabalho em integrar pessoas que têm diferenças culturais e raciais. Mas isso não significa que elas aceitam todos os tipos de diversidade. Todo mundo ainda está se esforçando para melhorar. Há também muitas empresas que têm boas políticas para diversidade, mas isso não significa que elas sigam essas políticas.

Site EXAME - E há algum grupo específico que sofre mais preconceito?
Terry - Eu não diria que há um grupo que sofre mais preconceito globalmente. Eu acho que isso varia de acordo com cultura, país ou geografia. Por exemplo, eu sei que, em algumas culturas asiáticas, as pessoas não podem mencionar coisas a respeito de orientação sexual. Em outras culturas é mais fácil falar de orientação sexual, mas é mais complicado falar de outras diferenças. Há também culturas em que as pessoas acham que são mais abertas, mas adotam comportamentos que dificultam a aceitação das outras pessoas, seja por questões étnicas ou outras.

Site EXAME - Quais são os desafios que uma empresa enfrenta para ter diversidade em seu quadro de pessoas?
Terry - Acho que as pessoas precisam entender que as diferenças ultrapassam gênero, raça ou geração, ou orientação sexual. Por exemplo, eu posso pensar de forma diferente de outras pessoas, posso processar informações de forma diferente, posso ter uma educação diferente. Algumas vezes, nós achamos que as pessoas melhores são aquelas parecidas conosco, e a chave para uma empresa ser mais tolerante é ter consciência de que há diferenças. Em segundo lugar, é preciso que elas valorizem e apreciem essas diferenças, pois elas podem agregar valor ao trabalho.

Site EXAME - E como agir para ser justo em um processo seletivo?
Terry - As organizações devem ter critérios muito claros sobre contratações. Deve separar o que é realmente exigido do candidato daquilo que é apenas desejado. Há vezes em que nós temos alguns critérios do que a gente prefere, de uma certa habilidade ou qualidade, mas não é propriamente um pré-requisito. Precisamos ficar sempre abertos, pois, se selecionarmos realmente com base nos critérios que estabelecemos, o número de possibilidades acaba sendo maior.

Site EXAME - Como fazer com que os gestores não se deixem levar pelos preconceitos?
Terry - A empresa precisa definir quão empenhada é contra a discriminação. A empresa não pode ser conivente com pessoas que não contratam negros, por exemplo, só por causa da cor. Se isso ocorrer, a empresa precisa adverti-lo e até abrir processo disciplinar, se preciso. Mas há outras formas de fazer com que eles sigam. Uma delas é conscientizar o gestor da importância de aceitar pessoas diferentes também para dar mais valor ao negócio. Isso demora para ser feito. Não podemos esperar que as pessoas sejam tolerantes com outras da noite para o dia.

Site EXAME - Mas há gestores que negam inconscientemente a diferença e geralmente não contratam quem não se enquadra em seus padrões. O que fazer diante disso?
Terry - É bastante comum preferirmos pessoas com o mesmo repertório social e cultural, mesma cor e educação que nós. As empresas devem mostrar a quem contrata que é preciso arriscar um pouco. Uma orientação que dou é, sempre que houver empate entre dois candidatos - um "igual" e outro "diferente", o recrutador deve escolher este último, para dar-lhe uma oportunidade e diversificar a companhia. Se os maiores líderes da empresa fizerem isso, as outras pessoas vão fazer também. Por último, o diálogo sobre essas questões também é sempre muito importante. É preciso dar abertura para a aceitação.

Site EXAME - O que o senhor acha das políticas públicas que estabelecem cotas para negros, mulheres ou deficientes em empresas?
Terry - Essas políticas ajudam a pensar sobre o equilíbrio da composição da população e das empresas. Os gestores devem se perguntar "eu estou olhando para essa pessoa por causa de suas qualificações ou estou olhando para sua cor da pele, seu gênero ou outra diferença?". Essas políticas podem ser uma boa coisa para as empresas começarem a ser tolerantes, é um bom começo.


