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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Homens preferem mulheres vestidas de vermelho, diz estudo

Folha Online  
02/05/2012

As roupas vermelhas sempre foram tidas como uma forma de deixar as mulheres mais atraentes para os olhares dos homens e um estudo publicado no "Journal of Social Psychology" deu uma possível razão para isso.

Após entrevistar 120 homens com idade entre 18 e 21 anos, um grupo de psicólogos descobriu que, para eles, mulheres com roupas vermelhas são mais fáceis de levar para a cama no primeiro encontro.

Segundo os entrevistados, quando elas vestem vermelho demonstram uma "maior intenção sexual" do que quando usam cores mais neutras.

De acordo com o jornal britânico "The Telegraph", não é nem mesmo necessário que a roupa seja muito reveladora para que seja julgada dessa maneira pela mente masculina, até mesmo uma simples camiseta funciona assim.

Os pesquisados tiveram de olhar fotos de mulheres com tops nas cores vermelho, branco, azul e verde, e julgaram quais delas eram mais atraentes e quais topariam fazer sexo mais facilmente.

Depois do vermelho, a ordem das cores em que as mulheres estariam mais propensas a topar a proposta foi azul, verde e, por último, branco.

"Estudos têm demonstrado que o vermelho está ligado ao amor romântico e ao desejo, assim como a fertilidade feminina", diz o estudo feito pela University of South Brittany.


Disponível em http://f5.folha.uol.com.br/estranho/1084434-homens-preferem-mulheres-vestidas-de-vermelho-diz-estudo.shtml. Acesso em 03 ago 2013.

domingo, 4 de agosto de 2013

Troca de olhares com homens aumenta temperatura das mulheres, diz estudo

BBC BRASIL
5 de junho, 2012

Pesquisadores da Universidade de St. Andrews descobriram que a mera interação visual entre duas pessoas do sexo oposto pode causar um considerável aumento da temperatura do rosto das mulheres.

A equipe utilizou técnicas de imagens termais para detector as alterações perceptíveis nas mulheres heterossexuais durante encontros com outras pessoas.

Os cientistas ressaltaram que outros tipos de pesquisa podem se beneficiar da mesma técnica no futuro, entre elas a medição de níveis de estresse e detectores de mentiras.

Segurança nacional

Uma das principais autoras do estudo, Amanda Hahn, disse que os pesquisadores mensuraram a temperatura da pele na mão, braço, rosto e seios das mulheres que interagiram com homens.

Os resultados revelaram um aumento dramático no rosto, sendo que em alguns casos a temperatura chegou a se elevar em um grau.

"Esta mudança termal ocorreu em resposta a uma interação social simples, sem qualquer mudança de experiência emocional ou de excitação. De fato nossos participantes não relataram ter sentido desconforto ou constrangimento durante a interação", disse Hahn.

Em comparação, resultados das interações das participantes com outras mulheres não mostraram alterações.

O estudo deve ser publicado até o fim do mês no periódico Biology Letters.

David Perrett, outro cientista envolvido no estudo, diz que as técnicas de imagem termal poderão ser usadas até para defender interesses de um país em questão de segurança nacional.

"Nós estamos apenas começando a entender os usos potenciais das imagens por temperatura na medicina e elas podem ser muito úteis em assuntos de segurança nacional, área na qual as mudanças de temperatura da pele podem ser usadas como parte de testes de detecção de mentiras".

O próximo passo é determinar se essas mudanças no corpo das mulheres são detectadas por outras pessoas e se podem afetar interações sociais.


Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/06/120605_interacao_mulheres_estudo_jp.shtml. Acesso em 03 ago 2013.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Comercial que convida a diferenciar mulheres de transexuais causa polêmica na Grã-Bretanha

BBC BRASIL
16 de maio, 2012

O anúncio da casa Paddy Power, veiculado pela TV e pela internet, foi criado especialmente para ser exibido em fevereiro, antes do dia reservado às mulheres no Festival de Cheltenham, que sedia uma das mais célebres séries de corridas de cavalos da Grã Bretanha.

Ele provocou o envio de mais de 400 queixas à Advertising Standards Authority (ASA), entidade independente que regula o segmento de publicidade na Grã Bretanha, que decidiu que a peça publicitária não deve ser mostrado novamente na sua forma atual.

O anúncio dizia: "...vamos fazer o dia das mulheres (no festival) ainda mais emocionante com o envio de algumas belas senhoras transexuais para (ajudar a) diferenciar garanhões de éguas".

O comercial mostrava uma série de rápidas imagens de pessoas no evento, enquanto uma voz representava alguém tentando identificar o gênero do retratado.

Ao acolher as queixas, a ASA disse: "Nós consideramos que o anúncio banaliza uma questão altamente complexa e representa um número comum de estereótipos negativos sobre transexuais. Consideramos que, ao sugerir que as mulheres transexuais seriam parecidas com homens travestidos, e que o gênero poderia ser associado a um jogo, o anúncio reforçou de forma irresponsável os estereótipos negativos.

A entidade também condenou a maneira que os termos "garanhões" e "éguas" foram usados no anúncio.

'Especialmente frustrante'

A direção da Paddy Power informou que não tinha a intenção de causar dano ou ofensa e que a empresa ficou desapontada com a decisão da ASA.

Um porta-voz disse: "Essa decisão é especialmente frustrante dado que o comercial tinha sido pré-aprovado pela Clearcast (uma organização não governamental que avalia previamente a publicidade na televisão britânica), que então considerou que o humor neste anúncio, embora não para todos os gostos, ficou aquém de causar ofensa. Além disso, pedimos à Sociedade Beaumont, um dos principais grupos transgênero do país, para comentar o roteiro."

"Também escalamos exclusivamente membros da comunidade trans nos vários papéis transexuais do comercial."

"Finalmente, é importante ressaltar que o comercial tem quase 600 mil visualizações na internet, com o dobro de 'gosta' do que de 'não gosta' nas avaliações de quem assistiu".


Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/05/120516_paddy_rp.shtml. Aceso em 22 jul 2013.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Sutiã: usar ou não usar?

Magali Lagrange
30 de maio, 2013

Há 15 anos que o médico Jean-Denis Rouillon estuda os efeitos do uso do sutiã nas mulheres. Para isso, Rouillon, que também é professor de medicina esportiva da Universidade Franche-Comte, na França, vem observando - e cuidadosamente medindo - o busto de dezenas de voluntárias.

Algumas mulheres aceitaram viver suas vidas, e até mesmo praticar esportes, sem usar sutiã. Outras deixaram de usar apenas em algumas situações. O objetivo da pesquisa era ver se os seios ficam mais ou menos caídos sem o suporte do sutiã.

De acordo com os resultados preliminares, o médico constatou que, pelo menos entre as mulheres de 18 a 35 anos que participaram do estudo, o mamilo volta a subir a uma média de sete milímetros por ano quando não se usa sutiã. Os seios, diz ele, se fortalecem.

"As voluntárias são estudantes de fisioterapia, ou esportistas, e muitas vezes são mulheres que querem voltar a uma vida mais natural, sem artifícios", explicou Rouillon a BBC.

O estudo

Laurette tem 31 anos, e há dez anos participa da pesquisa. "Rouillon foi um dos meus professores na faculdade. Ele me convidou para participar da pesquisa e eu achei interessante", disse à BBC.

A medida do busto de Laurette é 34B, e ela não usa sutiã. "Não foi difícil mudar meus hábitos. Antes, quando eu estava em casa, raramente usava sutiã. Agora só uso ocasionalmente, com alguns vestidos para sair à noite, mas apenas por uma questão estética", diz Laurette.

Laurette é treinadora e pratica triatlo. "Quando eu trabalho, uso um sutiã esportivo sem aros. Mas quando eu corro, por exemplo, uso apenas uma blusa e não sinto qualquer tipo de desconforto", ela diz.

Desde o início, Laurette se sente confiante, porque nunca experimentou dor nos peitos quando se movimentava. Ela lembra que tudo a seu redor aconselhava a não praticar esportes sem sutiã, no entanto, ela continuou fiel ao projeto de Rouillon.

Segundo ela, os únicos inconvenientes são os olhares e os comentários de outros, mas ela prefere não notá-los. Um algumas ocasiões, entretanto, ela prefere usar um sutiã sem aros para evitar constrangimentos.