Disponível em <http://portalexame.abril.com.br/gestao/noticias/nao-ha-empresa-100-tolerante-diversidade-603765.html?page=2>. Acesso em 13 out 2010.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Obama indica transexual para cargo no Departamento de Comércio

Folha Online
06/01/2010 - 15h04


O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, indicou a transexual Amanda Simpson para conselheira sênior técnica do Departamento de Comércio. Simpson, que era piloto de testes e chamava-se Mitch, começou a trabalhar nesta terça-feira no governo democrata. Ela é uma das primeiras pessoas a mudar de sexo a ser indicada para um cargo no governo dos EUA e ressaltou que sua indicação é importante para mostrar a necessidade de mais igualdade sexual no país.
Segundo a rede de TV americana ABC, que cita Simpson como a primeira transexual assumida a ter um cargo no governo, a nova posição "é a culminação de uma carreira dedicada ao entendimento da tecnologia militar".

Ela trabalhou na indústria de defesa e aeroespacial por três décadas e, recentemente, trabalhou para a Raytheon Missile Systems, em Tucson, Arizona.Segundo a rede de TV FOX, Simpson já esteve nos noticiários em 2004, ao ser a primeira transexual a ganhar uma primária --para uma cadeira de deputada no Arizona. Ela perdeu a disputa na eleição geral.

Como a maioria dos "primeiros", Simpson disse temer que sua escolha seja rotulada apenas pela sua identidade sexual. "Ser a primeira é ruim. Eu preferiria não ser a primeira, mas alguém tem de ser a primeira, ou estar entre os primeiros", disse ao site da ABC.

"Eu acho que tenho experiência e sou muito bem qualificada para lidar com qualquer coisa que possa aparecer, porque quebrei barreiras em muitos outros lugares e sempre ganho as pessoas do jeito que sou e com o que eu posso fazer", completou.


Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u675379.shtml>. Acesso em 06 jan 2010.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Transexual se candidata a uma vaga de juíza na Venezuela

Flávia Marreiro
de Caracas
29/10/2010 - 08h30

Professora há 30 anos das duas maiores universidades da Venezuela, com doutorado em Paris, a advogada transexual Tamara Adrián, 56, decidiu se candidatar a uma vaga de magistrada na mais alta corte do país.

"É preciso preencher os espaços. É importante que uma mulher transexual, lésbica e feminista se candidate", disse a professora à Folha. A advogada está entre os 404 aspirantes às nove vagas de titular do Tribunal Supremo de Justiça (equivalente ao STJ brasileiro).

A partir da lista, os deputados da Assembleia Nacional, dominada pelo chavismo, elegerão os novos magistrados no mês que vem. As chances de Adrián são praticamente nulas, já que os chavistas devem escolher nomes alinhados ao governo. Mas ela diz que vale a pena "por à prova" as instituições.

"Não tenho nenhuma esperança porque essa Assembleia é muito, mas muito, mas muito homolesbotransfóbica. Tiraram a questão de equidade de gênero de todos os projetos. Essa é uma revolução altamente conservadora", diz a professora.

Ela compara a legislação vigente na Venezuela com as de Brasil e Cuba. Ao contrário dos dois últimos, no país de Hugo Chávez está formalmente vetado que o sistema público de saúde faça cirurgias de mudança de sexo. Adrián fez a dela numa clínica privada, fora do país.

Também há restrições para a troca de nome. Apesar de ter feito cirurgia de mudança de sexo em 2002, até hoje sua carteira de identidade exibe seu nome antigo: Tomás. Na Venezuela, é possível trocar o nome no registro civil, mas o documento anterior não é anulado e deve ser exibido ao lado do novo.

"É uma prática discriminatória. Por que a pessoa tem de ser exposta? A Constituição diz que as pessoas têm direito de determinar que tipo de informação estará disponível em documentos oficiais e não oficiais."

Com base no princípio, a professora iniciou uma ação no próprio TSJ para mudar a regra. Espera desde 2003 uma resposta e a cada seis meses a reapresenta para que não perca a validade.

A ativista de direitos humanos torce para que algum organismo apresente uma objeção à sua candidatura. "Seria uma grande oportunidade de por às claras a discriminação. Tenho um currículo que é superior ao de 99% das pessoas que se candidataram, sem falsa modéstia."

Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/822207-transexual-se-candidata-a-uma-vaga-de-juiza-na-venezuela.shtml

domingo, 25 de dezembro de 2011

Tailândia: empresa aérea faz 1º voo com atendentes transexuais

Portal Terra
15 de dezembro de 2011 • 10h16 •  atualizado 11h13


A companhia aérea tailandesa P.C Airlines realizou nesta quinta-feira seu primeiro voo com o trabalho de comissários de bordo transexuais. A empresa contratou quatro transsexuais no início do ano, após receber cerca de cem pedidos de emprego de travestis e transexuais. O avião decolou da capital Bangcoc para a província de Surat Thani, na Tailândia.

Depois de receber tantos currículos de transexuais, a empresa mudou os planos de contratar apenas homens e mulheres para o cargo. Foram recrutados então os quatro, juntamente a mais 19 mulheres e sete homens. A P.C Airlines afirmou que os requisitos, como feminilidade e atratividade, foram cumpridos por todos os candidatos.

O CEO da companhia, Peter Chan, afirmou na época da contratação que foi motivado pela vontade de dar direitos iguais a todos. Segundo ele, no entanto, o processo de seleção foi mais difícil do que para homens e mulheres, já que era necessário passar o dia inteiro com eles para garantir que tivessem as características exigidas.

Com informações da Reuters.

Disponível em <http://not.economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=201112151216_TRR_80611536>. Acesso em 18 dez 2011.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"Quero mostrar que a transexual tem valor"

Neto Lucon às 11:29

Aos 23 anos, a modelo mineira Carol Marra ganhou os noticiários quando foi confundida com a top brasileira Lea T durante o Fashion Rio 2011. Curiosamente, Carol também é transexual e se tornou a atração principal do Minas Trend Preview Inverno 2012, em outubro deste ano. Tendo a carreira deslanchada em menos de um ano – ela é jornalista e trabalhava como produtora de moda –, Carol desponta também como uma das pioneiras no mundo da moda: foi a primeira modelo transexual a posar, por exemplo, para a revista L'Officiel, com 14 páginas.

Na segunda-feira (20), ela abre o desfile para Fernando Pires e Karin Feller na Casa dos Criadores, em São Paulo. "Estou adorando tudo isso. Quero ver daqui a alguns anos outras modelos transgêneros e me orgulhar por fazer parte desta história".  

Você trabalhava como produtora de moda e nem pensava em trabalhar como modelo. O que te fez mudar de ideia? 
Eu realmente era um bichinho do mato, aquela coisa bem mineira, bem quietinha. Ajudava na produção de capa de revistas com várias atrizes, e os fotógrafos sempre pediam para eu sair em uma foto, mas eu não queria, relutava, tinha vergonha. Até que um amigo muito próximo pediu para fazer um ensaio. Topei e coloquei no Orkut. Outro fotógrafo viu e pediu para fazer também. E quando fiz três ensaios, já estava fazendo catálogos. Mas até então não se falava em Carol transgênero. Falava-se em Carol modelo. Não se sabia que eu era uma transexual.

As pessoas só souberam que você é transexual quando participou do “Minas Trend Preview” neste ano?
Foi lá que estourou a bomba, mas já foi comentado durante o Fashion Rio. Mesmo assim, eu não tinha a dimensão da repercussão. No dia seguinte do Minas Trend, quando parei em um posto de gasolina, em Belo Horizonte, um frentista perguntou para mim: “Você é a moça do jornal, né?” Eu falei: “não”. Daí ele veio com o jornal na mão e uma foto minha seminua na capa. Fiquei tão sem graça que, quando ele pediu autógrafo, não sabia nem o que escrever. Falei assim: “me dá um tanque cheio que eu te dou um beijo aqui no jornal” (risos).