Resultados preliminares

Apesar dos primeiros resultados, Rouillon não quer tirar conclusões definitivas, uma vez que o grupo de mulheres estudadas não representa a população francesa.

Ele conta que estes são apenas resultados preliminares, e que ele continua sua pesquisa com mulheres mais velhas.

O cirurgião plástico Jean Masson, baseado em Paris, concorda com essas precauções. "As mulheres que participaram da pesquisa são jovens, elas não têm seios muito grandes," explica Masson.

"Para essas mulheres, pode não ser necessário o uso de um sutiã. No entanto, as coisas podem ser diferentes para aquelas com mais de 30 anos que ainda não tiveram filhos", diz Masson.

O cirurgião explica que, durante a gravidez, os seios ganham volume, o que afeta a elasticidade da pele da mama. E menos elasticidade significa que as glândulas mamárias podem se deslocar para baixo.

Mas então o que é melhor, usar ou não usar sutiã? Para se ter uma resposta clara e científica, vamos ter que esperar mais um pouco.

"Apesar de não ter a resposta no momento, é um problema que vale a pena ser levantado", conclui Rouillon, que afirma que nenhum estudo científico comprovou a eficácia do sutiã para manter os seios em pé.

Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/05/130530_sutia_necessario_an.shtml. Acesso em 09 jul 2013.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Silicone aumenta chance de morte por câncer de mama, diz estudo

BBC BRASIL
1 de maio, 2013

Mulheres com implantes de silicone nos seios e que desenvolvem câncer de mama têm mais chances de morrer da doença, sugere uma pesquisa canadense.

Segundo o estudo, divulgado na publicação britânica British Medical Journal, as próteses não são as causadoras dos tumores, mas dificultam o diagnóstico do câncer em seus estágios iniciais.

Os autores da pesquisa, o epidemiologista Eric Lavigne e o professor Jacques Brisson, ambos da Universidade de Quebec, analisaram os resultados de 12 estudos publicados desde 1993 nos Estados Unidos, Canadá e no Norte da Europa.

Eles concluíram que mulheres com silicone tem 26% mais chances de serem diagnosticadas com câncer nos estágios avançados da doença - justamente porque a prótese impediu o diagnóstico no estágio inicial. Uma análise de cinco estudos mostrou que a chance de morte entre pacientes com prótese aumenta 38%.

Cautela

O estudo afirma que a presença do silicone dificulta a identificação do câncer por exames de raio-X e mamografias. Em contrapartida, o implante pode facilitar a detecção manual dos tumores porque fornece uma superfície contra a qual o nódulo se apoia.

"A pesquisa sugere que a cirurgia cosmética para aumento dos seios pode prejudicar o índice de sobrevivência entre mulheres que posteriormente são diagnosticadas com câncer de mama", afirmaram os pesquisadores.

No entanto, eles ponderam que os resultados devem ser interpretados com cautela, porque os dados de alguns estudos não se encaixam nos critérios da meta-análise, um método de pesquisa que tenta combinar resultados de estudos independentes sobre um único tema.

Os canadenses defendem a necessidade de mais estudos para investigar os efeitos a longo prazo dos implantes cosméticos de mama na identificação e prognóstico de câncer.

Segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, em 2011 foram realizadas quase 149 mil cirurgias de aumento dos seios no Brasil, colocando o país atrás somente dos Estados Unidos no ranking do número de mulheres que realizam a cirurgia. Em todo o mundo, foram 1,2 milhão de cirurgias.


Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/05/130501_silicone_cancer_fl.shtml. Acesso em 09 jul 2013.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Brasil é um dos piores países para mulheres empreendedoras

Olhar Digital
28 de Junho de 2013

O Brasil está entre os piores países para mulheres empreendedoras. Um ranking da Dell, baseado em estudo da Global Entrepreneurship and Development Index (GEDI), mostra que, entre os 17 países analisados, o Brasil fica apenas em 14º.

O ranking dá uma pontuação de 0 a 100 para cada um dos países, levando em conta 30 indicadores. Segundo a Exame, os dados foram extraídos de diversas fontes, de modo a analisar quantidade de empreendedoras e programas de incentivo.

À frente do Brasil estão surpresas como Malásia, que tem uma economia minúscula em relação ao Brasil, e China, onde há um grande histórico de misoginia.

Os Estados Unidos lideram o ranking, com 76 pontos, seguido por Austrália, com 70, e Alemanha, com 63. Os piores países da lista para uma mulher empreendedora seriam Uganda e Índia, cada uma com 32 pontos.

Confira a lista:

1- Estados Unidos: 76
2- Austrália: 70
3- Alemanha: 63
4- França: 56
5- México: 55
6- Reino Unido: 51
7- África do Sul: 43
8- China: 41
9- Malásia: 40
10- Rússia: 40
11- Turquia: 40
12- Japão: 39
13- Marrocos: 38
14- Brasil: 36
15- Egito: 34
16- Índia: 32
17- Uganda: 32


Disponível em http://olhardigital.uol.com.br/produtos/digital_news/noticias/brasil-e-um-dos-piores-paises-para-mulheres-empreendedoras. Acesso em 29 jun 2013.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Como as mulheres mexem com a cabeça dos homens

 Daisy Grewal

Romances, filmes e roteiros para televisão estão repletos de cenas em que um rapaz procura inutilmente interagir com uma jovem bonita. Em muitos casos, o conquistador em potencial acaba fazendo algo tolo em suas incansáveis tentativas de impressionar a moça. É como se o cérebro do homem, de repente, não estivesse funcionando direito. E segundo uma pesquisa recente é exatamente o que acontece.

Há algum tempo, pesquisadores começaram a investigar como a interação com representantes do sexo oposto afetava aspectos cognitivos dos homens. Um estudo de 2009 demonstrou que após breve contato com uma mulher atraente os homens experimentam um declínio momentâneo do desempenho mental.

Para compreender por que isso ocorre, a pesquisadora Sanne Nauts e seus colegas da Universidade Radboud de Nijmegen, na Holanda, realizaram dois experimentos com a participação de estudantes universitários de ambos os sexos. No primeiro, avaliaram seu desempenho cognitivo aplicando um teste de Stroop. Desenvolvido em 1935 pelo psicólogo Ridley Stroop, o instrumento é usado para avaliar a capacidade de elaborar informações que competem entre si. O teste consiste em mostrar uma série de nomes impressos em cores diferentes. Por exemplo, “azul” pode estar impresso em verde, “vermelho” em laranja, e assim por diante. Os participantes devem nomear, o mais rápido possível, as cores nas quais as palavras estão escritas. O teste é cognitivamente exigente e quando as pessoas estão mentalmente cansadas, tendem a completar essa tarefa de modo mais lento.

No estudo de Sanne Nauts, após terem completado o teste de Stroop os voluntários realizaram outra prova, apresentada como dissociada da anterior. Os pesquisadores pediram aos universitários que lessem em voz alta uma série de palavras em holandês diante de uma webcam. Os cientistas explicaram que durante a “tarefa de leitura labial” um observador – ao qual era atribuído um nome qualquer, masculino ou feminino – estaria acompanhando o desempenho dos participantes através de uma câmera. Os voluntários não interagiam de modo algum com essa pessoa, que não era identificada nem por fotografia. Tudo que sabiam – sobre ele ou ela – era o nome.

Logo depois de concluírem a leitura, os participantes foram submetidos a outro teste de Stroop. O desempenho das mulheres nessa segunda avaliação foi muito semelhante ao do primeiro, não importando o sexo do misterioso observador. Mas, entre os homens que julgaram ter sido observados por uma mulher, o desempenho foi pior nesse segundo teste. E essa deterioração cognitiva ocorreu independentemente de eles terem interagido com a suposta observadora.

Numa segunda etapa da pesquisa, Sanne Nauts e seus colegas iniciaram novamente o experimento aplicando o teste de Stroop em voluntários que haviam sido levados a pensar que precisariam fazer uma leitura em voz alta, como no primeiro experimento – na verdade, porém, eles nem sequer chegaram a realizar essa atividade; o importante era que acreditassem que teriam de cumpri-la. Metade dos voluntários foi induzida a crer que seria observada por um homem, e a outra parte, por uma mulher. Em seguida, todos foram convidados a realizar outro teste de Stroop.