No Fashion Rio deste ano, saiu uma nota no site da revista RG dizendo que você é prima da top trans Lea T. É verdade? 
Até hoje sou confundida com a Lea, mas não queria falar tanto para não ficar a impressão de que quero pegar carona na fama dela. De qualquer forma, Lea é a precursora, é linda, uma querida, batalhadora, admiro demais o seu trabalho... A história surgiu quando ela disse que várias irmãs dela estavam na plateia do evento, já que havia muitas transgêneros. Então um repórter, que achou que somos parecidas, perguntou: “você é irmã da Lea?”. E eu disse brincando: “sou prima”. A gente tirou uma foto juntas e fiquei como prima.

Com Lea T em evidência, Andrej Pejic recebendo título de mulher sensual, acha que estamos vivendo uma onda de valorização da beleza trans? 
Não acho que seja sucesso apenas por ser uma beleza trans, mas por ser uma beleza, como outra qualquer, feminina, exótica. Além disso, moda é vanguarda, permite tudo, lança algo que às vezes nem é para agora, é para mais adiante. Hoje vemos modelos andróginos, com o rosto muito delicado, usando cor de rosa, saia, coisa que antigamente não era comum. A moda está muito pulverizada, então dentro de toda essa onda entraram as transgêneros também. E o interessante é mostrar que a transexual também tem o seu valor.

Você disse que tem um propósito muito importante com o seu trabalho na moda. Qual é? 
Mostrar que existem outras histórias além daquela visão marginal que a sociedade tem de uma transgênero. Infelizmente sabemos que muitas vivem da prostituição, mas em muitos casos não é uma escolha. É a única forma de sobrevivência, já que são jogadas para fora de casa muito cedo. Então é legal surgir essa oportunidade na moda para mostrar: por que não uma transgênero modelo? Jornalista? Estilista? Médica? Taxista? O preconceito surge pela falta de informação. Então se cada um parasse para saber um pouco mais sobre a vida do outro, o mundo ficaria muito melhor. 

Você já sofreu preconceito?
Hoje não, mas já sofri muito bullying na infância. Na época da escola, não ia ao banheiro dos meninos porque morria de vergonha. É que eu nunca me identifiquei com os meninos, entende? Daí eu fazia nas calças, eles me chamavam de mulherzinha e meus pais eram chamados para conversar. Hoje, consigo entrar e sair de qualquer lugar, até porque acho que passo como mulher em qualquer lugar. Quer dizer, hoje nem tanto por conta dessa exposição, então é um pouco mais complicado.

Com a exposição e a revelação de seu passado, mudou a maneira de as pessoas te olharem?
Sei que o olhar sobre mim é outro, mas profissionalmente foi bom. Deu um boom na minha carreira. Os convites para trabalhos importantes surgiram, uma matéria saiu em um jornal de Nova York, também vou viajar para fora. Profissionalmente, essa exposição foi muito boa, mas pessoalmente me senti um pouco invadida. No meu facebook, vários carinhas perguntaram: “como você não comentou nada?”. Teve outro que me ligou e perguntou “o que você tem para me falar? Você é um pé de alface?”, confundindo transgênero com transgênico. Respondi: “Não, sou um morango, vermelho e vistoso” e desliguei. Não sou obrigada, né? Eu sou mulher, eu nasci mulher e a minha genitália é um mero detalhe.

Você acha que faz sucesso principalmente por ser transgênero? O diferencial está aí? 
Não vou ser ingênua de falar que não. É claro que sim. Modelos existem várias, eu seria mais uma entre tantas. Dizem: “que linda esta”. Mas daí falam: “mas não é mulher, é transgênero”. Então eles ficam curiosos, querem saber da história, quem é, o que faz e dão mais foco. Existem tantas modelos lindas, mas acaba que jornalisticamente falando ser transexual é uma novidade. É uma história de luta, de batalha, é matar um leão por dia... Não me acho mais bonita que ninguém, não me considero melhor que ninguém, mas sou diferente.