Mais uma vez, o desempenho das mulheres não apresentou diferença, independentemente do gênero do suposto observador. Já entre os rapazes, aqueles que acharam que seriam acompanhados por uma mulher tiveram desempenho significativamente pior no segundo teste.

Enfim, parece evidente que, quando nos encontramos em situações nas quais nos sentimos inseguros, intimidados ou estamos particularmente preocupados com a impressão que causaremos, podemos ter dificuldades concretas para raciocinar claramente. No caso dos homens, o simples fato de pensar em interagir com uma mulher seria suficiente para ofuscar um pouco o cérebro. Se ela for bonita, então, “pior” ainda.


Disponível em http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/como_as_mulheres_mexem_com_a_cabeca_dos_homens.html. Acesso em 29 jun 2013.

domingo, 30 de junho de 2013

Juiz reconhece e dissolve união homoafetiva

Consultor Jurídico
27 de março de 2012

O juiz Genil Anacleto Rodrigues Filho, da 26ª Vara Cível de Belo Horizonte, reconheceu e dissolveu uma união homoafetiva já desfeita, entre duas mulheres, para poder determinar a partilha de bens entre elas. Mesmo após o fim da união entre as duas mulheres, com base em depoimentos de testemunhas e sob o entendimento de que os homossexuais "possuem direito de receber igual proteção tanto das leis como da ordem político-jurídica instituída e que é inaceitável qualquer forma de discriminação”, o juiz determinou a partilha de um imóvel adquirido durante o período em que as duas estiveram juntas.

Na ação, uma das mulher pretendia ter reconhecida e dissolvida a união, de fato já desfeita, para requerer os bens a que acreditava ter direito. Alegou que estabeleceu uma relação homoafetiva com a outra de julho de 1995 até 2002. Naquele período, afirmou que adquiriu com a companheira um apartamento, onde residiam, e ainda um veículo Ford Pampa. Pretendia receber o automóvel e quase R$ 32 mil, referentes ao imóvel, mais a quantia de sua valorização.

Já a outra mulher negou a existência do relacionamento estável e afirmou que inexistia “a figura jurídica da união estável homoafetiva”. Negou compartilhar os mesmos objetivos da outra mulher, alegando que a relação delas “não era pública, não foi duradoura e não foi estabelecida com o objetivo de constituição de família”.

Reconheceu que utilizou o nome da outra para aquisição do imóvel “apenas por conveniência”, mas que o bem foi adquirido com recursos próprios, sendo que a entrada do imóvel foi paga com recursos seus oriundos de uma rescisão trabalhista, e o financiamento foi quitado através de débito em conta.

O juiz Genil Anacleto destacou diversas jurisprudências, com destaque para julgamento recente do Supremo Tribunal Federal, que reconheceu “inexistir impossibilidade” de se reconhecer a união estável entre pessoas do mesmo sexo.

Citando documentos e os depoimentos de testemunhas colhidos em audiência no fórum de Pará de Minas, o juiz concluiu que as "testemunhas ouvidas foram uníssonas" em afirmar que, de fato, as mulheres tiveram um relacionamento homoafetivo e viveram cerca de cinco anos em união estável.

Comprovada a união estável, o juiz considerou o regime de comunhão parcial de bens para, com base nos comprovantes de depósitos apresentados pela mulher que entrou com a ação, reconhecer-lhe o direito a 8,69% do valor do imóvel, correspondente a prestações do imóvel pagas conjuntamente durante a convivência.

Quanto ao veículo, considerou comprovado que foi adquirido a partir da venda de outro comprado antes da união, não reconhecendo, portanto, o direito de partilha desse bem. Cabe recurso.

Disponível em http://www.conjur.com.br/2012-mar-27/juiz-reconhece-uniao-homoafetiva-desfeita-divisao-bens. Acesso em 22 jun 2013.

terça-feira, 25 de junho de 2013

As dificuldades atuais do relacionamento afetivo

Carlos Messa

São heroicas as tentativas de manter um casamento satisfatório atualmente. Nem sempre esses valores são compatíveis ou ao menos consistentes com o modelo que, como um arquétipo, ainda define nosso horizonte relacional e parental. Sonhamos com a cultura francesa, mas copiamos a norte-americana. Fantasiamos a harmonia ainda utópica nas relações afetivo-sexuais e nestas, brigamos por uma igualdade pouco entendida. Oscilamos entre a fraternidade (romântica) francesa e a objetividade dos valores individuais da cultura norte-americana.

Liberdade, Igualdade e Fraternidade apresentam inúmeros pontos de dificuldade de compreensão, contradições e ambivalências mesmo nos âmbitos social e econômico. Quando adentramos à microssociedade (família), vemos que esses ideais estão ainda distantes.

Superficialmente nossa sociedade vive, sim, sob uma boa dose de liberdade, significativos avanços quanto à igualdade e uma imensa dúvida quanto ao significado, amplitude e real valor da fraternidade. Esse quadro colore, também, uma grande parte dos casamentos.

Liberdade

O casamento que conhecemos passou a ter a chancela legal do Estado por volta de 1750 na Europa e ganhou um grande impulso com os ideais da Revolução Francesa (1789). Ele esteve em vigor por cerca de 200 anos, período em que nós, individualmente, passamos a ter liberdade de escolher nosso par. O "amor" - a livre escolha - foi o ponto de partida das uniões afetivo-sexuais duradouras apenas depois de 1800 porque a liberdade individual, antes desse período, se fazia acontecer, em boa parte, após o casamento. Não é puro acaso a coincidência de datas entre o dístico da revolução francesa (Liberté, Egalité, Fraternité), e a liberdade da escolha do cônjuge. A liberdade se propagou com bastante rapidez estimulada pela revolução francesa e, a partir dela, os jovens foram aos poucos fazendo suas escolhas, possivelmente ainda dentro dos padrões paternos, mas já acobertadas pelo amor.

A escolha de um cônjuge sempre se fez por interesse e isso é visto em qualquer âmbito e época, desde os animais irracionais entre os quais a fêmea escolhe o macho pelos indicadores de que é capaz de produzir filhos sadios (fortes), passando pela futura esposa-padrão do século passado que escolhia para marido um homem bem-sucedido e, ainda hoje, quando a busca é por homens inteligentes, estáveis, maduros ou equilibrados. Da mesma forma, o homem sempre buscou uma mulher que pudesse ser "boa mãe", mesmo que de maneira inconsciente. A diferença que ocorreu nos diversos momentos da história recente foi a alternância entre o interesse do indivíduo e o interesse de seus responsáveis. A elite econômica (e cultural) europeia, antes de 1800, estabelecia contratos quanto aos pares que se casariam com seus filhos, em função dos interesses familiares (predominantemente econômicos). Nesse período também na classe social mais elevada, o casamento acontecia cedo, ainda na adolescência, quando a dependência dos pais era praticamente total. A rebeldia adolescente só veio a acontecer recentemente, na época pós-industrial e com o advento da universalização da educação formal.

Naturalmente essa descrição é generalista já que cada cultura e cada família mantêm intramuros os seus costumes. No oriente, o costume de pais estabelecerem acordos para o casamento dos filhos foi comum até 1950 e ainda pode ser encontrado. No Brasil, no século XXI, nas capitais metropolitanas de melhor nível econômico e cultural, ainda há pais que impedem, dificultando a qualquer preço, o casamento de suas filhas adultas, graduadas no nível superior, com um pretendente não aprovado por eles.

Naturalmente, um casamento que se realizava por um acordo prévio de terceiros, com objetivos econômico-sociais estava propenso a não gerar intimidade, compromisso, parceria (ao menos inicialmente) e, por isso, a nova possibilidade de, com liberdade individual, escolher o cônjuge, fez com que surgisse uma expectativa ingênua: se o par for escolhido em função do amor, a felicidade estará garantida.

Pelos duzentos anos que se seguiram, as pessoas que puderam escolher seus cônjuges por amor acreditaram nessa possibilidade e a esmagadora maioria delas se desencantou logo cedo ou pouco mais tarde. O casamento enfrentou então sua grande crise, continua nessa crise há mais de 50 anos e vem sofrendo mudanças em todo esse período.

Na primeira metade do século passado surgiram sinais importantes de que tomávamos consciência desse engano. Em 1936, Wilhelm Reich publicou A Revolução Sexual que se insurgia contra alguns dos pilares do casamento, que nesse livro ele chamava de burguês. Depois disso, inúmeros livros, artigos, pesquisas e conversas em bares afirmavam que o casamento havia falido. Era uma afirmação bombástica que buscava causar impacto, porém com o tempo vemos que é apenas ridícula, pois não há como afirmar que a união de duas pessoas, uma de cada um dos sexos, está falida. O que havia de errado era a expectativa de que, com a liberdade conquistada, ao escolher o par por amor, a felicidade seria consequência obrigatória. Não é. O relacionamento de boa qualidade se constrói; a felicidade acontece mais frequentemente quando vamos buscá-la.

Perceber que escolhemos alguém por amor e que, apesar disso, nossos sonhos se derreteram tão rápido quanto a neve nos trópicos nos causa profundo impacto. O mais frequente é culpar o outro; há também somatizações variadas, dores no peito, acessos de ira, pânico, depressão, insônia além das eventuais infelizes tentativas de suicídio. Também é frequente o caminho mais fácil: trocar de parceiro. Neste caso, é alta a probabilidade de se encontrar diante do mesmo problema algum tempo depois.

Troca de papéis

A CPFL promoveu, em 2009, um Café Filosófico com o psicanalista Contardo Calligaris, que discorreu sobre a mudança dos papéis dos gêneros através do tempo. Ele fala que por muitas décadas o homem viveu fechado em seus ternos representando o papel do macho provedor. Estava muito à vontade com um modelo de relacionamento onde os homens desejam e as mulheres são desejadas. Só quando o desejo das mulheres entrou em cena é que o homem descobriu que, embaixo do seu terno, tinha um corpo desejável. Assista à palestra, na íntegra, pelo site www.cpflcultura.com.br. Procure por O corpo masculino ou A crise do macho.

Igualdade

A igualdade de direitos inscrita na Declaração Universal dos Direitos do Homem se replicou na Constituição de inúmeros países. Efetivamente ela ainda caminha claudicante já que o poder continua a atuar marginal (acima) das regras sociais, fazendo com que a igualdade exista, sim, porém seus limites sejam bem delineados (o que está se tornando mais visível a cada dia).

No âmbito do relacionamento afetivo, a igualdade acabou por penetrar nos papéis de cada membro do casal e praticamente implodi-los ainda no século passado e, hoje, mais do que nunca, confunde o relacionamento familiar. Pior: a igualdade de direitos bem como uma certa equalização de poderes é confundida frequentemente com a igualdade absoluta entre os gêneros. Não somos iguais fisicamente, intelectualmente nem emocionalmente. Talvez boa parte das diferenças se deva à formação, aos papéis sociais, etc., mas independentemente da causa, somos diferentes. No casamento antigo, essa diferença era aceita e isso era bom no aspecto do relacionamento afetivo, apesar de admitirmos hoje ser incorreto no aspecto social (domínio do homem sobre a mulher). A aceitação das diferenças individuais expandidas para os diferentes papéis, facilitava a aceitação do outro - seu par - (aceitação genuína e não a tolerância). A clara distribuição de atividades, direitos e poderes entre os papéis era internalizada pelos filhos em um modelo de sociedade, na qual eles viriam a se incorporar e nela interagir (sem essa internalização, hoje), sem um modelo, as crianças não definem limites para si, tornam-se adolescentes perdidos e adultos egocentrados, deprimidos ou ansiosos.

Intracasal, superficialmente, nos incomodamos desde o "terceiro turno" do trabalho feminino, que todos aceitam formalmente não ser adequado (não deveria ser feminino), passando pelo desconforto das tarefas que a mulher rejeita como suas (lavar louça, roupas etc.) e que alguns poucos homens assumem, quase nunca de bom grado.

Igualdade entre homens e mulheres?

Há incontáveis pontos onde o balanço contábil dessa igualdade não fecha:
A começar pelo já citado acima e mais discutido ponto: o terceiro turno de trabalho feminino;
A entrada da mulher no mercado de trabalho pode ser vista sob o ângulo da redução do nível de emprego em 50%. O resultado foi a queda dos salários. Poucas décadas atrás a boa educação formal era oferecida pelo Estado e os serviços de saúde públicos eram, no mínimo, aceitáveis. Hoje, o rendimento masculino não é suficiente para a manutenção de uma família de 4 pessoas (escolas particulares e seguro-saúde). O trabalho (rendimento) feminino tornou-se, então, indispensável. O sentimento entre os dois gêneros é de insatisfação;
O homem continua se sentindo responsável pelo sustento da família. A mulher também continua sentindo que o responsável pelo sustento da família é o homem. Dois exemplos:
A mulher que tem mais sucesso profissional que o marido, sente-se mal por "não estar sendo cuidada" por ele! Sente-se mal também ao pagar despesas de lazer (cinema, restaurante, viagens);
Algumas mulheres podem sentir que deveriam ficar com os filhos por alguns anos ao invés de retornar ao trabalho;
Entre a classe A assalariada há um novo conceito bastante interessante: a mulher considera que o básico do orçamento doméstico deve ser coberto pelo homem; a mulher supriria o adicional ou o supérfluo. Com isso restaria de seus ganhos um pouco para as suas coisas;
Muitos homens continuam a sentir que a mulher tem obrigações conjugais (sexo);
Muitas mulheres começam a cobrar que o marido cumpra suas obrigações conjugais (sexo);
Frequentemente ambos sentem-se cobrados, insuficientes e impotentes diante da realidade;
Negar-se ao outro deixa de ser apenas uma vingança, mas frequentemente reflete apenas um profundo desencanto;

Fraternidade

Trocamos a "guerra conjugal" pela guerra entre os gêneros. Se no antigo casamento havia a queixa feminina frequente ante as regalias masculinas (e podemos incluir aí o direito a eventuais escapadas sexuais), hoje a queixa é mútua, mas não contra o marido ou a esposa e, sim, contra o homem ou a mulher. Não nos sentimos mais "no mesmo barco".

No casamento antigo, no qual os papéis estavam bem definidos pelo pai institucional, podíamos culpar o outro, o indivíduo, por não cumprir o seu papel. Hoje, não há definição de papéis, o que a princípio parece bom, mas nos sentimos sem rumo. Com isso, sequer podemos culpar a "outra parte" do relacionamento. Surge a angústia. Ficamos sós e não sabemos onde nos refugiar. Não há mais o porto-seguro. Não há mais aquele irmão que, apesar das brigas, continuaria sendo sempre o irmão.

Homens e mulheres mudaram. Mulheres expostas à concorrência do mercado de trabalho se tornaram mais agressivas, objetivas e lógicas. Descobrem o prazer do sexo-pelo-sexo (sem a afetividade). Muitas já percebem a armadilha da hipervalorização da beleza, que a torna condição sine qua non ou, pior, seu único atributo. Os homens se tornaram capazes de discriminar mais suas emoções, deixando de se sentirem apenas bem com sua capacidade de prover o lar, assumindo também que desejam ser queridos e que são também (pasmem), românticos. O lado B é que já se percebem sendo usados e reagem a isso. Já se torna evidente uma dificuldade em optar pelo casamento e, no limite, isso é disfarçado através do "morar junto". Cresceu no final do século passado e se amplia rapidamente a atitude masculina de se negar sexualmente à mulher (inconcebível anteriormente). A decepção masculina com a mulher, rara e que ocorria quase apenas depois dos sessenta anos, surge cada vez mais cedo.

O conceito de comunhão universal de bens, no casamento, faliu apesar de ainda existir; a comunhão parcial, que define a equivalência dentro dos diferentes papéis e atividades dos dois gêneros em um casal, é automaticamente assumida pelo Estado nos casos de união informal.

As mulheres expostas à concorrência do mercado de trabalho se tornaram mais agressivas, objetivas e lógicas e os homens se tornaram capazes de discriminar mais suas emoções
Por outro lado, é crescente o número das pessoas que valorizam suas emoções e estas apontam para a busca de um relacionamento que contenha alguns atributos do conceito de fraternidade: sentir-se relativo ao outro (pertinens); prazer em oferecer, contribuir, em fazer o outro feliz; sentir-se parte de um conjunto maior (família) o que implica que, ao fazer ao outro se faz também a si mesmo (proteção, felicidade, etc.). O pragmatismo obviamente lentifica esse movimento.