No início do sucesso, a Lea T falou muito sobre a cirurgia de redesignação sexual (popularmente conhecida como mudança de sexo) e agora tem evitado comentar. Incomoda essa curiosidade das pessoas? 
Isso é tão íntimo, pessoal, não acho que seja necessário o público saber. Faço trabalhos de biquíni e a genitália não aparece, nem a minha e nem de outra modelo. Claro que existe uma curiosidade em cima disso, mas o que eu posso dizer é que a técnica hoje é muito mais eficaz que há alguns anos. Além de ter uma genitália perfeita, ela é funcional, tem toda a sensibilidade, prazer.

Após passar pela cirurgia, a maioria das transexuais não gosta de falar sobre o passado e quer ser mais uma no meio da multidão. Qual o motivo? 
É justamente para isso: ela quer ser vista apenas como mais uma mulher. Já vivi histórias de amor lindas que não pude dar sequência porque, na cabeça deles, eu não era uma mulher. Então muitas querem apagar o passado para não sofrer esse tipo de coisa. No meu caso, vai ser muito complicado, por me tornar um pouco mais conhecida. Teria que mudar de nome ou de país. Mas daí viveria uma grande mentira. Acho que quem gostar de mim vai ter que gostar do jeito que eu sou e estiver. Eu sei dos meus princípios e do meu caráter, então não tem porque ele ter vergonha de me assumir. Ele tem é que ter orgulho. 

E o que sua família está achando da carreira de modelo?
A minha família está acompanhando, mas ainda é difícil. Na infância, diziam para mim: “Que menina linda”, mas meus pais retrucavam “É meu filho, não é menina”. Mãe é mãe, ela sabe, mas a grande preocupação é que eu sofra. Venho de uma família conservadora, mineira... Até os 20 anos, eu mesma não entendia o que eu era. Sabia que não era gay, que não era homem, mas sabia também que não era mulher. Então o que eu sou? Se já foi difícil para mim, imagina para eles? Mas eles estão vendo que meu caminho foi diferente, que está sendo diferente. Enquanto muita gente achava que meu futuro seria em uma esquina, hoje eu posso até estar em uma esquina, mas em um outdoor. Posso estar na capa de uma revista, de um jornal.

Disponível em <http://nlucon.blogspot.com/2011/12/entrevista-carol-marra.html>. Acesso em 09 dez 2011.

domingo, 27 de novembro de 2011

Justiça condena empresas por discriminação estética

Adriana Aguiar
10/05/2011

Funcionários acima do peso, trabalhadoras que vestem minissaia e usam decote. Homens que têm barba, possuem cabelos compridos, tatuagem, usam piercing ou, simplesmente, são considerados fora do padrão estético. A Justiça trabalhista tem sido cada vez mais chamada a decidir os limites de interferência das companhias na aparência de seus empregados. Os manuais de conduta, que algumas possuem, são aceitos pelo Judiciário e o descumprimento dessas orientações pode justificar demissões por justa causa. O Judiciário, no entanto, tem condenado as companhias pela chamada discriminação estética, quando essas exigências ultrapassam o que poderia ser considerado razoável.

O banco Bradesco, por exemplo, foi condenado recentemente por proibir o uso de barba por seus funcionários - vedação que chegou a constar no manual de regras da empresa, segundo o processo. A decisão do juiz Guilherme Ludwig, da 7ª Vara do Trabalho de Salvador determinou o pagamento de R$ 100 mil por dano moral à coletividade dos trabalhadores, a retirada da previsão do manual da instituição e a publicação de retratação em jornais locais. A decisão foi tomada em uma ação civil pública ajuizada em fevereiro de 2008, pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). O magistrado entendeu que a regra era abusiva e violaria o artigo 3º, inciso IV, da Constituição. O dispositivo proíbe preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Dessa decisão ainda cabe recurso.

Em uma outra ação contra o banco, um advogado que trabalhou no departamento jurídico da instituição também alegou discriminação estética pelo mesmo motivo. Segundo seu depoimento no processo, um de seus chefes falava, de forma reiterada e usual, na frente de colegas, que "barbicha", não era coisa de homem". A 6ª Turma do TST, porém, não concedeu a indenização porque as testemunhas teriam entrado em contradição sobre quem seria o gerente responsável pela humilhação. Ainda assim, o ministro Augusto César Leite de Carvalho, relator do recurso, deixou claro em seu voto que "a exigência imposta pela empresa de trabalhar sem cavanhaque ou sem barba pode afetar o direito à liberdade, à intimidade, à imagem, previstos na Constituição". O Bradesco, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que não comenta assunto sub judice.