Não se justifica apoiar questões da natureza emocional do ser humano sobre nossas habilidades racionais já que somos mais que racionais; nossas emoções existem e não representam um conjunto de aspectos negativos ou prejudiciais à nossa natureza. Ao contrário, nos permitem, por exemplo, conviver com contradições e nos levam a superar nossa natureza animal, assumindo os aparentemente utópicos valores humanos. A formação de um casal e a reprodução são exemplos de utopias que só têm apoio no âmbito emocional já que desde a invenção da imprensa ou, mais precisamente, apenas cinquenta anos depois do surgimento dela, foi impresso o primeiro livro que citava a loucura que é casar e, mais ainda, ter filhos (O Elogio da Loucura, Erasmo de Rotterdan).

A melhor resposta às questões acima foi do poeta Vinícius de Morais que reconhece as emoções e, no Soneto do Amor Eterno, expõe nossa capacidade de conciliar uma contradição (no nível racional) e alcançar o equilíbrio na ambivalência (emocional):
(...que)
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja  imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Disponível em http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/Edicoes/55/artigo178042-1.asp. Acesso em 22 jun 2013.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Filhos? Não, obrigada

Paola Emilia Cicerone

É raro alguém perguntar o que levou um homem ou uma mulher a ter filhos. Em contrapartida, é comum escutar: “Não tem filhos? Por quê?”. E, em geral, o principal alvo das indagações são as mulheres. Talvez algo como “não tive tempo”, “não sou casada” ou “não encontrei o homem certo, no momento certo” fossem boas respostas, mas há algo mais em jogo. É como se – ainda hoje, apesar de todas as transformações sociais dos últimos anos – continuasse necessário explicar à sociedade essa escolha (às vezes mais, às vezes menos consciente). Ao serem questionadas, as mulheres percebem na curiosidade alheia a pressão e as críticas disfarçadas, como se a opção de não terem sido mães as fizesse pessoas especialmente egoístas ou fosse sinal de algum “grande problema” em relação à sua feminilidade.

“Em nossas pesquisas promovemos a discussão do tema em grupos de mulheres sem filhos, em diversas cidades italianas, e muitas das participantes admitiram que se sentiam julgadas, às vezes até severamente, por parentes ou conhecidos, estigmatizadas como se fossem cidadãs de segunda categoria”, conta Maria Letizia Tanturri, professora de demografia da Universidade de Pavia, que participou de um importante projeto de pesquisa coordenado por várias universidades. “É como se, de certa forma, a maternidade fosse a garantia de nos tornarmos pessoas melhores, mais sensíveis”, observa. Ela lembra que, em 2007, uma senadora democrata da Califórnia, Barbara Boxer, atacou a secretária de Estado Condoleezza Rice: “Como não tem filhos nem família, a senhora não pagará nenhum preço pessoal pelo envio de mais 20 mil soldados americanos ao Iraque”. As palavras podem ser entendidas como uma variante de algo como: “Quem não tem filhos não pode entender o que só nós, seres humanos privilegiados pela graça de ter filhos, conseguimos compreender”.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan com 6 mil mulheres com idade entre 50 e 60 anos revelou que ter ou não ter filhos não tem efeito relevante no bem-estar psicológico nessa faixa etária – o que, de certa forma, contradiz a ideia de que é preciso criar os filhos para ter com quem contar no futuro. “Os aspectos mais importantes para uma maturidade feliz são a presença de um companheiro e de um círculo de relações sociais significativas”, salienta a socióloga Amy Pienta, coautora da pesquisa publicada no periódico científico International Journal of Aging and Human Development. Assim – e considerando todo o risco, trabalho e preocupação que significa ter filhos –, seria melhor não tê-los? Depende. O único dado certo é que hoje existe uma liberdade maior de escolha: é possível ser mulher de forma plena e prescindir da maternidade.


Disponível em http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/filhos__nao_obrigada.html. Acesso em 04 jun 2013.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Perigo para elas

Emily Anthes

Por muito tempo a dependência química tem sido considerada uma doença masculina. Aspectos culturais e sociais que propiciavam o acesso dos homens ao álcool e às drogas levaram a crer que eles são muito mais propensos a usar esses produtos. Em parte por esse motivo, há décadas as pesquisas sobre o assunto excluíam mulheres. Consequentemente, sabe-se hoje bem menos sobre a drogadição feminina, e, na prática, os programas e centros de tratamento raramente são voltados para as necessidades. Bem pouco foi considerada, por exemplo, a influência da variação hormonal no sucesso (ou fracasso) do processo de recuperação. No entanto, há sinais de que a predominância de estudos com voluntários homens tenda a diminuir, já que o uso de bebidas e substâncias ilícitas se tornou socialmente mais aceitável tanto por adolescentes quanto por mulheres adultas. Segundo estudo de 2008, desenvolvido pelo psiquiatra Richard A. Grucza, da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, é na população feminina que o uso de bebidas e drogas mais tem aumentado. 

Em uma inversão das tendências predominantes no passado, adolescentes estão agora experimentando maconha, álcool e cigarros em índices mais elevados que os garotos, de acordo com os recentes resultados de uma pesquisa realizada pelo National Survey on Drug Use and Health (NSDUH), nos Estados Unidos. O estudo mostra que o uso geral de drogas ilícitas entre as moças aumentou em torno de 6% em 2007 e 2008, enquanto o índice para os jovens do sexo masculino caiu cerca de 10%. 

Além disso, uma literatura cada vez mais consistente sobre a dependência do sexo feminino mostra que as mulheres apresentam características bastante específicas. De forma singular, elas podem ser particularmente vulneráveis ao uso de substâncias que criam dependência e aos seus efeitos, pois os hormônios sexuais femininos afetam diretamente os circuitos de recompensa do cérebro, influenciando a resposta a drogas. Felizmente, alguns estudos já apontam para novos tratamentos para a toxicomania, além de fornecer informações práticas para as pessoas empenhadas em abandonar o uso.

Embora os cientistas venham investigando, ainda que em pequena escala, o uso de drogas em mulheres desde a década de 70, os progressos foram relativamente lentos antes de 1994, quando os Institutos Nacionais de Saúde americanos determinaram que a maioria das pesquisas clínicas incluísse mulheres e grupos formados por minorias. Conforme o estudo sobre as diferenças entre os gêneros se acelerou, cientistas descobriram indícios de que mulheres podem realmente ser mais vulneráveis à dependência e ao abuso de substâncias que os homens. Os pesquisadores notaram que elas passam de forma mais rápida para o uso de substâncias pesadas e têm maior facilidade de sucumbir aos danos sociais e físicos. Até mesmo as fêmeas de ratos costumam buscar e autoadministrar drogas que provocam dependência de maneira mais obsessiva e mais rapidamente que os roedores machos.

Os hormônios da reprodução estão por trás dessa sensibilidade. A remoção de ovários das ratas, de modo a lhes diminuir a produção de estrogênio, reduziu a tendência de procurarem estimulantes, como a cocaína e a anfetamina. Por outro lado, o fornecimento de estrogênio para ratas cujos ovários foram retirados pode encurtar o caminho para a dependência. Em 2004, a neurocientista Jill B. Becker, da Universidade de Michigan em Ann Arbor, e seus colegas relataram que as fêmeas de camundongos sem ovário levaram seis dias para começar a se servir repetidamente de infusões de cocaína, enfiando o focinho em um buraco. Em contraste, as que receberam suplementação do hormônio sucumbiram à mesma compulsão após quatro dias apenas. 

Os pesquisadores acreditam que o estrogênio aumenta o risco de dependência por estimular as vias de recompensa do cérebro, enfatizando a sensação prazerosa produzida pela alteração dos estados de consciência. A administração de estrogênio às ratas que tiveram seus ovários removidos aumenta os níveis de dopamina, um neurotransmissor fundamental para a percepção de recompensas, como comida, sexo e drogas.

Entretanto, o estrogênio não age sozinho em mamíferos do sexo feminino. Seu parceiro hormonal, a progesterona, parece opor-se a sua capacidade de deflagrar tendências aditivas. Em 2006, a equipe de Becker relatou que a administração tanto de estrogênio quanto de progesterona para as ratas sem ovários não acelera o consumo obsessivo de cocaína nos roedores, sugerindo que esse hormônio pode ser um antídoto para a influência do estrogênio na busca do prazer. 

Um trabalho mais recente confirma que a resposta das mulheres a drogas varia no decorrer do ciclo menstrual, conforme os níveis hormonais relativos aumentam e diminuem naturalmente. Em um estudo clínico de 2007, a neurobióloga Suzette M. Evans, da Universidade Columbia e do Instituto Psiquiatrico do Estado de Nova York, coordenou uma equipe que descobriu que os estimulantes são muito mais prazerosos para as mulheres durante a fase folicular (período de aproximadamente duas semanas, a contar do início da menstruação até próxima a ovulação, quando o organismo “se prepara” para uma possível gravidez), em comparação com a chamada fase lútea (etapa seguinte do ciclo, após a ovulação, quando o estrogênio e a progesterona estão elevados). 

A percepção da mulher quanto a outros tipos de recompensas – como dinheiro, comida e sexo – e sua relação de desejo, indiferença ou aversão a eles também pode variar durante o ciclo menstrual. Em outro estudo realizado nos Institutos Nacionais de Saúde americanos, há três anos, pesquisadores examinaram o cérebro de mulheres por meio de ressonância magnética funcional (RMf) enquanto elas faziam apostas em máquinas caça-níqueis. Os cientistas descobriram que os circuitos de recompensa das mulheres ficavam mais ativos quando ganhavam prêmios durante a fase de predomínio de estrogênio que durante a fase que se segue, dominada pela progesterona. Ou seja: o fluxo e o refluxo dos hormônios femininos podem realmente ter amplos efeitos sobre a percepção de prazeres e incentivos, influenciando a motivação feminina para se envolver em situações que, em outros momentos, não as atrairia.

Mas o aumento artificial de níveis de progesterona na mulher é capaz de inibir a sensação obtida com as drogas. Durante um estudo, a equipe de Evans forneceu progesterona a 11 usuárias de cocaína quando os níveis naturais do hormônio em seu corpo estavam baixos. As pacientes tratadas relataram uma sensação de diminuição do “barato” em comparação com o que sentiram no mesmo ponto de seus ciclos, na ausência de progesterona adicional. Em contraste, a progesterona não influenciou a experiência subjetiva de usar cocaína nos dez dependentes do sexo masculino testados, embora os pesquisadores não estejam certos do motivo do resultado. Se a progesterona diminui o prazer das drogas, ela poderá auxiliar no tratamento da dependência em mulheres – algo que Evans vem testando atualmente em dependentes de cocaína do sexo feminino. 

Mas os cientistas sabem que o desafio é complexo. Se não fosse pela compulsão pela dose da substância química, bastaria prestar atenção ao calendário para ajudar as mulheres a ter sucesso na desistência do fumo, das bebidas ou das drogas. Em um estudo publicado em 2008, a médica Sharon S. Allen, especializada em medicina familiar pela Escola Médica da Universidade de Minnesota, e seus colegas pediram a um grupo de 202 mulheres fumantes que a metade tentasse parar com o cigarro durante a segunda fase de seu ciclo menstrual, quando os níveis de progesterona são altos, e que a outra metade fizesse a tentativa em fase anterior ao ciclo. Os resultados foram impressionantes: 34% das mulheres do primeiro grupo não voltadoram a fumar 30 dias depois, em comparação com 14% das que tentaram parar quando os níveis de progesterona estavam baixos. “Quando as mulheres fumam no início de seu ciclo, obtêm mais prazer com a nicotina, por isso pode ser mais difícil enfrentar o desafio de deixar o cigarro”, observa Allen. Nessa mescla de hormônios, substâncias químicas do cérebro e compulsão – além de questões emocionais e psíquicas que nem sempre têm como ser mensuradas –, começar ou parar na hora certa pode fazer grande diferença na história de vida de alguém.

CONSCIÊNCIA ALTERADA

O consumo de algumas drogas – conhecidas como psicodélicas ou alucinógenas, como o LSD, a cocaína e o crack – altera profundamente a percepção e a consciência dos estímulos internos e ambientais. Essas substâncias podem estar em plantas, produtos de origem animal ou compostos sintéticos. Sua ação sobre o sistema nervoso central causa três efeitos principais: delírio, ilusão e alucinação. O primeiro ocorre quando a pessoa percebe corretamente um estímulo (sonoro, visual e tátil), mas o interpreta erradamente, ou seja, tem uma percepção anormal dessa fonte. Exemplo: alguém sob o efeito de uma droga ouve a sirene de uma ambulância (percepção correta). Ou ainda: o usuário, ao ver duas pessoas conversando, julga que ambas o estão caluniando ou mesmo tramando a sua morte. Esses são exemplos de delírios persecutórios: o usuário percebe corretamente o estímulo, mas o interpreta de forma equivocada quando sob influência de um psicodisléptico. No caso da ilusão, a percepção de um dado estímulo fica incorreta, e a interpretação dele também é anormal. Em última análise, na ilusão o estímulo é percebido, mas a percepção é distorcida: no caso da sirene a pessoa diz ouvir, por exemplo, uma trombeta celeste. Já a alucinação é uma percepção sem estímulo algum (no exemplo, não há sirene tocando), mas o usuário tem certeza de que a ouve. As alucinações podem ser sonoras, visuais e gustativas, entre outras. Às vezes a pessoa tem a alteração, isto é, ouve o som ou vê algo inexistente, mas sabe que essas percepções não são reais. Nesses casos, o fenômeno pode ser chamado de alucinose, diferindo daqueles em que o usuário acredita que a percepção é real (alucinação) – isto é, que ela existe mesmo.

Disponível em http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/perigo_para_elas.html. Acesso em 08 dez 2012

domingo, 14 de outubro de 2012

Igualdade de gênero na política brasileira pode levar 148 anos

André Cabette Fábio
12 de outubro de 2012

A representatividade feminina nas câmaras municipais do País ainda é pouco significativa. Nas eleições municipais de 2008, das 51.903 cadeiras disponíveis, apenas 6.504 foram ocupadas por mulheres. No pleito deste ano, das 57.365 disponíveis, 7.655 foram ocupadas por mulheres, ou seja, menos de 15%. Segundo o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE), o ritmo é lento e, caso se mantenha, fará com que o Brasil atinja a paridade de gênero em espaços de poder municipais somente daqui a 148 anos. O Global Gender Gap Report, publicado em 2011, coloca o Brasil como o País com a maior desigualdade de gênero na política da América do Sul, ocupando o 87º lugar no ranking geral e a 114ª posição em representatividade política.

O demógrafo destaca que, desde as recomendações da Conferência Internacional das Mulheres de 1995, em Pequim, muitos dos países adotaram com sucesso políticas de quotas. "Argentina, Costa Rica e Cuba; todos passaram para mais de 40% de representatividade feminina. Países da África, como Moçambique e Angola também chegaram perto de 40%", afirma. Ele aponta o funcionamento do sistema eleitoral nesses países como um fator que contribui para o resultado melhor. "Na Argentina, as eleições são com listas fechadas. Se o partido lança 30 candidatos e consegue eleger 10, para cada 2 homens uma mulher será, no mínimo, eleita", explica.

Apesar dos dados, a socióloga da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Fátima Pacheco Jordão afirma que "a melhora é perceptível". E destaca: "É uma evolução da sociedade, com um papel mais importante das mulheres no mercado de trabalho, no sindicalismo e no partido". Para ela, a melhora não é mais expressiva porque o Brasil começou muito recentemente a ter liderança femininas de peso. "Temos agora Dilma e Marina como referências. A Argentina tem Evita Perón há quantas décadas?", exemplificou.

Exigência. Apesar do avanço modesto do número de mulheres eleitas para o legislativo municipal, o Brasil teve um crescimento mais expressivo no que se refere à quantidade de candidaturas femininas, que foi de 21,9% em 2008 para 31,9% do total no pleito deste ano.

O demógrafo credita o salto à mudança do verbo "reservar" pelo "preencher" na Lei 12.034, de 2009, em que se lê "do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo". Para Alves, quando vigorava o termo "reservar" a lei fazia com que, na prática, partidos guardassem as vagas para mulheres mas as preenchessem frequentemente com homens.

Ele vê o resultado do aumento, no entanto, com reservas. E diz que os partidos podem lançar mão dos chamados candidatos laranjas para preencher tal exigência. E cita que coincidentemente cresceu muito o número de donas de casa candidatas. O número de candidaturas de donas de casa deste ano foi em torno de 20 mil, porém, pouco mais de 2% (cerca de 440) foram eleitas. Esta foi a quarta profissão mais listada entre os candidatos.