Como não há regra que defina claramente em quais situações as empresas podem interferir na aparência de seus funcionários, as decisões têm sido tomadas a partir da aplicação de dois princípios constitucionais: dignidade da pessoa humana e razoabilidade, como afirma o juiz do trabalho Rogério Neiva Pinheiro, que atua em Brasília.

Em um caso julgado pela 5ª Turma do TST, os ministros entenderam que não seria abusiva a proibição do uso do piercing prevista no manual de regras do supermercado Atacadão, do grupo Carrefour, em São Paulo. "Uma vez que, se uma parte da população vê tal uso com absoluta normalidade, é de conhecimento público que outra parte não o aceita", afirma o relator do processo, ministro Emmanoel Pereira. Segundo a decisão, o supermercado, ao fixar normas, "busca não agredir nenhuma parcela de seu público consumidor e, por isso, tem o poder de estabelecer restrições". Para os ministros, a empresa não teve outra alternativa senão demitir o empregado por justa causa, que, mesmo sabendo das regras, foi trabalhar com um piercing no lábio e não o retirou após repreensão da direção. A empresa informou, por meio da assessoria de imprensa, que prefere não comentar o assunto.

Para a advogada trabalhista Sônia Mascaro, do Amauri Mascaro Nascimento Advocacia Consultiva, somente se pode preterir determinados profissionais para uma função se houver justificativa plausível, caso contrário caracteriza-se discriminação. Ela lembra que a Convenção nº 111, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1958, ratificada pelo Brasil, já trazia previsão relativa à discriminação. Segundo a convenção, é discriminação todo o ato, fato comportamento que tenha por objetivo dar preferência ou excluir alguém.

Foi o que ocorreu com um professor de educação física obeso, de uma escola de Maringá (PR). Ele foi indenizado em R$ 10 mil ao alegar que foi chamado de gordo e de ser incapaz de ser bom professor de educação física. A decisão da 6ª Turma do TST foi unânime. Para o relator, ministro Aloysio Corrêa da Veiga "deve a empresa cuidar para um ambiente de respeito com o trabalhador, não possibilitando posturas que evidenciem tratamento pejorativo, ainda mais em razão da condição física, o que traz sofrimento pessoal e íntimo ao empregado, pois além de ser gordo ainda tem colocado em dúvida a sua competência profissional".

Uma trabalhadora das lojas C&A, em Curitiba, que alegou ter sido considerada feia e velha para os padrões estéticos da empresa também obteve indenização de R$ 30 mil no TST. Segundo testemunhas, seu superior teria dito que "ela era bonita do pescoço para cima, e do pescoço para baixo era feia". Para a funcionária, a demissão aconteceu em função da idade e por critérios relacionados à aparência física. A trabalhadora foi contratada como vendedora aos 28 anos e demitida aos 38 anos. Em nota, a C&A informou que "preza pelo respeito e ética entre seus funcionários, clientes e fornecedores" e que investe constantemente em treinamentos para que não ocorram casos desta natureza.

O advogado João Marcelino, do escritório Tavares, Riemma e Advogados Associados, afirma que como todos esses julgados giram em torno do princípio da razoabilidade, tendo em vista que não há, no Brasil, regra legal estabelecendo critérios objetivos, as decisões dependerão muito do contexto. Ele explica, que a barba, por exemplo, poderia ser vetada caso o funcionário trabalhasse com alimentos. Por outro lado, a saia curta, que pode não ser recomendável em um ambiente como um escritório, pode ser aceita em outros locais.

Disponível em <http://www.valoronline.com.br/impresso/legislacao-tributos/106/424453/justica-condena-empresas-por-discriminacao-estetica?utm_source=newsletter&utm_medium=manha_10052011&utm_campaign=informativo>. Acesso em 10 mai 2011.