Para Fátima Pacheco Jordão, as candidaturas femininas são deixadas em segundo plano na distribuição de recursos dos partidos, apesar das mulheres representarem um papel importante em suas estruturas. "São mais do que 50% dos militantes inscritos nos partidos", diz.

Preconceito. José Eustáquio Diniz Alves discorda da ideia de que o brasileiro reluta em eleger mulheres por preconceito. "As pesquisas mostram que o eleitorado vê com bons olhos a candidatura feminina. Geralmente não discrimina, mas não vota em qualquer pessoa; ele não vai votar na Mulher Pêra só porque é mulher". Ele toma o desempenho de Marina Silva e da atual presidente Dilma Rousseff nas eleições presidenciais de 2010 como indícios de que o eleitorado não discrimina mulheres. "O Brasil é um dos poucos países em que 67% dos eleitores votaram em mulheres para a Presidência da República."

Fátima Pacheco Jordão destaca que as duas candidatas tiveram também grande apoio do eleitorado masculino, mesmo na comparação com a candidatura do tucano José Serra. "Muitos homens votaram nas duas. Se o eleitorado fosse só de homens, Dilma teria sido eleita no primeiro turno". Para o sociólogo Hilton Cesario Fernandes, que escreveu sua tese de mestrado sobre as eleições presidenciais de 2010, o voto feminino tende a ser mais moderado do que o masculino. Para ele, Dilma teria recebido menos apoio desse eleitorado não por ser mulher, mas por ser vista como menos experiente do que o candidato do PSDB naquele pleito.

Alves indica a democratização interna dos partidos como a melhor ferramenta para o aumento da representatividade feminina. "O partido que começar a adotar a paridade vai colher bons frutos e os outros partidos terão que fazer o mesmo", diz. No início de setembro, o Partido dos Trabalhadores (PT) foi o primeiro do Brasil a mudar seu estatuto para que 50% de seus cargos de direção sejam ocupados por mulheres.

Disponível em <http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,igualdade-de-genero-na-politica-brasileira-pode-levar-148-anos,944763,0.htm>. Acesso em 13 out 2012.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Solitários prazeres

Cristina Romualdo

Falar sobre masturbação costuma provocar constrangimentos, mesmo nos dias de hoje. Apesar de bem informados muitos homens e mulheres não tratam do assunto com naturalidade, seja na intimidade da relação com seus parceiros ou na educação dos filhos. Sem dúvida, falar sobre assuntos relacionados a sexo ainda é difícil para a maioria das pessoas – e a masturbação é um dos temas que mais provoca inibições. Para melhor entendermos o porquê dessas reações é preciso, em primeiro lugar, definir o significado dessa prática.

A masturbação pode ser entendida como uma excitação, habitualmente rítmica, efetuada com as mãos, na zona genital, própria ou do parceiro, com ou sem orgasmo, segundo o psicólogo Juan Carlos Kusnetzof. Já o médico William Howell Masters e a psicóloga Virginia Eshelman Johnson, que na década de 50 iniciaram pesquisas sobre a sexualidade humana, destacam como um dos aspectos definidores deste comportamento a auto-satisfação sexual obtida não só por meio da manipulação dos genitais, mas também pela estimulação de outras partes do corpo.

Conhecer a evolução histórica da sexualidade humana nos ajuda a desmistificar o tema e a entender o papel da prática no desenvolvimento sexual de homens e mulheres como forma de conhecer o próprio corpo – até para tornar o ato sexual partilhado mais prazeroso.

A palavra masturbação parece ter sua origem na expressão latina manusstuprare, que significa “manchar com a mão”, e sempre esteve, erroneamente, associada ao onanismo. Na verdade, o termo refere-se à prática do coito interrompido. Onan foi um personagem bíblico cujo irmão morreu sem ter tido filhos no casamento. Segundo costume do povo hebreu, o irmão que sobrevivia tinha a obrigação de se casar com a viúva para lhe dar filhos. Onan cumpriu a lei, mas por um motivo desconhecido praticava o coitus interruptus, ejaculando fora da vagina da parceira. Por isso, Deus o teria castigado – não por ter se masturbado e sim por não ter fecundado a mulher de seu irmão.

Desde os primórdios da humanidade, muitos mitos surgiram em torno do ato masturbatório e foram transmitidos de geração a geração. Alguns perderam-se ao longo do tempo, mas outros são mantidos até hoje. É o caso, por exemplo, da crença de que a masturbação freqüente traria aos jovens problemas sexuais no futuro; ou ainda, de que a produção de sêmen é limitada e, se esse “estoque” for gasto, o homem não poderá ter filhos. Para compreendermos como falsas concepções foram associadas à prática é necessário contextualizá-la nas diferentes épocas históricas, vislumbrando o cenário no qual se inseria.

Na Antigüidade, festivais egípcios celebravam a vida garantida pelos rios Nilo, Tigre e Eufrates. Nesses rituais, atribuía-se o poder da criação aos deuses e se creditava a eles a capacidade de manter a água corrente, fertilizando as terras por meio da masturbação – um ato considerado sagrado.

ENTRE MULHERES

Já os gregos não viam na prática nenhuma ligação com as divindades, mas também não a tinham como pecaminosa: acreditavam ser um comportamento natural, praticado mais pelas mulheres do que pelos homens, pois naquela cultura, em geral, havia pouco interesse dos homens em ter relações com suas companheiras, a não ser que fosse para gerar herdeiros. Portanto, não cabia a elas nenhum tipo de satisfação sexual, daí a idéia de que buscavam prazer pela masturbação praticada por elas mesmas ou por outra mulher.

Na Idade Média a Igreja Católica conquistou não apenas enorme poder econômico e político, como também predominância ideológica, instituindo mentalidade teocêntrica. Nesse período, em geral somente os padres eram alfabetizados e mantinham o controle das bibliotecas. Conseqüentemente, delimitavam o conhecimento ao qual a população em geral teria acesso. O matrimônio, nessa época, era recomendado pela Igreja por duas razões principais: por propiciar a única situação em que os filhos podiam ser concebidos sem a mácula do pecado e por manter os homens mais “regrados” e distantes de práticas consideradas pecaminosas – como homossexualidade, sexo anal ou oral, zoofilia e masturbação.

Já na Idade Moderna, época de grandes descobertas científicas, o poder sobre o conhecimento passou para as mãos dos médicos e a ciência se colocou a serviço da moral e de questões sociais. A masturbação era vista como atentado contra a humanidade, pois persistia a idéia de que ao “desperdiçar” o sêmen, a perpetuação da vida era impedida. No final do século XIX, uma outra forma de entender o homem e, conseqüentemente, sua sexualidade começou a se delinear. Neurologistas e psiquiatras apresentavam suas concepções sobre o funcionamento mental humano e a sexualidade passou a ser compreendida não apenas em seu aspecto físico, mas também psíquico.

Sem dúvida, o maior representante dessa nova forma de conceber as manifestações sexuais foi Sigmund Freud. Ele demonstrou interesse pelo tema da masturbação em 1892, buscando compreender o papel dessa atividade na vida do indivíduo, sua relação com os distúrbios psíquicos e questionando se a prática poderia originar traumas sexuais. Freud não via a masturbação como um vício a ser eliminado por meio de tratamento, mas a entendia como um comportamento inerente ao desenvolvimento sexual, que traria danos ao indivíduo, somente se sua estrutura psíquica já fosse propensa a distúrbios. Contudo, também acreditava que sua continuidade na vida adulta levaria à diminuição da potência sexual.

Em 1920, Wilhelm Stekel, colaborador de Freud até uma década antes, publicou o livro Impotência masculina – Perturbações psíquicas na função sexual do homem, no qual afirma que a masturbação, em si, não causa dano à saúde física ou psicológica. Tal atividade só provocaria distúrbios neuróticos que poderiam afetar o desempenho sexual quando vivenciada com culpa e sentimentos de autopunição provocados por proibições morais e religiosas.

Essa nova visão da sexualidade, que se afastava de uma óptica moralista e procurava se aproximar de uma concepção anatomofisiológica do funcionamento sexual, contribuiu para que surgisse uma proposta de tratamento para as disfunções sexuais, desenvolvida por Masters e Johnson no fim da década de 50. A proposta terapêutica baseava-se em uma seqüência de tarefas prescritas aos pacientes, cujo objetivo era devolver a eles a capacidade de concretizar, satisfatoriamente, a relação sexual. Posteriormente, a sexóloga Helen Singer Kaplan utilizou técnicas de compreensão psicodinâmica da problemática sexual, procurando identificar resistências intrapsíquicas e motivações inconscientes, bem como problemas de relacionamento conjugal que poderiam originar disfunções sexuais.

O psiquiatra e antropólogo Phillippe Brenot sintetiza bem a evolução pela qual a prática masturbatória passou ao longo da história da humanidade, em seu livro Elogio da masturbação. De pecado a ser condenado e doença a ser tratada, o ato transformou-se em recurso utilizado por especialistas para melhor conhecer a sexualidade humana e, cada vez mais, tem se tornado aceito como comportamento inerente ao desenvolvimento sexual saudável – que permitiu avanços científicos no estudo da sexualidade humana.

DURANTE A PUBERDADE

A primeira observação de espermatozóides num microscópio, feita no século XVII pelo holandês Anton van Leeuwenhoek, por exemplo, só foi possível graças à masturbação. Masters e Johnson conseguiram descrever a fisiologia da resposta física sexual graças a pessoas que consentiram em participar do estudo – se masturbar. E, por fim, tanto o exame de espermograma como a fecundação in vitro, usados respectivamente para diagnosticar e para contornar problemas de esterilidade, utilizam o esperma obtido pela masturbação.

A prática costuma ocorrer em diferentes fases do desenvolvimento humano. Na infância, é entendida como manipulação que assume caráter de autoconhecimento. Nesse processo descoberta de si, os pequenos buscam repetir as vivências prazerosas e evitar as que causam algum tipo de sofrimento, seja ele psíquico ou físico. Com a exploração do próprio corpo a criança descobre as regiões que lhe dão prazer ao serem tocadas. Sensações e emoções experimentadas durante essa exploração servirão de base para vivências sexuais futuras. Nessa fase, ela ainda não tem a mesma capacidade do adulto para compreender o que faz e por que o faz; não consegue identificar o toque em seus genitais como prazer erótico; não tem intenção de se estimular sexualmente. Se há algo de errado nessa situação é somente aos olhos do adulto que, confrontado com as próprias questões sexuais, pode se incomodar com a atitude da criança. Na verdade, podemos dizer que, nessa etapa, ela apenas se manipula para obter satisfação – esse ato somente se transformará de fato em masturbação quando atingir a puberdade.

Na adolescência, as alterações hormonais levam ao amadurecimento dos genitais, provocando novas sensações, o que intensifica a busca de prazer por meio da estimulação do próprio corpo. A maior conquista dessa fase é a aquisição do pensamento abstrato, o que possibilita o uso de fantasias como fonte de excitação sexual. Neste sentido, a masturbação antecipa a realidade no plano imaginário, abrindo caminho à concretização de futuras relações afetivo-sexuais e favorece o processo de amadurecimento sexual.

Ainda é muito comum ouvirmos homens e mulheres afirmando, equivocadamente, que a masturbação só é praticada por adultos que não têm vida sexual ativa, pois ainda prevalece a crença generalizada de que o amadurecimento do indivíduo leva à primazia e à exclusividade do ato sexual. Entretanto, não há nenhum motivo que justifique tal concepção; cada prática traz diferentes sensações prazerosas, não excludentes entre si.

Em geral, o início da vida a dois é cheio de novidades e existe muita energia para ser investida no relacionamento sexual. Nesta etapa da vida, a masturbação solitária pode tornar-se para alguns uma atividade rara. Contudo, é possível se beneficiar dessa prática por meio da estimulação mútua, o que pode ser um interessante instrumento de descoberta erótica para o casal, pois permite que cada um dos parceiros conheça melhor o corpo e a sexualidade um do outro.

UM JEITO DE APRENDER

Uma outra situação na qual a masturbação costuma ser utilizada como forma de manter a atividade sexual é quando um dos parceiros adoece ou sofre acidente que o impossibilite de ter relações de maneira convencional. Tal incapacidade não implica, necessariamente, privação de prazer para o casal. Na velhice, a manutenção do comportamento também costuma ser muito saudável.

Há ainda um longo caminho a ser percorrido para que as pessoas possam reconhecer a masturbação não apenas como uma manifestação sexual, mas também como um processo de aprendizado que o indivíduo tem sobre si mesmo.

Afinal, a excitação se apresenta com inúmeras variedades de ritmos e intensidades; está presente a todo o momento em nossa vida: por exemplo, ao saborearmos um alimento gostoso; ao ouvirmos um som suave; ao inspirarmos um aroma agradável; ao apreciarmos a beleza da natureza; ao sentirmos o calor do contato da pele de uma pessoa querida. Com a masturbação não é diferente, o ato possibilita a descoberta da própria sexualidade, por meio da experiência do auto-erotismo. Quando praticada sem culpas ou temores, fortalece a autoconfiança, eleva a auto-estima e proporciona o autoconhecimento.
- Muitas vezes vista como pecado ou doença ao longo da história, a masturbação transformou-se em recurso usado por médicos e especialistas em saúde mental para melhor compreender a sexualidade humana, desmistificar o tema e entender o papel da prática no desenvolvimento sexual.

- Segundo o psicólogo Juan Carlos Kusnetzof, a masturbação pode ser entendida como excitação sexual provocada por movimentos ritmados na zona genital.

- Freud questionou a relação do comportamento com os traumas sexuais, como se julgava no fim do século XIX (e até hoje ainda se acredita em alguns meios). Para ele, não se tratava de “vício” a ser curado, mas sim de comportamento inerente ao desenvolvimento sexual, que somente traria danos ao indivíduo se sua estrutura psíquica já fosse precocemente propensa a distúrbios.

Durante muito tempo predominou a intensa preocupação com a sexualidade – e principalmente com sua repressão. Nesse contexto, a masturbação deveria ser evitada a qualquer custo, até mesmo com o uso de trajes que dificultassem a prática. Ao analisar as formas de exercício de poder, o filósofo francês Michel Foucault ressaltou que no século XVIII a Igreja Católica cedeu, gradativamente, seu lugar ao saber médico e o corpo humano tornou-se objeto de novas técnicas de controle: além de culpabilizar aqueles que se deleitavam com a manipulação dos próprios genitais, o saber dominante os ameaçava com os mais terríveis prognósticos a respeito de sua saúde física e mental. No Dicionário das ciências médicas, de Serrurier, considerado obra de referência do início do século XIX, “o jovem masturbador” era descrito como um ser de “pele terrosa, língua vacilante, olhos cavos, gengivas retraídas e cobertas de ulcerações que anunciavam uma degeneração escorbútica. Para ele, a morte era o termo feliz de seus longos padecimentos”.

“Pode-se falar em um retorno terapêutico à masturbação. Muitos, como eu, terão efetuado a experiência que representa um grande progresso quando o paciente, no decorrer do tratamento, volta a se permitir a masturbação, ainda que sem a finalidade de permanecer nessa fase infantil”, escreveu Sigmund Freud, em 1912.

Ainda hoje, na clínica, relatos de pacientes referentes a masturbação freqüente aparecem vinculados não só à vergonha, mas também à culpa. Tocar de forma erotizada o próprio corpo expressa a busca do prazer – sem o álibi da reprodução ou do ímpeto de satisfazer o desejo do outro – e revela o caráter subjetivo da sexualidade. Já a culpa decorre do reconhecimento, ainda que a contragosto, da lei à qual somos subordinados e se insere numa dimensão simbólica. No caso da masturbação, é preciso assinalar a estreita relação da culpabilidade com o mito da impossibilidade de gerar descendentes. A culpa sempre traz a impotência: haja vista o gesto simbólico de “lavar as mãos”, praticado por personagens (fictícios ou não) assolados por esse sentimento, como Lady Macbeth e Pilatos. O ato “limparse” também pode ser associado à idéia de que há algo de muito sujo no próprio sexo.


Masturbação. C. Romualdo. Expressão e Arte Editora, 2003.

Elogio da masturbação. P. Brenot. Rosa dos Tempos, 1998.

A pré-história do sexo. T. Taylor. Campus, 1997.

Disponível em <http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/solitarios_prazeres.html>. Acesso em 03 out 2012.